O Brasil tem uma tradição de postura de seus dirigentes maiores apontarem sempre para o exterior como causa de suas conturbações e dificuldades.
Assim tem sido em pelo menos nas últimas duas décadas, e, não é de se duvidar que agora se pontifique as declarações de Jeromy Powell, Presidente do FED americano para justificar todo o degringolar do preço da moeda americana no nosso mercado, afora outras mazelas.
O chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, em uma análise moderada sobre a economia dos Estados Unidos, disse que o país pode enfrentar um “período longo” de crescimento fraco e renda estagnada, prometendo usar mais o poder do FED conforme necessário, e fez um pedido para mais gastos fiscais.
As observações dele marcaram um aceno extraordinário aos riscos que a economia americana enfrenta com a crise econômica e de saúde provocadas pela pandemia de coronavírus.
Declaração tão dura naturalmente é impactante e obriga economias menores a imediatamente avaliar seus “status quo”, além das peculiaridades que envolvem suas limitações e fragilidades na comparação “vis a vis” com a economia americana.
O Estados Unidos é a economia líder do mundo, com a China nos seus calcanhares, e, portanto, um período de atividade econômica mais lenta naturalmente refletirá nas demais economias do mundo inteiro.
Ambas são as principais relações do Brasil no comércio exterior, que já sofre com a decadência da sua parceira sul-americana Argentina, então há com o que se preocupar!
Há clara percepção que embora num ambiente hostil devido a crise do coronavírus, o Presidente Trump continua em campanha para reeleição, agora já não tão fácil como outrora, e naturalmente com este foco reacenderá o embate dos Estados Unidos com a China, com ameaças e efetivações de tributações para dificultar a entrada de produtos chineses e com isto jogando para a plateia do povo americano que aprecia esta hostilização priorizando a indústria americana e propagando o protecionismo.
Por outro lado, a China poderá manipular sua moeda paritariamente para compensar a estratégia americana, e isto poderá desandar para uma sinalização de “guerra cambial”, tendo enorme “know-how” nesta estratégia.
Afinal, as economias gigantes buscarão se colocar “de pé” com instrumentos os mais diversos, e a China deve ter a percepção de que a dinâmica do comércio exterior enveredará pelo protecionismo como legado de experiência deixado pela crise do coronavírus, e que precisará não só ter o produto, mas preço altamente competitivo para contornar a postura defensiva das economias tradicionalmente consumidoras dos seus produtos.
O Brasil precisa estar absolutamente atento, pois se houver movimentos das duas potências desta forma, o nosso dólar no pico de R$ 6,00 só se prestará para as exportações agrícolas, alimentares e de minérios, e olhe lá, porque no mais teremos dificuldades, e, então será difícil redinamizar nossa atividade industrial.
Este é um exercício de perspectivas possíveis para o momento seguinte da crise, mas o Brasil têm inúmeras fragilidades em si próprio, que o torna frágil para a retomada da atividade econômica, que não se restringirá a tão somente acabar com o isolamento.
É de se supor que o Brasil quando sair da crise do coronavírus, sabe-se lá quando, terá acentuado muito suas fragilidades no campo fiscal e na capacidade de geração de empregos, renda e consumo, que deverão ser mais críticos do que eram antes da crise, compatibilizados com a nova experiência advinda da vivência com a crise, e na realidade não se consegue ter perspectiva de como poderá ocorrer este novo cenário.
Então, quando se observa uma manifestação extremamente realista de autoridade importante da maior economia do mundo, é praticamente impossível não se realizar uma reflexão a respeito do nosso país, que ainda não construiu a convergência de enfrentamento da crise do coronavírus e sinaliza que está distante e que, à margem deste grandioso problema de saúde pública que afeta e neutraliza a atividade econômica, tem conturbações na área política.
“Lato sensu”, o desafio para o Brasil é e será maior!
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO