RTI do BC sinalizando déficit CC maior afetou perspectivas e CDS e afetou o dólar

Num ambiente que vem ancorando seu crescente otimismo em perspectivas e não em fatos concretos materializados, qualquer “senão” negativo pode interferir e causar postura imediata “defensiva” interrompendo, ainda que momentaneamente, o viés da tendência.

O CDS Brasil 5 anos verificado na sexta-feira (dia 20) repercutiu de imediato a piora projetada no RTI do BC de 19 apontando projeção de elevação substantiva do déficit em transações correntes, sugerindo um alerta importante, causando piora de 6% passando de 96,4 pontos para 102,6 pontos, interrompendo uma trajetória de otimização que estava se consolidando e repetindo-se em recordes diários.

Contudo, merece destaque o fato do cenário prospectivo da economia brasileira emitir sinais tão positivos construindo um sólido otimismo e a despeito disto não ter conseguido se antepor a este fato relevante negativo e desta forma não conseguiu manter o viés de baixa do preço do dólar no nosso mercado de câmbio, tendência que já se revelava até resistente ao fluxo cambial negativo e a persistência do BC com a intervenção neutra, que inquestionavelmente dá sustentabilidade a taxa cambial não induzindo a apreciação do real ante a moeda americana.

Evidentemente, o Brasil precisa reconquistar tração e volume nas exportações, recentemente beneficiadas pela demanda chinesa de carnes, mas ainda insuficiente para dinamizar o parque industrial brasileiro, prejudicado, em especial, pela queda de volumes de comércio exterior com a Argentina.

O que fomenta o otimismo presente está ancorado na generalização das perspectivas de que o país deverá reverter o quadro atual de fluxo cambial negativo para intenso fluxo cambial positivo em 2020 com recursos direcionados para a Bovespa no seu cotidiano e nas IPO´s programadas e, substantivamente, para o programa de privatização ordenado pelo governo federal.

Mas, digamos, o que está “pegando” agora é a absoluta necessidade de recuperação das nossas exportações que perderam volume e vem afetando o agravamento do déficit em transações correntes, e isto, embora considerando a melhora da atividade econômica, não será, sabidamente, tarefa fácil.

A perspectiva é tão consistente que impacta no ânimo do mercado financeiro, em especial Bolsa, impulsionando o preço das ações, ainda que não tenha se materializado os fluxos cambiais aguardados, e vinha sendo expurgada de forma rápida, mesmo com a presença de fatores contrários, a disfuncionalidade presente na formação da taxa cambial.

Gradualmente vinha perdendo consistência o entendimento de que a “ideia de juro baixo câmbio alto”, perfeito em economias desenvolvidas, não cabe totalmente em países emergentes, ainda mais quando o preço do câmbio que a autoridade monetária se propôs dar sustentabilidade com leilões de moeda “neutros” teve início com o mesmo contendo disfuncionalidade, sem a preocupação de primeiro eliminá-la como intervenção inicial.

A realidade cotidiana demonstrou os efeitos da taxa cambial inadequada em sua formação, contrariando a ideia de que não pudesse transferir seus efeitos para os preços da economia dada a sua baixa atividade. Primeiro veio o alerta pelo IGP-M da 2ª prévia com 2,02% e agora o IPCA-15 com 1,05% ante anterior de 0,14%, além de reajustes diversos, com ênfase aos combustíveis de grande impacto na cadeia produtiva.

Evidentemente, não será desejável pressão inflacionária que não decorra naturalmente do aquecimento da atividade econômica, e, no caso, está vindo do preço da moeda americana fora da curva, antes que a retomada efetiva da atividade se consolide e isto se ocorrer pode comprometer toda a dinâmica da recuperação.

O impacto do agravamento do déficit em transações correntes é um fato relevante na formação do preço da moeda americana no nosso mercado e vem em má hora, e se contrapõe a expectativa de que o dólar, contrariando as projeções prevalecentes no momento, fechasse o ano próximo ou em R$ 4,00.

Há o que ser feito pelo BC, ou seja, deveria manter sua intervenção somente com oferta de dólares à vista, até que o fluxo cambial evidencie recuperação de volume, e interromper a intervenção “neutra” que pode não interferir na formação imperfeita da taxa cambial, mas a sustenta ou seja a âncora.

Ao momento que estivesse expurgada a disfuncionalidade, então, a autoridade se limitaria a ação de suprir a oferta de liquidez na formulação neutra, agindo no mercado à vista e no mercado futuro de dólar de forma conjugada.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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