Teorias à parte e conjecturas diversas em exposições, o fato concreto é que há inquestionável evidência de que o preço da moeda americana no mercado de câmbio brasileiro tem apresentado consistente disfuncionalidade, em grande parte sustentada pela intervenção neutra do BC que promove sustentabilidade à situação, mas como sói acontecer, a força e percepção do “mercado” acaba por fazer sucumbir as inconsistências quando as perspectivas se tornam perceptíveis e inquestionáveis.
A melhora das perspectivas em relação à atividade econômica e situação fiscal do Brasil está claramente perceptível e permite que se projete um crescimento de 1,2% para o PIB este ano e em torno ou até maior do que 2,5% para o ano que vem, e este fato vem sendo detectado interna e externamente, haja vista o CDS brasileiro em nível recorde de 96,4 pontos.
O fluxo cambial está fortemente negativo no ano até o último dia 13, US$ 35,397 Bi, com destaque para o segmento financeiro, US$ 55,482 Bi, e este mês já registrou negativo de US$ 8,241 Bi, e o segmento financeiro aponta US$ 13,145 Bi.
Em contraposição ao fluxo negativo total de US$ 35,397 Bi o BC forneceu ao mercado com leilões US$ 33,396 Bi, dos quais na forma de intervenção neutra montante em torno de US$ 30,0 Bi, que não causa impacto na formação do preço no mercado. Adicionalmente forneceu linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra de US$ 4,650 Bi até 13.
O BC com suas intervenções neutras no mês forneceu ao mercado até o dia 13 US$ 6,120 Bi em moeda efetiva, mas na estratégia “neutra”, ou seja, conjugada com oferta de mesmo valor de swaps cambiais reversos, que desta forma evita impacto na formação do preço do câmbio e, consequentemente, dá sustentabilidade à taxa prevalecente.
Então, os dados do BC sinalizam intenso movimento de saída de recursos do país neste mês até dia 13, líquidos US$ 8,241 Bi, tendo no mesmo período a autoridade fornecido liquidez conjugada (neutra) de US$ 6,120 Bi e reduziu em US$ 750,0 Mi o montante de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra, e, paradoxalmente dando evidência a movimento contraditório, que entendemos consequente da expressiva disfuncionalidade presente na taxa cambial, o preço do câmbio (Ptax) caiu de R$ 4,2240 no dia 29/11 para US$ 4,0949 no dia 13, expressivos 3,153%, e se considerarmos até os atuais R$ 4,06 atingem apreciação do real de 4,04%.
Consideramos que este fato concreto, baseado em números, repercute diretamente a acentuada melhora das perspectivas para o Brasil, embora ainda não tenha sido materializada a retomada de fluxo positivo para o país, e que se impõe firmemente ao fluxo cambial negativo e a ação de intervenção do BC na forma “neutra” que não induz apreciação do real, promovendo o expurgo gradual da disfuncionalidade presente na taxa cambial.
Acreditamos que há um consistente viés de tendência do preço da moeda americana ao preço de R$ 4,00, contrariando pesquisas e projeções recentes, e não vemos neste ajuste influência das repercussões do embate China-Estados que se avançarem positivamente, num novo contexto, poderão conduzir a taxa cambial a patamar abaixo de R$ 4,00.
O conteúdo do RTI do BC, em especial quanto ao déficit em transações correntes; CPMF; o eventual impeachment do Presidente Trump aprovado pela Câmara, com quase nenhuma chance de aprovação pelo Senado Americano; os ruídos em torno do Acordo China Estados Unidos deverão continuar ocupando as manchetes de final do ano, mas sem impactar na tendência de ajuste final do preço da moeda americana no mercado brasileiro, que tem fundamento basicamente nas perspectivas positivas brasileiras.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO