IGP-M aquecido é sinal de alerta para o dólar disfuncional. Ajuste é inevitável!

O dólar vem com seu preço apresentando disfuncionalidade mais acentuada desde o mês de agosto passado, quando a liquidez passou a causar efeitos negativos e o mercado, face à queda acentuada do fluxo cambial positivo, deu mostras de que precisava da intervenção do BC com oferta de dólares à vista, com o intuito objetivo de equalizar o preço ao que podemos considerar de normalidade, tendo em vista que o país tem reservas cambiais suficientes para não ter pressões deste tipo afetando a formação do preço.

Contrariando nosso ponto de vista, o BC passou a atuar no mercado não com oferta objetiva de leilões de dólares à vista visando conter o desequilíbrio entre oferta e demanda, mas optando por fazer ofertas de dólares à vista conjugada com oferta de swaps cambiais reversos, cognominada neutra (montante em torno de US$ 25,0 Bi), visto que não causa efeito na formação do preço, mas tendo sido iniciada com o preço apresentando disfunção acabou por promover a sustentabilidade da disfuncionalidade presente no preço.

Ocorre que o preço do dólar tem capacidade forte de impactar na curva inflacionária dada a contaminação natural do seu preço aviltado para os preços relativos da economia. Com a atividade econômica com significativa inércia, a crença era de que o repasse não ocorreria e sim seria contido.

Contudo, a mais variada cadeia de “fundamentos” foi dada para a manutenção com a disfuncionalidade, desde a “juros baixo câmbio alto” e além outras inúmeras a mais alardeada que é o embate sino-americano, e quase nenhuma consideração aos fatores internos que já ganhavam relevância

Neste ínterim a economia brasileira, ainda que discretamente, passou a emitir mais recentemente sinais positivos e não somente isto, passou a ter este movimento percebido de forma intensa, tanto interna quanto externamente, que fundamenta as perspectivas inteiramente favoráveis e que alimentam, ainda que não materializado em fluxos positivos externos, o elevado otimismo presente.

Ocorre que preços fundamentais na nossa economia começaram a sinalizar repercussões, como os combustíveis, e mais recentemente ocorre a combinação nefasta com a elevação do preço de bens alimentares (carnes em geral) puxado por intensa demanda oriunda da China com os do preço da moeda americana elevada e então surge agora o IGP-M da 2ª prévia de dezembro acima de 2%, acumulando 7,27% em 12 meses, para um contexto inflacionário anual do país pelo IPCA de pouco acima de 3,50%.

O paradoxo tem origem e causa e representa forte risco de reacender a curva inflacionária antes mesmo que ocorra a efetiva dinamização da atividade econômica, e isto seria uma ocorrência altamente negativa para o contexto otimista com o qual convive o país.

O preço do dólar alto, distante do ponto de equilíbrio mediano de R$ 4,00 que seria fácil e rapidamente mantido houvesse o BC se limitado a ofertar dólares à vista compatível com a carência de momento, passou a se configurar preocupante e o próprio mercado, a despeito da manutenção pelo BC da intervenção neutra, parece ter entendido ser insustentável a manutenção do preço disfuncional da moeda americana, e perdeu o embalo em especular preço mais alto, muito pelo contrário perdeu o ímpeto de manter posições compradas no mercado futuro esperando que o preço viesse se assoberbar, até porque há também a carência de fundamentos, já que não há risco de crise cambial no país.

Não sem razão o BC anunciou dois leilões de linhas de financiamento em moeda estrangeira com recompra no total de US$ 2,5 Bi, mas, não descartamos que venha a realizar oferta de leilão somente de dólares à vista até o final do ano.

Esta é a percepção que tem nos levado a acentuar a convicção que contraria a grande maioria que vê o dólar com preço em R$ 4,15 ou acima ao final do ano, e manter a projeção de que poderá fechar o ano no em torno de R$ 4,00.

Acreditamos que há um crédito demasiado as causas, postas como negativas, do embate entre China e Estados Unidos, e ocorre um lamentável desmerecimento aos méritos que vem sendo conquistados pelo Brasil na sua política fiscal e econômica, fato que vem sendo sancionado pela percepção externa do nosso risco CDS agora no recorde de 96 pontos.

É imperativo que o dólar reconquiste seu preço de equilíbrio eliminando a descabida disfuncionalidade, já que o país tem suficientes reservas cambiais para prover o equacionamento do preço (não o administrando, mas suprindo a carência de liquidez momentânea), para que não sofra atropelos na trajetória da retomada da atividade econômica.

Tudo leva a crer que o preço do dólar estará fora da projeção predominante de R$ 4,15, ficando no em torno de R$ 4,00, e com fortes perspectivas de nova rodada de apreciação do real quando os fluxos cambiais positivos forem retomados para o Brasil.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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