Ao persistir com a intervenção neutra no mercado de câmbio o BC deixa evidente o seu intuito de dar sustentação à taxa cambial, de vez que supre a carência de liquidez mas não tem nenhuma contundência no sentido de eliminar a disfuncionalidade que vem sendo apresentada pela taxa cambial.
Este tipo de intervenção massivamente utilizada, sem a prévia eliminação do desequilíbrio do preço do câmbio consequente da carência de fluxo cambial positivo que assegurasse a liquidez, deu sustentabilidade à manutenção da taxa cambial em patamar excessivo.
Tema controverso que envolve muitas sutilezas nos impactos na formação do preço do câmbio, na maioria das vezes imperceptíveis de imediato ou acobertado por atribuição do fato (a disfuncionalidade) a outros fatores, em especial externos com ênfase para o embate comercial sino-americano, tem provocado uma leitura errática a respeito da efetiva situação cambial do Brasil, dando a impressão de que o país tem problema cambial quando o ambiente efetivo deixa evidente que não há presente nenhum risco em torno desta questão.
O Brasil não tem e não tem razões para preocupações em torno da sua tranquilidade na questão cambial, a despeito de neste ano vir sofrendo uma expressiva queda no fluxo cambial, que, contudo não compromete a solidez do país neste segmento.
O BC tem todos os instrumentos operacionais e o país volume considerável de reservas para desenvolver estratégias com a finalidade de evitar maiores alardes e repercussões e disfuncionalidades na formação do preço do câmbio, que só ocorre e vem sendo mantida pela estratégia adotada pelo BC que não visa corrigir a disfunção, mas sim dá a mesma a sustentação.
A rigor, ainda que empiricamente, é possível admitir-se que se o BC houvesse adotado estratégia inicial corretiva da disfunção com leilões únicos de moeda à vista para coibir pontualmente a carência de fluxo positivo e prover de equilíbrio a oferta/demanda, para posteriormente passar às intervenções neutras, o preço da moeda americana estaria no em torno de R$ 4,00.
O mercado de câmbio vem convivendo desde agosto com as intervenções fortemente predominantes na estratégia neutra, e desta forma o BC já vendeu algo como US$ 24,0 bi das reservas cambiais brasileiras, sem ter reposicionado o ambiente da formação da taxa cambial ao equilíbrio.
Naturalmente a taxa cambial “pode” sugerir alguns benefícios pontuais, mas inegavelmente pode acarretar impactos indesejáveis nos preços relativos da economia, além da transfiguração do ambiente em preocupante e sugestivo de problemas onde efetivamente não existe nenhum.
Ocorre que a economia brasileira passou a dar efetivos sinais de melhora generalizada, se bem que com números discretos, mas efetivamente na direção certa, e este fato relevante muda a percepção de atratividade pelo país, ainda em perspectiva, dos investidores estrangeiros, e já vem motivando o setor privado interno a retomada de investimentos, com geração de empregos e renda.
Na medida em que as perspectivas econômicas para o país de revitalizam, as pressões normais sobre a formação do preço do câmbio no país se acentuam, fazendo com que sucumba a estratégia de sustentação da taxa cambial pela estratégia do BC, o que permite a ilação de que não seria pretensiosa uma projeção de dólar abaixo de R$ 4,00, se este tipo de intervenção neutra viesse a ser interrompida e a autoridade a restringisse, até que o fluxo cambial se recomponha, as intervenções a leilões meramente de moeda à vista.
A percepção atual é de que, mesmo com a intervenção neutra do BC no câmbio, a taxa cambial poderá romper esta estratégia de sustentação do preço e ainda, neste mês de dezembro, aproximá-la ao preço de R$ 4,00, com viés de baixa.
É relevante que ocorra a adequação do preço do câmbio à efetiva situação do país, de vez que deve ser evitada a contaminação do mesmo aos preços relativos da economia, o que até recentemente era mitigado pela incapacidade da atividade econômica “permitir” esta ocorrência, que agora com a retomada mais evidente pode ocorrer e será lamentável se a curva inflacionária se inverter para alta antes que a economia realmente engrene a dinâmica sustentável da recuperação.
Dezembro poderá trazer o necessário ajuste ao preço da moeda americana no nosso mercado, sendo necessária observação sobre a retomada do fluxo cambial positivo, que permitirá o afastamento do BC do mercado com suas intervenções e a formação do preço será necessariamente mais real e efetiva.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO