Os bons tempos parecem já ter ficado num passado recente, o que predomina são incertezas e excesso de trepidações num cenário altamente complexo em que se defrontam situações absolutamente antagônicas na economia brasileira.
Crescer ou combater a inflação, já que ambos os anseios não cabem, sabidamente, num mesmo contexto de ações das autoridades governamentais. Continuar neste anseio duplo e insistindo em viabilizá-los concomitantemente, certamente, tende a resultar em insucesso duplo.
As virtudes do país, sobejamente enaltecidas pelo mercado internacional, também aparentam ter ficado neste passado recente, perdendo espaço para uma visão crítica severa das nossas fragilidades, que transita desde o baixo crescimento e política fiscal expansionista com viés comprometedor, até as deficiências estruturais, que solapam a nossa competitividade a nível internacional.
O crescimento com a exploração dos flancos ociosos que existiam no país e com baixo investimento já não é viável, o modelo, embora persistido, parece exaurido.
Agora, o crescimento é requisitante de investimentos os mais amplos, e, os parâmetros atuais estão muito aquém do razoável para impulsionar uma economia do tamanho da brasileira.
Nossa indústria está sem tração, importa quase um quarto dos insumos utilizados na produção, e o nosso mercado consumidor final já tem idêntica participação dos produtos importados.
Exportamos menos e importamos mais. Os fluxos financeiros para investimentos em renda fixa e variável são cadentes, e, a nossa pujança exportadora está em grande parte vinculada às “commodities”, que estão com preços internacionais cadentes, pois a nossa maior compradora, a China, dá sinais de perda de ritmo de atividade, especialmente exportadora que é o seu “carro chefe” do crescimento, o que impacta nas suas importações, já que é uma grande processadora de insumos em produtos acabados.
O risco de termos insuficiência de ingressos líquidos de recursos externos, para financiar o fortalecido e crescente déficit em transações correntes deste ano, é real, e isto pode nos obrigar a ter que usar parte das nossas reservas cambiais.
Expectativas que ainda existiam como o IPO da Votorantim Cimentos que poderia carrear recursos externos para o país, acabam inviabilizadas pelo mau humor que atinge o mercado.
Este cenário provoca a pressão de elevação da taxa cambial, que impacta intensificando as pressões inflacionárias, que pode exigir que o Copom tenha que elevar a taxa Selic além do que está sendo projetado para este ano.
E o risco com as contas externas pode piorar, pois além dos investidores mais qualificados terem perdido atratividade pelo país, as agências de risco, S&P dias atrás e Moody´s ontem, deram evidências de que tem o Brasil na mira para uma eventual redução de nota. A Fitch esteve semana passada com o Ministro da Fazenda e com o Secretário do Tesouro Nacional e ainda não se manifestou.
À margem deste contexto das agências de rating, o risco país, pelo conceito do JPMorgan e os CDS, vem sofrendo alterações para pior, o que denota a percepção do mercado financeiro internacional.
O risco de o país perder o grau de investimento é preocupante, pois provocaria a saída de muitos recursos estrangeiros do país e, presume-se, de forma abrupta pelas restrições normativas presentes nas regras dos grandes fundos investidores internacionais.
Por ironia do destino, o que pode aliviar o aperto presente de baixo fluxo cambial e falta de liquidez no mercado futuro é o capital especulativo, tão repudiado no passado recente, e que nos procurará, acreditamos, se o FED se manifestar hoje com indicativos de que ainda retardará o início da redução do seu programa de incentivos. Se houver um cenário favorável na manifestação do FED, poderemos ter um alívio momentâneo nas pressões sobre o câmbio, caso contrário a pressão se intensificará a partir do mercado futuro.
E, então, só restará a opção do BC vender, por enquanto, “swaps cambiais”, repetindo-se fazendo mais do mesmo, contendo a alta explosiva, porém sem sustentabilidade.
E, ao que tudo indica, poderá ser levado a realizar ofertas de dólares à vista ao mercado de câmbio, num momento próximo.
Hoje o mercado de câmbio poderá sofrer nova rodada altista na taxa cambial com volatilidade decorrente da ansiedade pela espera da fala de Ben Bernanke, Presidente do FED, ao termino da reunião do órgão, prevista para 2 PM de Washington, DC, USA.
O BC, que ontem realizou dois leilões de “swaps cambiais” num total de US$ 4,5 Bi poderá repetir-se, mais uma vez, fazendo mais do mesmo, ou seja, o que é possível no momento.