BC, mercado, bancos e fundos estrangeiros vendidos no mercado futuro de dólar, aguardam o ingresso dos dólares da Petrobrás para conter alta da moeda americana.

Os fundamentos presentes no contexto da economia brasileira sustentam a dinâmica de alta do dólar no nosso mercado, mais do que se possa procurar atribuir a fatores externos, mas este contexto adverso ocorre num momento em que o governo precisa do preço da moeda americana mais contido, sem interferir na inflação, e, se possível, que agregue alguma contribuição para a sua contenção.

Déficit em transações correntes superior a 3% do PIB sinaliza “luz amarela” tendente à “vermelha”, num ambiente em que os IED´s demonstram insuficiência de volume, são fatores de pressão sobre a formação do preço do dólar no nosso mercado.

Tudo indica uma maior necessidade de financiamento externo ou, como alternativa, a utilização de parte das reservas cambiais.

Fluxo cambial insuficiente, com discreta melhora pontual, mas não sustentável, no segmento comercial, acaba por afetar não somente a formação do preço no mercado à vista, pressionando-a, também, no mercado futuro, tudo como consequência da baixa liquidez.

Quando se observa que o real desvalorizou-se menos do que as demais moedas emergentes frente ao dólar, a razão é encontrada no fato dos bancos, em especial, estarem com “posições vendidas” no mercado futuro, assim como os fundos estrangeiros, e isto os leva a conter, dentro do possível, uma alta maior que iria contra os seus interesses.

Por esta razão o dólar está tão somente em R$ 2,05 e não em R$ 2,10/2,15, como poderia sugerir a pressão natural que advém de um quadro desfavorável na proporção atual do déficit em transações correntes.

Evidentemente não há conforto para o governo com o contexto atual. O lógico seria já ter atuado, mas não somente com o tradicional “swap cambial”, sendo necessário também que ocorra oferta de divisas efetivas.

A opção mais imediata para evitar que o BC tenha que realizar leilão ofertando moeda efetiva seria a retirada da barreira tributária do IOF para os ingressos direcionados a renda fixa e reduzindo o prazo de 1 ano para 90 dias dos empréstimos externos sujeitos ao tributo. Enfim, dar acesso ao recurso de curto prazo.

Mas, com a ocorrência da captação de empréstimo jumbo pela Petrobrás, algo como US$ 12,0 Bi, a solução para atenuar as pressões do mercado por um breve período deve advir deste ingresso de recursos externos.

Aguarda-se para breve este ingresso, provavelmente esta semana, e, com isto, ocorrerá uma solução de mercado para o quadro atual, irrigando a liquidez do mercado à vista, quem sabe proporcionando a formação de um “colchão de liquidez” em poder dos bancos induzido pelo BC, bem como do mercado futuro, onde bancos e fundos estrangeiros estão, acreditamos, desconfortavelmente posicionados “vendidos”, provavelmente por imaginarem que a liquidez internacional procuraria o Brasil e, assim, promoveria a apreciação do real, algo que é desejado pelo governo no seu enfrentamento do espiral inflacionário.

O ingresso dos recursos da Petrobrás tende a solucionar a problemática momentânea, mas o governo, certamente, se verá forçado a agir para melhorar o fluxo cambial financeiro, em especial, e isto poderá vir pela flexibilização ou retirada da barreira tributária para os investimentos de curto prazo direcionados a renda fixa. Pode ser que relute, em princípio, reduzir o prazo para os empréstimos externos de 1 ano para 90 dias.

O Brasil atravessa um contexto único no cenário global que é de difícil superação, qual seja de ter inflação alta e crescimento baixo, pois as medidas estratégicas cabíveis para um problema conflitam com o outro, e, se tentado resolver ambos ao mesmo tempo, pode obter insucesso duplo.

É muito provável que esta situação pese e possa determinar uma decisão mais modesta do COPOM esta semana, elevando a Selic em tão somente 0,25%, quando a ênfase dada nos discursos recentes dos dirigentes do BC sugeriu algo mais forte como 0,50%.

O BOLETIM FOCUS datado de 24, divulgado hoje 27, contendo as medianas das projeções do mercado financeiro, indica elevação do IPCA de 5,80% para 5,81%; dólar de R$ 2,02 para R$ 2,03; crescimento do PIB de 2,98% para 2,93%; produção industrial de 2,50% para 2,43%; déficit em transações correntes de US$ 70,90 para US$ 72,0 Bi; saldo da balança comercial de US$ 9,05 Bi para US$ 8,30 Bi; mantendo inalteradas as projeções para a SELIC em 8,25% e para os IED´s em US$ 60,0 Bi.

No nosso entender o dólar tem um viés que o conduzirá, a despeito de todo empenho do governo, a um patamar mais alto no final do ano do que a projeção divulgada pelo FOCUS. O crescimento do PIB já vem sendo considerado em torno de 2,80%, com viés de baixa. O déficit em transações correntes ajustado para US$ 72,0 Bi tem uma dinâmica que poderá conduzi-lo a montante acima deste montante. O saldo da balança comercial, com a queda de atividade industrial da China, já vem sendo projetada abaixo de US$ 7,0 Bi.

É perceptível pelas projeções enunciadas pelo FOCUS que há um viés negativo nas perspectivas do mercado financeiro.

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