Em 30 de abril último utilizamos esta manchete em nosso comentário diário sobre o mercado de câmbio.
Agora estamos chegando ao final de maio e é notório que as perspectivas para o mercado de câmbio brasileiro e a formação da taxa cambial estão em fase de transição para pior.
Houve certo desvio das atenções provocado pelos fluxos cambiais de recursos especulativos ocorridos até o 1º quadrimestre, aos quais se procurou atribuir as razões pela forte apreciação do real, enquanto, no mesmo ambiente, o BC desenvolvia intensa intervenção com excessivas ofertas de contratos de “swaps cambiais” através novas emissões e rolagens das posições vincendas.
Em realidade, as perspectivas desde a virada do ano não eram favoráveis para o setor externo brasileiro. O ano de 2013 já havia sido concluído com fluxo cambial insuficiente acumulando US$ 18,0 Bi e o montante de déficit em transações correntes superou em muito o ingresso de IED´s. E, como as perspectivas para o país em 2014 não eram melhores do que em 2013, sob todos os aspectos, era previsível que a atração por capitais estrangeiros de qualidade continuariam sendo cadentes.
De repente, os sinais de desaceleração dos ingressos de capitais especulativos foram sendo percebidos e maio sanciona até dados negativos no fluxo para renda fixa, indicando que os recursos que ingressaram já estão de saída, o que já vinha acontecendo, também, com aqueles que se direcionaram para a Bovespa.
O fluxo cambial financeiro já denunciava ambiente contrário registrando saldo negativo em abril e persistindo em maio, a despeito de inúmeras captações de empresas brasileiras no exterior, deixando evidente que há movimento consistente de saída.
O BC, que já vinha fazendo oferta excessiva de “swaps cambiais”, acusou o fato ao mencionar o recuo da demanda por estes instrumentos.
Ficou mais evidente que o momento prenuncia a transição da demanda no mercado de câmbio futuro para o mercado de câmbio a vista, que já encontra os bancos com posições vendidas (fluxos insuficientes efetivos) próximas de US$ 15,0 Bi, que em algum momento precisarão ser repostos já que ao que tudo indica será inviável solução de mercado pela carência de fluxo cambial favorável e suficiente. E, naturalmente, a saída dos recursos especulativos colocará em destaque o quanto atenuaram o problema que já teria ficado evidente ao longo do 1º quadrimestre, mas agora certamente agravarão a tendência de expansão do total de fluxos insuficientes.
Para pressão de demanda efetiva sobre o mercado de câmbio à vista a tendência é que somente oferta de moeda efetiva disponível poderá mitigar o problema, que não se sensibilizará com oferta de “swaps” já que as exposições em moeda estrangeira já estão protegidas com “hedge”.
As atenções ficaram maiores quando o BC apresentou os dados do setor externo do Brasil até abril, onde as perspectivas para o setor externo ficaram mais evidentes com a disparidade do já expressivo déficit em transações correntes frente aos IED´s.
À margem deste cenário desfavorável, a balança comercial brasileira já consolidava quase US$ 6,0 Bi de déficit no ano até a última semana de maio.
Há efetiva possibilidade de que o país não cresça neste 2º trimestre e as projeções para o crescimento anual continuam sendo revistas por vários organismos para pior e há muitas dúvidas se conseguirá entregar, sem mágicas, o superávit primário de 1,9% a que se comprometeu na revisão realizada, que envolveu também cortes de gastos.
O IBC-Br do Banco Central do Brasil não tem sido otimistas.
Enfim, embora com certo atraso face aos ingressos especulativos que aliviaram o quadro e que agora começam a sair, o setor externo e seu quadro prospectivo desconfortante começam a ganhar transparência e a criar inquietações.
Hoje o BC deverá sancionar a manutenção da taxa SELIC em 11%, tendo em vista que os dados da economia assim sugerem, mas, certamente, em perspectiva cada vez menos poderá contar com o dólar depreciado como coadjuvante da política monetária para conter as pressões inflacionárias.
Não está fora de cogitação que o BC chegue ao ponto de ter que vender divisas à vista das reservas cambiais brasileiras para dar liquidez ao mercado, caso o carregamento de posições vendidas pelos bancos se torne desinteressante, mas este será um mal sinal para o mercado financeiro internacional, pois ao demonstrar que o país não é vulnerável porque tem reservas suficientes, pode estimular movimentos oportunistas sobre o real.