Embora discreta, ocorre a transição da demanda do futuro para o pronto

O Brasil teve até o último dia 23 ingressos de US$ 287,2 Bi e saídas de US$ 283,8 obtendo um saldo líquido de fluxo cambial de US$ 3,4 Bi, dos quais US$ 2,3 Bi do segmento comercial e US$ 1,1 Bi do segmento financeiro.

Não é um saldo de fluxo cambial líquido que entusiasme, ainda mais quando se observa que 2013 fechou com um fluxo cambial líquido negativo acumulado de US$ 18,124 Bi, sendo que US$ 12,261 Bi relativos ao próprio ano de 2013, e correspondente ao montante acumulado de efetivo fluxo cambial insuficiente, visto que o BC no período não realizou nenhum leilão de compra, que estavam sendo suportados pelas posições vendidas dos bancos (vendas a descoberto) lastreadas em linhas de financiamento em moeda estrangeira concedidas pela própria autoridade monetária com utilização das reservas cambiais brasileiras.

Este discreto saldo positivo de fluxo cambial obtido em 2014 se prestou, então, para reduzir o montante de fluxo cambial insuficiente e acumulado nas posições vendidas dos bancos para US$ 15,0 Bi, dos quais US$ 10,4 Bi ainda restam financiados pelo BC e os demais por bancos estrangeiros.

E só foi assim pelo fato do Brasil ter tido substantivo fluxo de capital especulativo no 1º quadrimestre, recursos que focavam renda fixa com juro elevado e Bovespa com preços das ações bastante desvalorizadas. Não tivesse havido este “boom” de recursos pontuais para o Brasil e o país já estaria com um quadro evidenciando a situação debilitada do nosso setor externo.

Entretanto, o cenário do mercado de câmbio sinaliza que efetivamente está se iniciando a transição da demanda no mercado futuro, ocasionada até então pelo ingresso de capitais que buscavam proteção em “hedge”, para demanda no mercado à vista, que reflete o movimento de saída de capitais do país.

O BC teve duas atitudes que confirmam esta mudança em curso. Está deixando de rolar US$ 4,5 Bi da posição de “swaps cambiais” vincenda em 2 de junho de US$ 9,6 Bi, naturalmente em linha com a percepção manifestada por seu Presidente, Alexandre Tombini, de que a demanda por “swaps cambiais” está cadente.

Além disto, a reversão que já ocorre nos ingressos direcionados para renda fixa sanciona, também, este fato. Após ingressos intensos com média de US$ 4,0 Bi/mês direcionados para renda fixa no 1º trimestre, em abril já foi cadente ficando em US$ 1,6 Bi e no mês de maio até o dia 21 já era negativo em US$ 261,0 M.

A Bovespa também já vem registrando saída dos capitais estrangeiros especulativos.

Abril já registrou fluxo cambial financeiro líquido negativo de US$ 1,015 Bi e maio já registra US$ 970,0 M, a despeito de captações realizadas por empresas brasileiras no exterior que acabaram neutralizando a transparência dos volumes já revertidos dos capitais especulativos.

Todavia, é bastante perceptível a mudança de perspectiva em relação ao mercado de câmbio, sendo cada vez mais predominante o sentimento de que o fluxo cambial tende a consolidar-se doravante como negativo, com o recuo acentuado dos ingressos de recursos e que se agrava com a baixíssima performance da nossa balança comercial que já registra saldo negativo de US$ 6,0 Bi.

A intensificação do fluxo negativo exigirá ações do BC para irrigar a liquidez do mercado de câmbio à vista, até então suportada pelos bancos que já registram posição passiva de US$ 15,0 Bi a ser coberta.

A dúvida predominante é como o BC sairá deste possível “corner”, pois os bancos, em tese, poderão ter interesse em continuar provendo o mercado com liquidez desde que haja, concomitantemente, a oportunidade de ganho com arbitragem e a segurança de que as linhas que amparam suas posições vendidas (passivas) não sejam interrompidas e nem aviltadas com custos elevados. E, ainda, que em perspectiva tenham a convicção de que havendo a necessidade de cobri-las o BC realizará leilões de venda de moeda efetiva retiradas das reservas cambiais brasileiras para que zerem estas posições.

Os bancos estão vendidos em US$ 15,0 Bi e o BC está financiando US$ 10,4 Bi. Merece observação qual será a atitude da autoridade monetária a respeito da posição vincenda em junho de US$ 3,5 Bi em empréstimos concedidos na forma de linha de financiamento pelo próprio BC aos bancos. Como está em curso a transição da demanda do mercado futuro para o mercado à vista, é de se admitir que o BC promova a rolagem destas linhas de financiamentos e até realize outras ofertas adicionais para deixar os bancos em posição de conforto se os mesmos assumirem a postura de serem os geradores da liquidez.

Se houver resistência dos bancos em ampliar a geração de liquidez ao mercado à vista, então o BC poderá ter que realizar leilões de vendas à vista de divisas, retirando-as em caráter definitivo das reservas cambiais brasileiras.

Hoje foi divulgado o fluxo cambial da semana entre 19 a 23 de maio com um resultado negativo de US$ 118,0 M, sendo US$ 400,0 M positivos no segmento comercial e US$ 518,0 M negativos no segmento financeiro.

O comportamento do mercado apresentou discreta volatilidade, mas fechou estável, embora possa estar havendo pressões dos “players” vendidos no mercado futuro focando a apreciação do real face à apuração da PTax da virada do mês na próxima sexta feira, sem lograr sucesso, somente contendo a alta momentaneamente.

O fato é que há evidências consistentes de que o viés de apreciação do preço da moeda americana está se acentuando e que a oferta de “swaps cambiais” perdeu eficácia na contenção desta tendência.

Os números recentes divulgados pelo BC do setor externo brasileiro envolvendo o déficit em transações correntes, afora todos os fatores aqui abordados, são bastante preocupantes, não sancionando, por si sós, os parâmetros atuais da taxa cambial com o real apreciado.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress