Os sinais de melhora da atividade econômica americana tem suscitado, sem consenso entre os FED´s regionais, a possibilidade do inicio da redução do programa de incentivo do governo, que envolve a compra de ativos da ordem de US$ 84,0 Bi mensalmente, e, como consequência desta eventual ocorrência o dólar vem sustentando movimento de valorização perante as demais moedas globais.
No Brasil tem-se procurado relacionar o fato com a atual depreciação do real, face aos impactos que, ao confirmar-se, determinará na liquidez presente no mercado internacional.
Oportuno, então, se faz questionar-se um ponto muito importante nesta questão: o Brasil foi aquinhoado com grandes fluxos de recursos externos decorrentes deste programa americano? A resposta é não.
O governo brasileiro anteviu a ocorrência de “tsunamis” de recursos externos para o Brasil, criou blindagens tributárias para impedir o fluxo de curto prazo, mas na realidade o país não foi brindado com fluxos generosos de recursos oriundos da expansão de liquidez promovida pelo programa americano.
E são demasiadamente conhecidas as razões.
Não se constitui novidade que o Brasil perdeu atratividade dos investidores estrangeiros, que passaram a ponderar com maior intensidade as fragilidades do país e menos as suas decantadas virtudes. Inflação elevada; crescimento em ritmo baixo; indústria fragilizada; perda de ritmo do “boom” das “commodities”; perspectiva de elevação do déficit em transações correntes; deficiências estruturais que comprometem a competitividade do país; orçamento fiscal apertado; carga tributária elevada e perspectiva zero de realização de efetiva reforma; surgimento de novas oportunidades mais atraentes em países emergentes, etc.
Os recursos especulativos também não fluíram para o país, seja pelas barreiras tributárias e operacionais colocadas pelo governo, seja pela queda da taxa de juro, que era excepcionalmente elevada para um país “investment grade” e por isso atraia investidores unicamente focando rentabilidade.
Observado este contexto, não nos parece legitimo apontar-se a possibilidade de redução gradual do programa americano em decorrência da melhora de sua atividade econômica, que provoca valorização do dólar no mercado internacional, como causa da valorização do preço do dólar no nosso mercado de câmbio, que não foi beneficiário dos fluxos consequentes daquele programa.
O país não perderá recursos, simplesmente pelo fato de que não vieram para cá.
O Brasil sofre neste momento de uma “ressaca” de fluxos de recursos estrangeiros, e isto de recursos financeiros tanto quanto de recursos de comércio exterior, já que está ficando para trás o “boom” das “commodities”, em especial minerais, mas também das agrícolas. Por outro lado, a indústria nacional está sem competitividade no exterior, por inúmeros e diversificados fatores, e a tendência é cada vez importarmos mais insumos e produtos acabados.
E vale destacar que isto ocorre quando o mercado internacional convive com excepcional nível de liquidez promovida pelos programas americanos, japonês e recursos oriundos da eurozona que buscam rentabilidade face à queda do juro naquela região.
É preciso que “observemos” com maior intensidade o nosso cenário, para que se identifiquem causas locais e próprias do Brasil que pressionam o preço da moeda americana no nosso mercado, e que já requerem atenção maior, como o crescente déficit em transações correntes, que está com a luz “amarela” piscando já nesta época do ano, com parcas possibilidades de recuperação.
É importante observar que a aparente sinergia entre o movimento externo e interno do dólar é só aparente, mas permite que se atribua aos fatores externos a causa do que eventualmente não desejamos ver com maior acuidade em relação ao Brasil.
Não é razoável imaginar-se que este parâmetro de taxa seja de conforto para o governo, que aparentemente a está consentindo, mas, certamente, deverá intervir forçando a apreciação do real, salvo se surgir uma solução de mercado nos próximos dias.
Não se pode imaginar ambiguidade por parte do governo, pois se o BC afirma forte vigilância sobre a inflação, o que está sugerindo que possa elevar até 0,50% na SELIC na reunião do COPOM deste mês, não se pode admitir tolerância com alta no preço do dólar, mesmo com os fundamentos do mercado apontando para esta tendência.