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Disfuncionalidade no câmbio será resistente enquanto perdurar a intervenção neutra

O mercado de câmbio brasileiro ressente-se de fluxo cambial positivo e sinaliza que precisa de liquidez à vista fornecida pela autoridade monetária, o BC, desde agosto.

Pontualmente, liquidez à vista, somente isto, simples assim.

O BC então deu início a sua intervenção naquele mês, porém o fez de forma inapropriada ao buscá-la “neutra”, ou seja, dando liquidez mas não desejando interferir na formação da taxa conjugou a oferta de moeda à vista com a oferta de swaps cambiais reversos.

A formação do preço em razão desta estratégia do BC acabou perpetuando a disfuncionalidade, e ficou fora do parâmetro da razoabilidade face ao contexto brasileiro, deixando a perspectiva de fechamento do ano que fora R$ 3,80, passando-a para R$ 4,00, considerado equilibrado e conforme com o “status quo” e avançou face à disfunção para além dos R$ 4,20.

Esta opção estratégica deu liquidez, mas ao mesmo tempo deu sustentabilidade à manutenção da disfuncionalidade, que resultou não combatida e sim sustentada, por isso a oferta de volume em torno de US$ 23,0 Bi de dólares à vista não foi capaz de sensibilizar a formação do preço, mesmo sendo montante superior ao déficit do fluxo cambial, pois a oferta conjugada de swaps cambiais reversos impedia o efeito corretivo do preço.

Esporádica e raramente quando a pressão sobre a formação do preço se demonstrou intensidade realizou oferta simples de moeda à vista, isto mais recentemente.

Ficou inclusive a percepção de que a taxa mais desvalorizada atendia objetivo do governo, a partir de ilações decorrentes de declarações de membros do governo salientando a menor importância do fato, justificando-o com o novo cenário de juro baixo e a não preocupação inflacionária tendo em vista que a baixa atividade econômica impedia o repasse aos preços relativos da economia.

Isto acabou por criar desnecessários ruídos inoportunos e inadequados como se o país estivesse convivendo com uma crise cambial.

Um absoluto paradoxo para um país que detinha reservas cambiais robustas da ordem de US$ 380,0 Bi e toda uma gama de opções operacionais capazes de manter o mercado de câmbio brasileiro imune à grande maioria de fatores internos e externos com potencial de distorcer a formação do preço.

Tecnicamente este cenário que contribui e contribuiu para a elevação do preço da moeda americana no nosso mercado parece absolutamente procedente e fundamentado, embora, como contumaz, se procure atribuir a causas alheias às nossas mazelas as causas, como dar peso elevado à disputa comercial sino-americana, que afeta mas não é a causadora da disfuncionalidade excessiva no preço.

Evidentemente que a nossa balança comercial sofreu efeitos relevantes e teve forte redução, em especial pela queda das exportações, o que determinou a expansão do déficit em transações correntes de 0,91% em junho para conhecidos atuais 3,0%, mas que não foi capaz de afetar o nosso conceito de risco CDS que se mantém avaliado em torno de 124 pontos.

Também é notório que houve um interregno entre a forte saída de recursos estrangeiros especulativos e que ainda perdura tendo em vista que os capitais estrangeiros de melhor qualidade ainda não confirmaram a esperada retomada a atratividade pelo Brasil, mas não é algo fora do foco, já que a economia demonstra, ainda que lenta, recuperação e ganho de tração para o ano de 2020.

No nosso entender, a taxa cambial no em torno de R$ 4,20 continua disfuncional em relação à efetiva situação do país, e entendemos também que ainda é tempo do BC suspender sua intervenção “neutra” e reforçá-la com leilões somente de moeda à vista ao longo deste mês de dezembro, para eliminar esta disfuncionalidade causada pela carência de fluxo, que cabe a autoridade monetária sanar sendo que para tanto detém as reservas cambiais e é a guardiã da moeda nacional.

Uma vez, equacionada a taxa cambial no preço considerado fundamentado e razoável no em torno de R$ 4,00, o BC poderia então retomar a intervenção na forma neutra, mantendo-a até que o fluxo cambial evidencie recuperação positiva, o que se espera para breve com o PIB confirmando o crescimento para este ano em 1% e perspectiva sustentável em 2%, no mínimo, para 2020, conduzindo o Brasil à retomada da atratividade aos investidores externos.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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