O fluxo cambial da semana entre o dia 13 e 17 deste mês apresentou sensível melhora no segmento comercial apontando aumento no saldo do mês de US$ 7,084 Bi, ancorado em ingressos de Pagamentos Antecipados, típicos do período de exportação de safra, da ordem de US$ 6,399 Bi, e acumulando no mês o total de US$ 7,240 Bi e neste ano positivo US$ 11,8 Bi.
É muito provável que maio seja o último mês com saldo robusto do segmento comercial, e, a partir de junho já tenhamos saldos menores ou até negativos como ocorreu o ano passado, dado o aumento das importações de insumos e produtos acabados. No ano de 2012 o fluxo cambial comercial registrou saldo de US$ 8,373 Bi, tendo acumulado US$ 21,096 Bi até maio e depois todos os demais meses foram negativos totalizando US$ 12,722 Bi.
Não se nutre otimismos, também, a respeito do desempenho do saldo da balança comercial este ano. O governo trabalha com a projeção de US$ 15,0 Bi e o mercado financeiro tem perspectiva bem menos expressiva projetando US$ 9,0 Bi com viés de baixa. No acumulado do ano até abril a balança comercial está negativa em US$ 6,2 Bi.
O fluxo financeiro continua sem brilho e no período de 13 a 17 último foi negativo em US$ 583,0 M, registrando no mês fluxo positivo de US$ 121,0 M e neste ano negativo em US$ 3,089 Bi.
Não há grande expectativa de recuperação do fluxo financeiro para o Brasil este ano. Perdemos atratividade por razões sobejamente conhecidas.
O déficit em transações correntes já demonstra tendência preocupante com a expansão muito rápida. O governo projeta esta rubrica em 2013 com déficit de US$ 67,0 Bi, enquanto o mercado financeiro já coloca sua projeção em US$ 70,5 Bi, com viés de alta.
E, esta perspectiva de agravamento do saldo deste déficit ganha força com o resultado de abril que registrou mais um relevante montante de déficit de US$ 8,3 Bi, pior resultado histórico da série iniciada em 1947.
Há extrema necessidade de uma análise e controle pelo governo do uso classificatório da rubrica turismo que registrou saídas de US$ 2,116 Bi em abril. É imperativo otimizar a transparência de dados, pois, segundo consta, compras de produtos na Amazon, Best Buy e muitos outros, com destaque para a Sears que quando identifica o IP do Brasil já alerta “enviamos para o Brasil”, são registradas na conta turismo. Afora isto, analisar mais detidamente as razões que isentam de IOF os cartões de crédito carregados no Brasil e tributam os gastos com cartões de crédito pós-pagos. É bastante provável que nem tudo que passa por esta rubrica seja turismo. Não vemos mérito nesta discriminação tributária.
É notório que o “status quo” evidenciado e em perspectiva indica crescimento da necessidade de financiamento externo para o país, caso contrário teremos que sacar das reservas cambiais.
Os bancos que viraram o ano com um montante de posição vendida no mercado à vista de US$ 6,0 Bi, ao que tudo indica, com o saldo do fluxo cambial alcançado na semana entre 13 e 17 deste mês, devem ter pela primeira vez no ano ficado com posição comprada em torno de US$ 2,7 Bi.
Se observarmos foi no período de 9 a 15 que a taxa cambial revelou discreta apreciação do real, período coincidente dos ingressos dos Pagamentos Antecipados com liquidações registradas entre 13 a 17 passados.
O fato de ter retomado a linha de alta é evidência de que a melhora passageira do fluxo não foi suficiente para resolver a escassa liquidez presente no mercado de câmbio, e, nem retirar as preocupações com as perspectivas pouco otimistas quanto ao ingresso de recursos para o país este ano.
A declaração do Ministro Mantega de que o fluxo cambial está bem, foi para valer-se da oportunidade de chamar atenção para o mesmo, no exato momento em que pela vez primeira revela um saldo positivo mais expressivo, mas, na realidade, não há situação de conforto decorrente deste resultado pontual, a perspectiva para o mesmo sugere preocupação.
Por outro lado, num ambiente em que há apostas de que o BC precisa elevar a SELIC em 0,50% na reunião deste mês, e já se questiona se não será necessário chegar ao final do ano acima dos 8,25% que tem sido o prognóstico mais frequente, para conter a pressão inflacionária, e, ao mesmo tempo “administrar” o preço da moeda americana para que não seja um estimulo a mais para a inflação, o Ministério da Fazenda e o Planejamento anunciaram ontem mais gastos públicos para estimular o consumo e o investimento, e, afrouxamento fiscal que foi reduzido dos planejados R$ 108,1 Bi de superávit primário ao início da elaboração do orçamento, para R$ 63,1 Bi.
No nosso entender o quadro fica cada vez mais complexo, e ante o “dilema de Sofia”, o governo parece que persistirá no intento de promover ao mesmo tempo a contenção da inflação e incentivar o crescimento, o que nos parece absolutamente inviável e poderá transformar 2013 em mais um ano de crescimento pífio e inflação alta.
O fundamento de preço da moeda americana em alta cada vez mais se fortalece, e, o BC, certamente, encontrará muitas dificuldades para reverter este quadro com as “terapias frequentes”.
Muito embora consideremos de relativo impacto na formação do preço do dólar no nosso mercado, havendo a prevalência maior de outros fatores que afetam diretamente o país, a redução gradual do programa de incentivos americano teve sinalização firme no discurso de Ben Bernanke, ontem, e hoje provoca forte movimento de reposicionamentos nas aplicações no mercado internacional.
Não bastasse isto, o fato do índice dos gerentes de compra (PMI) industrial da China revelou queda de 50,4 pontos para 49,6 pontos, o que evidencia contração de expansão da atividade, agrega pressão nos mercados internacionais, principalmente nos contratos de commodities.