O mercado de câmbio opera com a perspectiva de que a liquidez em moeda efetiva poderá vir do ingresso dos recursos captados via empréstimos no exterior pela Petrobrás que, dependendo da estratégia a ser utilizada, poderá além da liquidez, viabilizar a formação de um “colchão de liquidez” em poder dos agentes do mercado, afora os impactos apreciando o real de imediato. A liquidez que ficar no mercado deve ser de montante moderado para que não estimule os bancos a passar a depreciar o real, mas que seja suficiente para evitar que o BC seja instado a ofertar moeda efetiva via leilões.
Há também um leilão de venda de NTN-Série A3, cambial, de propriedade do Banco Econômico, que está em processo de liquidação, já divulgado em edital pela CETIP para o próximo dia 4 de junho, em montante em torno de US$ 4,0 Bi, que terá efeito venda no mercado, mas que poderá ter a concorrência de muitos interessados, e, rigorosamente não ficar em poder dos eventuais interessados diretos.
A formação do preço da moeda americana continua se demonstrando resistente à queda, já que os fundamentos que promovem este movimento são consistentes, enquanto as perspectivas existentes de liquidez ainda trazem pontos de incertezas se efetivamente irão “ficar” no mercado ou simplesmente somente passarão pelo mercado.
Pela postura do BC que não intervém no mercado de câmbio mesmo ante uma circunstância de preço da moeda americana acima da zona de conforto, tudo leva a crer que o ingresso da Petrobrás deverá ser o meio pelo qual o mercado receberá liquidez efetiva em moeda americana, apreciando o real e, ao mesmo tempo, aliviando a falta de liquidez também no mercado futuro.
Urge que este quadro de pressão altista do preço do dólar seja superado pelo governo, já que esta semana o COPOM deverá, mais uma vez, elevar a taxa Selic, minimamente em 0,25% ou mais agressivamente em 0,50%, e a permanência da cotação elevada acaba conspirando contra o esforço focado pela alta do juro.
Evidentemente, o governo enfrenta um quadro bastante adverso no fluxo de recursos externos para o país, não havendo, portanto, como evitar que sistematicamente ocorra pressão altista do preço do dólar sempre que a liquidez ficar escassa, mas a acomodação possível neste momento poderá perdurar por um período mais extenso, permitindo que a autoridade monetária possa intensificar a reação à alta da inflação.
Tecnicamente, este ano sugere a moeda americana com perfil sustentável de alta ancorado num cenário que projeta um déficit em transações correntes recorde e um comportamento pífio do saldo de nossa balança comercial.
O otimismo que havia com as perspectivas de que o resultado das exportações das safras agrícolas colocassem a balança comercial em ordem não se confirma, pois o país está importando mais. Na semana de 20 a 26 o superávit foi de US$ 461,04, no mês acumula positivo US$ 1,518 BI, mas no ano está deficitária em US$ 4,634 BI.
Mas, ainda que momentaneamente, há condições de mitigar os riscos de alta mais contundente do preço do dólar.
Na virada desta semana, bancos estavam “vendidos” no mercado futuro num total em torno de US$ 10,5 Bi; fundos estrangeiros vendidos em US$ 6,7 Bi e os fundos institucionais comprados em US$ 18,0 Bi.
Os fundamentos apontam pró-fundos institucionais, mas a necessidade do governo atenuar a alta do preço da moeda americana alivia a exposição de bancos e fundos estrangeiros, que, ao que tudo indica, vislumbraram fluxos mais intensos de recursos para o país oriundos da excepcional liquidez presente no mercado internacional.
Como dissemos, o fator Petrobrás e o leilão de NTN-A3 poderão contribuir para a liquidez de forma pontual, afetando as apostas evidenciadas nos posicionamentos presentes no mercado futuro. Contudo, a visão prospectiva não sugere sustentabilidade de um preço com o real apreciado, pois os fundamentos estão bem adversos.
Por isso, na margem se trabalha com a hipótese do governo vir a flexibilizar as normas que impõe tributação com IOF para os ingressos de recursos direcionados para renda fixa, e, também alterando o prazo de empréstimos externos alcançados pelo tributo.
É notório ser crescente a perspectiva de necessidade maior de busca de financiamentos externos por parte do país, e o governo deverá agir prudentemente para estimular precocemente o ingresso de investimentos
para nichos.