Falta de coerência evidente afeta a racionalidade da reação do mercado financeiro à política monetária. Há várias análises, afinal em economia há sempre um bom argumento para justificar os erros no futuro!

O dólar sobe e desta vez, porque as “commodities” perdem preço, não afetará a inflação, porém será incapaz para reanimar as exportações de industrializados que demoram algum tempo para responder a estímulos porque precisam conquistar ou reconquistar mercados, num ambiente de elevada concorrência internacional.

Esta é a tese que predomina e que faz com que os analistas pouco destaquem o contraditório que ocorre entre elevar-se a taxa Selic de forma contundente, e, permitir-se, ao mesmo tempo, alta expressiva do dólar, com dimensão para anular com sobra o beneficio da alta do juro.

Contudo, este pode ser um falso entendimento, visto que a participação de insumos e produtos importados no nosso setor produtivo e no consumo, conforme fartamente demonstrado por números estatísticos recentes, é fortemente crescente, e, assim é um canal de impacto inflacionário.

Ademais, se os preços das “commodities”, quando elevados, pressionavam a inflação, equalizar a baixa ocorrida com um dólar mais elevado anula este efeito e os mantêm contributivos para que continue exercendo pressão inflacionária.

Parece-nos que seria racional aproveitar a queda do preço das “commodities” para, com um dólar a preço neutro, catalisar este beneficio e com isto obter um efeito bastante positivo para a descompressão dos preços dos alimentos.  

Até porque grande parte das divisas oriundas das exportações das safras agrícolas já foram negociadas, não valendo nem o argumento que seria uma forma de remunerar melhor os produtores agrícolas.

Afinal, não há um bom argumento para sentir conforto com o preço do real depreciado neste momento, simplesmente porque não há na contra ponta benefício. Não se espera que a indústria acredite na sustentabilidade desta alta, até pelo retrospecto dos antecedentes, para se sentir estimulada a realizar investimentos; se anula o benefício da queda dos preços das “commodities” para a queda da inflação; e, se encarece o preço dos produtos importados nos seus diversos estágios, alimentando o espiral inflacionário.  

Devemos considerar ainda que os efeitos inflacionários, até do ponto de vista psicológico, da alta do dólar são muito mais rápidos do que os efeitos de contração decorrentes da alta da taxa Selic, até porque há uma “distância enorme e sem sinergia” das taxas ofertadas para o crédito ao consumidor e a taxa básica de juro definida pelo Copom.

A alta do dólar ganha manchetes nos noticiários muito rapidamente e se dissemina pela população de forma intensa e reacende o “DNA da inflação” que permanece muito presente.  

Evidente que os fundamentos presentes na nossa economia justificam plenamente a alta do preço da moeda americana.

A expressividade e a tendência do déficit em transações correntes para este ano; o debacle forte do saldo da nossa balança comercial, num ano em que as importações crescem de forma sustentável e as exportações declinam de forma irrecuperável; perda acentuada da atratividade pelo país dos investidores estrangeiros; etc. ancoram a tendência de alta do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.

Esta é a nossa realidade, sendo uma “fuga do foco” atribuir-se como causa principal eventual pressão altista do dólar no nosso mercado local ao término ou redução do programa americano de incentivo à retomada da sua atividade econômica. No entorno desta expectativa há um forte movimento especulativo. Certamente, uma desaceleração das compras de ativos por parte do FED não significará um aperto monetário e será um processo gradual e cauteloso, conforme opina Júlia Coronado, economista chefe do BNP Paribas nos Estados Unidos. Não se pode imaginar um término abrupto do programa, e, além disto, não devemos superlativar os seus efeitos no mercado brasileiro, visto que o Brasil não foi aquinhoado com grandes fluxos de recursos decorrentes deste programa.

Precisamos olhar e cuidar bem e previdentemente dos nossos problemas e deixar de atribuir a causas externas as nossas mazelas. Se não formos previdentes, o quadro das contas externas tende a piorar muito e, então, teremos efetiva e forte pressão altista no preço da moeda americana, baseada em fundamentos concretos.

É imperativo que o governo haja no sentido de estimular o ingresso de fluxos de recursos externos possíveis para lastrear o financiamento do nosso déficit em transações correntes, e, por isso temos destacado a necessidade de retirar o IOF incidente sobre os ingressos externos direcionados para renda fixa.

Entendemos que esta seja uma das poucas alternativas restantes para melhora do fluxo de dólares para o Brasil e não agravamento da pressão altista fundamentada do preço da moeda americana no nosso mercado, visto que as perspectivas para catalisar investimentos produtivos externos são pouco otimistas, e, da mesma forma não vemos cenário de melhora para o saldo de nossa balança comercial este ano, pois os preços das “commodities” estão caindo e tendem a cair mais e a nossa capacidade de exportação de industrializados está fragilizada.

No nosso ponto de vista, o tempo de focar a recuperação de fluxo de recursos é agora, no exato momento em que a taxa Selic foi elevada e tende a ter novas altas, visto que para outros investimentos temos um sentimento de que os investidores “se cansaram do Brasil”, devido a muitas incertezas e ausência de reformas, deixando transparecer que temos baixa tração para crescer e dificuldades para conter a inflação, que foi estimulada pelo consumo sem alinhamento ao incremento da oferta. Existem atualmente inúmeras economias que vem catalisando a atratividade dos investidores estrangeiros, sem contar com o fato de que a economia americana está se recuperando e passa a concorrer com os emergentes no direcionamento dos investimentos globais.

Concluindo, entendemos que é absolutamente inócuo admitir-se um dólar mais valorizado neste momento, pela ausência de benefícios sustentáveis ao setor produtivo industrializado e por fomentar contribuição inflacionária via produtos e insumos importados, ao mesmo tempo em que pode neutralizar os benefícios na contenção da inflação no item alimentos decorrente da queda dos preços das “commodities”.

Em tempo de “estagflação” mitigar riscos inflacionários é um incentivo ao crescimento.

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