O mercado de câmbio está absolutamente estressado pelas incertezas que o rondam, após ter ficado bastante evidente que as medidas liberatórias ao ingresso de recursos externos no país foram tardias, e, por isso não estão atraindo ingresso de divisas como o país requer para que sejam reformuladas as expectativas.
Há, no momento presente, uma saraivada crítica à política econômica brasileira, interna e externamente, com foco acentuado na política fiscal expansionista num ambiente que sugere contenção face às pressões inflacionárias, o que pode comprometer seriamente o superávit primário e com reflexos amplamente negativos nos conceitos de risco.
O quadro vem revelando, na percepção do mercado financeiro, um desencontro de alinhamento de propósitos entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central do Brasil.
As projeções atuais para o ano indicam crescimento da economia cada vez mais baixo, inflação em alta, juros em alta, déficit em transações correntes crescente, superávit primário abaixo do desejado pelo governo, e preço de dólar ainda comportado em torno de R$ 2,10, que já parece fora do ponto.
No câmbio, o risco posto em perspectiva é que o país não consiga captar volume de recursos externos suficientes para financiar o déficit em transações correntes, o que obrigaria o governo a utilizar parte das reservas cambiais num ambiente de difícil reposição futura. Este cenário sustenta a projeção de alta do preço da moeda americana em perspectiva.
E, o sentimento, é que isto ocorre em razão direta da mudança de atitude dos investidores estrangeiros que, já faz algum tempo, passaram a avaliar o Brasil mais por suas potenciais fragilidades do que pelas virtudes anteriormente enaltecidas.
E, embora tenha havido tempo para medidas proativas visando contornar este quadro perceptível, o governo, seja pelo MF, seja pelo BC, foi extremamente retardatário para desobstruir as barreiras tributárias que havia imposto ao ingresso de capitais estrangeiros no país a partir de 2011.
Como estas medidas não foram adotadas enquanto havia um ambiente menos crítico ao país e não estavam em foco mudanças no programa americano de incentivo à sua economia, só ocorrendo neste mês, a resultante é a baixíssima expectativa de que os fluxos de recursos externos para o país melhorem, havendo mesmo a percepção de que tendem a se agravar com o movimento inverso de saída.
Contudo, após o governo ter complementado a desoneração do IOF de 6% sobre os ingressos de recursos externos direcionados à renda fixa, que não teve efeito de atrair capitais de qualidade de longo prazo, com a desoneração do IOF de 1% sobre o mercado de derivativos, que não teve também efeito imediato de atrair capitais de baixa qualidade, a expectativa é que o capital especulativo ainda possa vir para o país, dependendo da decisão do FED americano sobre o momento em iniciará a redução do programa de estímulos.
A expectativa presente é de que se o FED seja mais claro em seus posicionamentos e na hipótese de sinalizar que o programa não será alterado de imediato, os investidores estrangeiros focados na especulação possam montar operações de “carry trade” e direcionar os recursos para o Brasil, promovendo aumento de fluxo cambial para o país.
Desta forma, passou-se a admitir que nesta próxima quarta-feira, quando ocorrerá a reunião do FED, seja possível formar-se um melhor cenário quanto ao comportamento do preço do dólar no curto prazo no Brasil.
Todavia, ao que consta e noticiada pela mídia, com a manifestação de dirigente importante do BC de conforto com o preço da moeda americana entre R$ 2,10 a R$ 2,15, voltou a acentuar-se a demanda por “hedge” no mercado futuro o que contaminou a taxa cambial do mercado a vista que chegou a atingir R$ 2,1780, já que fragilizou a ideia de que se tenha, pelo menos no curto prazo, taxa cambial mais baixa, com eventual fluxo de capitais especulativos.
Como, por enquanto, a demanda é por “hedge” no mercado futuro, o BC realizou oferta de “swaps cambiais” de curto prazo, 1º/8 e 2/9 no final do expediente, e colocou 39.100 contratos dos 40.000 ofertados, num total de US$ 1,95 Bi, e com isto conseguiu conter a alta e provocando um discreto recuo.
Mas, a volatilidade deve persistir forte, com o viés de alta se sustentando, até pelo menos quando se tenha um posicionamento mais claro por parte do FED americano, que poderá interromper esta tendência se deixar a perspectiva de que ainda há tempo para o capital especulativo vir ao Brasil.
Será natural esperar-se novas ofertas de “swaps cambiais” pelo BC para atenuar a pressão altista.
É notório o empenho que vem sendo desenvolvido pelos dirigentes do BC em vários eventos esta semana, focando amenizar o contexto negativo prevalecente no mercado financeiro, mas é preciso que as autoridades evitem manifestações sobre tendências de preço de ativos, já que têm grande capacidade de influir nas mesmas.
É preciso muito cuidado com o câmbio, pois o momento é adverso para o país em termos de fluxos, e se não houver monitoramento sobre o seu preço, poderá ser o grande vilão que neutralizará os efeitos das elevações da Selic objetivando a contenção da inflação.
Atualmente, é um pouco irreal admitir-se que os preços das “commodities” em baixa têm em contrapartida um dólar com preço mais elevado, pois a nossa economia absorve insumos na produção industrial em grande monta importados, além dos bens finais de consumo que já ocupam grande percentual no atendimento da demanda interna.