As pesquisas trouxeram à baila a efetiva possibilidade do PT estar na disputa da Presidência, e isto ficou bastante evidente com a real possibilidade de migração dos votos que vêm sendo atribuídos ao ex-Presidente Lula, candidato improvável por questões legais, ao seu insinuado sucessor na postulação ao Poder Executivo maior do país.
Esta preocupação se fortalece na medida em que as candidaturas mais identificadas com o mercado financeiro brasileiro não evidenciam capacidade de recuperação junto ao eleitorado, e, naturalmente, face à todo imbróglio com forte acirramento político-jurídico deixa evidente e real a possibilidade de confrontos com alto grau de rivalidade e retaliações se ocorrer a consumação de uma vitória petista no pleito.
O dólar, sensor maior dos momentos de insegurança no país, está recebendo todo o impacto desta mudança forte de humor em torno das perspectivas para a eleição presidencial, mas consideramos que a pressão emocional/psicológica esteja indo muito além do razoável, pois na questão cambial está o único ponto não vulnerável da economia brasileira, com o BC detendo sólida estrutura operacional para conter demandas, ancoradas nas reservas cambiais detidas pelo país, por proteção cambial já amplamente atendida , ou pelo mercado à vista para dar suporte as eventuais saídas de recursos estrangeiros do país, ao qual poderá suprir com a oferta de linhas de financiamento em moeda estrangeira, com recompra.
O mercado de câmbio observa a taxa cambial ser inflada especulativamente, sem que registre movimento sinérgico com este fato.
Afinal, todos tem consciência que o quadro econômico-jurídico-político brasileiro requer muita atenção dada às fragilidades presentes, insegurança nas questões jurídicas e falta de base de apoio ao atual governo, mas dentro deste cenário, o país seguramente não tem risco de crise cambial, por mais incrível que possa parecer, contrariamente a contextos de há muito antecedentes.
A realidade é que este movimento pode estar sendo orquestrado focando criar um sentimento errático de “pânico” exatamente no setor em que o país está menos vulnerável, mas que o mais rápido para ser percebido pela população e até no exterior.
A força especulativa, embora compreendida como improcedente no preço da moeda americana por razões extremamente transparentes, causa desconforto e espaço na mídia e assim promove uma situação atípica e imprevista na intensidade, mas quantos entendem de câmbio no país para não ter uma leitura imediatista e altamente negativa.
E nestas circunstâncias, o BC não tem antídoto operacional para intervir, já que o preço sobe “no vazio”, sem fundamentos críveis, decorre de fatores imponderáveis fora do alcance das intervenções que a autoridade monetária possa promover, e que se intentar será absolutamente inócuo.
Ao BC seria de bom alvitre uma manifestação no sentido de que o que se presencia é absolutamente improcedentes, visto que o país não tem nenhum risco de crise cambial, a exemplo do que ocorreu com outros emergentes, e é o setor mais defendido de efeitos colaterais em torno dos impactos e tendências que as pesquisas eleitorais possam acarretar.
Muito do cenário atual já poderia ser antevisto com alguma antecedência, como o acirramento das disputas pré-eleitorais, mas o fato é que, principalmente o mercado financeiro, acabou surpreendido pela fragilidade dos candidatos mais identificados com o alinhamento de pensamento dos agentes que não vem demonstrando capacidade de aglutinação de apoio da população, muito pelo contrário.
Houve certo menosprezo pela viabilidade do que se está presenciando e o forte “estado de alerta” acaba colocando a perspectiva contrária ao mercado financeiro e até mesmo do setor produtivo em grande destaque e pode até fortalecer a perspectiva de termos candidatos potenciais á sucessão totalmente descomprometidos com reformas fundamentais sem o que o país poderá entrar numa crise de dimensões imprevisíveis.
O que se presencia decorre totalmente do ambiente interno, que vinha merecendo baixa atenção, com desvios de focos para as questões Estados Unidos/China e Estados Unidos/Turquia, como um álibi para justificar volatilidades já presentes nos segmentos do nosso mercado financeiro.
Agora aflora a realidade e o impacto poderá se fortalecer mais.
Hoje com o dólar com viés de queda no exterior ante cesta de moedas (índice em 95,16 queda de 0,56%) apresentou alta no mercado brasileiro de 1,60% em torno de 4,04, tendo havido notícias que atingiu até cotação de R$ 4,73 no turismo.
A Bovespa cedia 1,75% e não se pode descartar que o ambiente de desconforto motive a ocorrência de movimento de “sell off”.
Agora teremos a pesquisa Datafolha que pode fomentar ainda mais o destempero que se configura no momento.
E, ao BC neste quadro, além da manifestação que sugerimos, caberá observar e não intervir, a menos que ocorra efetiva demanda por proteção cambial e/ou por liquidez no mercado à vista.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO