O governo brasileiro notoriamente foi retardatário nas decisões de retirada das barreiras tributárias que desestimularam o ingresso de recursos externos no país, seja por ter subestimado os sinais de perda de atratividade por parte do Brasil, seja por não tê-los percebido com acurácia, e com isto ter perdido o momento que ainda era menos desfavorável.
As declarações do Presidente do BC, Alexandre Tombini, transcritas pelo jornal Valor, edição de hoje, corroboram com este sentimento: “mesmo o Brasil não tendo fluxo relevante de capitais de curto prazo e não tendo sido um dos países mais privilegiados com o ingresso de recursos externos nos últimos dois anos, a elevação da taxa de juros americana e a valorização do dólar no mercado internacional faz “as curvas aqui sofrerem”. Fica claro que prudencialmente o governo deveria ter agido pro ativamente.
Contudo, na pior das hipóteses o Brasil ainda deve ser atrativo, pelo menos, ao capital especulativo, já que retomou a elevação da Selic, e, em perspectiva, deve continuar a elevá-la.
Não acreditamos, já tendo havido evidência deste fato, que o capital de qualidade tenha possibilidade de retornar ao país, muito pelo contrário, neste momento a tendência é de saída, mas o capital especulativo pode encontrar atrativo para vir ao nosso mercado e obter rentabilidade com arbitragens, agora sem o IOF nos derivativos.
Entretanto, como este capital especulativo é forjado em grande monta a partir das operações de “carry trade” aproveitando o baixo custo do juro externo e ampla liquidez, para que o processo de direcionamento para o Brasil seja implementado será necessário que o FOMC americano dê algum sinal de posicionamento a respeito do programa de incentivo americano, sua continuidade ou o início da sua redução e a forma, para que os especuladores possam montar ou não suas estratégias.
O melhor cenário para o Brasil seria uma sinalização de não interrupção no curto prazo do programa por parte do FOMC, possibilitando assim que operações possam ser forjadas e os recursos direcionados ao Brasil.
Disto depende o Brasil para apreciar o real neste momento, e, só será possível ter uma sinalização para o comportamento prospectivo do preço do dólar, a partir do conhecimento das decisões e manifestações dos membros do FOMC, após a reunião da próxima quarta-feira.
Se perdurarem incertezas por parte do FOMC e não se tiver clareza sobre seu posicionamento, como tem sido contumaz, a queda da taxa do dólar terá mais dificuldade de ser consolidada, na medida em que os ingressos de recursos externos, mesmo especulativos, não serão de volume suficiente para alterar o cenário.
No mais, a “ressaca” de recursos de boa qualidade deve perdurar, nossas fragilidades continuam sendo observadas pelos investidores externos.
As incertezas sobre a gestão da política fiscal acentuam-se e as perspectivas de crescimento pioram. O novo ciclo de aumento da taxa de juros, do nível da dívida pública e da adoção de sucessivas medidas de desoneração, tem acentuado a visão crítica das contas públicas.
Matéria de Nilson Teixeira, Economista Chefe do Credit Suisse, para a Folha no último dia 15, prevê, num ambiente que está longe de ser consensual, crescimento do PIB de 3% em 2013 e 4% em 2014 e Selic estável em 8,75% a partir de agosto, superávit primário inferior a 2% e déficit nominal de 3% do PIB em ambos os anos, com a dívida pública bruta próxima de 60% do PIB.
E salienta, se assumíssemos menor crescimento ou mais juros, teríamos um superávit primário provavelmente inferior ao necessário para uma dívida pública estável, condição mínima para sustentabilidade fiscal de longo prazo.
E adita, essas simulações já não sugerem, portanto, cenário benigno e o mesmo pode ser dito sobre a fragilidade dos resultados fiscais neste ano.
O Boletim Focus do BC divulgado hoje, contendo as projeções medianas do mercado financeiro, já projetam crescimento menor e juros maior.
O Focus revê o crescimento do PIB 2013 de 2,53% para 2,49% e Selic de 8,75% para 9,0%.
Eleva a projeção do IPCA 2013 de 5,80% para 5,83%; a produção industrial de 2,53% para 2,50%, e, agrava mais dois indicadores sumamente importantes quando se foca o fluxo de recursos para o país, eleva a projeção do déficit em transações correntes de US$ 73,0 Bi para US$ 73,55 Bi e reduz a relativa ao saldo positivo da balança comercial de US$ 7,35 Bi para US$ 6,55 Bi, mantendo os IED´s inalterados em US$ 60,0 Bi.
O Risco Brasil do JPMorgan passou, de 1º de maio a 11 de junho, de 170 pontos para 226 pontos e o CDS de 5 anos subiu de 109,9 pontos para 178,7 pontos.
Por isso, a declaração de El-Erian, CEO da Pimco, uma das maiores gestoras de bônus de emergentes do mundo, de que o Brasil não apresenta risco é vista com ressalvas, visto que a própria PIMCO reduziu seus investimentos no Brasil e aponta que o ponto fraco da economia brasileira é a falta de “pro atividade”, essencial em momentos de baixo crescimento.
E este contexto de crescimento baixo, inflação em alta e severas críticas à politica fiscal, ocorrem no momento em que o país precisa de fortes investimentos para revitalizar-se.
Os momentos de bonança passados que alimentaram o crescimento sem grandes esforços de gestão fiscal já não estão presentes. Capacidade industrial ociosa a ocupar; “boom” das commodities puxado pela China que agora perde dinamismo; consumo estimulado a farto crédito, que indica que chegou a exaustão, embora persistido, etc. Estes fatores que permitiram que o país crescesse com baixo investimento e frágil poupança são passado.
Agora é preciso aumentar o rigor da gestão e isto pode ser “dolorido”, pois só o aumento do investimento poderá mover o crescimento e os gastos precisarão ser rigorosamente contidos pelo governo.
Vamos aguardar que na quarta-feira que um sinal de protelação do início da redução do programa americano pelo FOMC, promova um estímulo a ingressos de capitais especulativos no país, atenuando a pressão altista no preço do dólar, pelo menos no curto prazo, para que o dólar não seja mais um fator a contribuir para a alta da inflação.