As intervenções do BC no mercado de câmbio desde a última quinta-feira, dia 14, alteraram o foco de tão somente proporcionar liquidez passando a ter conotação efetiva de busca de arrefecimento da forte tendência de depreciação da moeda nacional, deixando transparecer que o preço no em torno de R$ 6,00 entra numa zona de desconforto e pode ter impacto inflacionários não desejáveis, tendo em vista que ainda espera poder reduzir mais uma vez a SELIC até o extremo mínimo de 2,25%.
Isto é dado como certo face ao cenário recessivo e de inflação abaixo da meta, porém esta decisão que levaria a SELIC ao patamar em que a política monetária contumaz já poderia perder a capacidade de aliviar a recessão, tende a colocar pressão adicional de valorização da moeda americana no nosso mercado, por isso é relevante mitigar esta pressão prematura com base nas expectativas.
O contexto em perspectiva se este cenário vier a se confirmar poderá levar o BC inovar na política monetária e a comprar títulos no mercado, e não se pode descartar maior risco em torno das instituições financeiras de pequeno porte.
Há muitos tentáculos, inúmeros vetores, que o BC e o mercado financeiro terão que conviver por ser um contexto nunca antes visto.
A atratividade do Brasil está extremamente debilitada e como afirmou Robin Brooks do IIF, ao salientar que há um ambiente desfavorável ao Brasil no mercado global:
“O mercado brasileiro sofre neste ano com as incertezas externas geradas pela crise do coronavírus, mas tem sido lanterna entre seus pares, afetado adicionalmente pela ressurgência de tensões políticas, deterioração fiscal e colapso da economia.
A queda dos juros básicos a mínimas recordes parte de um esforço para dar suporte à atividade tem minado a atratividade da renda fixa brasileira (e, por tabela, do real), o que deixa o Brasil em clara desvantagem frente a outros mercados emergentes com taxas mais elevadas”.
Esta assertiva do membro do IIF se ancora nos relevantes montantes de recursos externos desaplicados por estrangeiros no nosso mercado financeiro e retirados do país.
Por outro lado, há retração nos investimentos na conta capital e em projetos focados na reconstrução da infraestrutura do país, já que os programas de terceirização não ganham forma e, dado o ambiente conturbado predominante, ficam, cada vez mais, carentes de marcos regulatórios firmes e fortes para restabelecer credibilidade, e isto é um desafio enorme para o país.
O IBC-BR de março em -5,90% deixa bem evidente que o impacto no PIB de todo este cenário instalado poderá ser bem maior do que a projeções absolutamente empíricas que vem sendo formuladas e divulgadas.
O fato positivo para o Brasil neste cenário negativo é a performance do agronegócio e toda cadeia de produtos alimentares, além do minério de ferro, que ganham forte impulso já que a crise intensifica a demanda externa e os preços e o câmbio alto consolida o momento favorável otimizando a remuneração, e assim, é um excelente “amortecedor” da intempestiva queda do PIB.
A prevalência da dicotomia entre saúde e economia ancorada no desalinhamento de condutas e atitudes só faz maior as incertezas em torno do país que ganha destaque mundial.
Se não houver convergência e unidade nos esforços as perspectivas continuarão bastante desalentadoras e tensas, e poderão entrar em campo de antagonismo perigoso e mais desestabilizador.
No cenário global ressurge o embate entre USA e China e isto era presumível e já foi abordado em nossos posts anteriores.
O Presidente Trump está em campanha para a reeleição que já teve momentos dado como certa, mas que agora com a crise do coronavírus afetou estas convicções com a derrocada da atividade econômica e suas consequências, então fustigar a China com acusações e tarifaços é estratégia de agrado ao eleitorado, mas por outro lado a China poderá retrucar retaliando indústrias americanas lá sediadas e usando estratégia altamente prejudicial para o comércio exterior, qual seja a guerra cambial com a manipulação do preço do yuan.
E isto será péssimo para o Brasil que já está com o preço da sua moeda no extremo.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO