A economia americana dá sinais fortes de recuperação, assume a cena internacional, e deixa evidente que os brics ainda não estavam prontos para liderar.

A pujança da economia americana está sendo retomada e de forma muito transparente, principalmente ancorada na confiança do consumidor, maior em 5 anos, e que é o alicerce maior da construção do seu PIB.

Há sinais evidentes de otimismo por parte da sociedade americana quanto às perspectivas para sua economia e para emprego e renda, o que já promove excelente recuperação dos preços do mercado imobiliário, melhor momento pós-crise iniciada em 2008.

Agências de risco, já não tão acreditadas quanto antes, destacam cenário favorável para os bancos americanos, e as bolsas superam-se em recordes após recordes de alta.

Isto tudo faz uma diferença muito grande no cenário global, pois os Estados Unidos passam a concorrer fortemente na atratividade dos investimentos internacionais, piorando e muito as perspectivas de fluxos de investimentos para os países emergentes, em especial aqueles que, como o Brasil, perdem gradativamente o brilho e a atratividade pela falta de oportunidades reais e efetivas.

O dólar reage com valorização ante as principais moedas globais e os juros dos T-Bills passam a catalisar atratividade por parte dos investidores internacionais.

Neste rastro de retomada americana, outros países em que os BC´s adotaram programas de incremento à liquidez e redução brusca do juro começam a mostrar sinais mais otimistas, deixando evidente que as decisões adotadas tendem a produzir resultados positivos.

Mas, não é só por esta razão que o preço da moeda americana sobe no Brasil.

Faz algum tempo que vimos alertando para o fato de que grande parte dos nossos analistas e dos nossos governantes, pelo menos em suas manifestações públicas, sempre têm um olhar crítico mais acentuado para o cenário externo, evitando reconhecer de forma mais precisa e crítica os riscos e as tendências já de muito preocupantes sobre as nossas contas externas e os fluxos no entorno, ou seja, de forma mais ampla os nossos problemas.

Ocorre um processo gradual, mas firme de deterioração das nossas contas externas, que já era perceptível a meses, e, que só agora começa a ser melhor observada pelo fato do déficit em transações correntes ter superado 3% do PIB ao final do 1º quadrimestre, embora os fluxos cambiais divulgados pelo BC desde agosto do ano passado já evidenciassem a predominância do negativo no comportamento dos números.

Como destacamos inúmeras vezes, “números falam e precisamos ouvi-los” e isto não foi atentamente observado pela grande maioria do mercado, que agora, com surpresa, começa a entender que os problemas no entorno da formação de preço da moeda americana no nosso mercado, tem muitas das causas principais oriundas de nossas próprias fragilidades e não preponderantemente de fatores externos, como a grande maioria vinha atribuindo de forma contumaz.

Atribuir a alta à perspectiva de redução do programa de incentivos americano nos parece uma “meia verdade”, visto que o Brasil não foi aquinhoado por fluxos advindos desta liquidez. Bom lembrar que o governo anteviu de forma equivocada a ocorrência de “tsunamis de dólares” para o país, blindou-se precipitadamente e com alguma opulência inibindo os ingressos de capitais de curto prazo, quase sempre especulativos, com tributação com IOF.

Não nos parece correto atribuir reflexos de saídas decorrentes da eventual redução do programa americano, pelo simples fato de que pouco ou nada entrou no país.

O fato é que o grande momento do “boom” das commodities está ficando no passado, em especial pela queda gradual da atividade da China, que também se revelou extremamente dependente do seu modelo exportador para os centros desenvolvidos.

Tendo o Brasil se tornado chino-dependente para suas exportações mais relevantes, o que o trouxe à atividade “quase colonial” neste segmento, já que a indústria foi “mal tratada” por um longo período e fortemente degradada por falta de investimentos em razão da desmotivação provocada pelo forte incremento das importações de insumos e produtos acabados, ocorrem reflexos naturais de fragilização da performance da nossa balança comercial, para a qual ainda se estima saldo positivo em torno de US$ 6,5 Bi este ano, embora as importações estejam em linha crescente e já ocupando 22% do consumo interno.

Não tendo feito as reformas e com severas deficiências de infraestrutura o país se revela caro e não conseguindo crescer e tendo retornado as preocupações com a inflação, o grau de atratividade perante investidores internacionais não evoluiu e hoje perde investimentos para outros países latinos como Chile, Peru, Colômbia, México, etc. e com isto os IED´s tendem a ser insuficientes para financiar o déficit em transações correntes, que superou mais de 3% do PIB e tem viés crescente.

Este e outros fatores presentes na economia brasileira constroem fundamentos que promovem a elevação do preço do dólar no nosso mercado de câmbio.

Por outro lado, o país enfrenta um contexto extremamente difícil. Convive com o retorno da inflação que está no limite máximo da meta e não consegue viabilizar um crescimento adequado, mas continua gerando emprego e renda que pressiona o consumo, aumentando a pressão com salários em alta e pressão sobre os preços devido à oferta insuficiente.

Este é o pior cenário, e o Brasil parece ser hoje o único com este tipo de problema, exatamente na contramão das principais economias.

Busca “operacionalizar” os dois problemas. Conter a inflação e impulsionar o crescimento, e isto notoriamente tende a provocar o insucesso em ambos os problemas, por serem problemas antagônicos, sendo imprescindível a necessidade de priorizar um ou outro.

O crescimento continua pífio. O IBGE anunciou hoje 0,6% no PIB do 1º trimestre, abaixo das expectativas do mercado e distante do IBC-BR do BC. Frente ao 1º trimestre de 2012 a evolução foi de 1,9%.

E hoje o     COPOM precisará elevar a Selic, em 0,25% em 0,50%, mas o fato é que o juro em alta conspira contra o crescimento.

Nesta quarta a OCDE, também, em relatório projeta inflação maior para o Brasil e “grandes incertezas” para sua economia.

Neste contexto volta a aumentar o juro e deseja um preço de dólar mais baixo e neutro, o que é muito difícil com os fundamentos impulsionando a alta, para combater a inflação e, por outro lado, desenvolve uma política fiscal expansionista almejando o crescimento que gera inflação.

É efetivamente um quadro da mais alta complexidade.

O fator ingresso de divisas da Petrobrás poderá atenuar momentaneamente a alta presente da moeda americana baseada nos fundamentos, mas não resolverá o problema em perspectiva, o viés do preço é de alta.

Acreditamos mesmo que se os bancos e fundos estrangeiros não estivessem com posições “vendidas” no mercado futuro, o preço do dólar já estaria em torno de R$ 2,15.

Tudo leva a crer que o governo precisará eliminar as barreiras tributárias com IOF para os ingressos de curto prazo direcionados a renda fixa, evidentemente dólares de natureza especulativa focando rentabilidade com a alta da SELIC, mas é a solução mais viável, para não se ver obrigado a realizar leilões de venda efetiva de moedas retiradas das reservas cambiais.

Bancos e fundos estrangeiros convivem com esta expectativa, pois ao que tudo indica estão na ponta errada da aposta, pois o posicionamento sugere que esperavam apreciação do real.

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