A elevação do preço do dólar pode anular com folga os efeitos da alta da taxa Selic e o governo atribui o fato a causas externas e omite a deterioração das nossas contas externas

O Presidente do BC, Alexandre Tombini, disse em conferência em Istambul, Turquia, ontem, que a desvalorização do real terá impacto limitado na inflação, contrariando análise anterior realizada pelo diretor da instituição, Carlos Hamilton, que logo após a penúltima reunião do Copom ressaltou que a causa das pressões inflacionárias maiores foram provocadas pela alta do preço da moeda americana, que havia sido estimulada pelo próprio governo.

Todos sabem que não é bem assim, a alta do dólar atual tem maior contundência do que a antecedente e, certamente, se mantida anulará os efeitos da elevação da Selic, com folga, causando danos inflacionários mais intensos do que no momento antecedente.

Não se pode atribuir toda a alta de 7,24% ocorrida no preço do dólar no mês de maio ao comportamento da moeda americana no mercado internacional. Certamente há outros fatores relevantes de natureza interna do Brasil que motivaram esta ocorrência, afora o movimento especulativo em torno da formação da Ptax do final do mês, que envolveu o embate entre os investidores institucionais, fortemente “comprados” no mercado futuro, em oposição a bancos e investidores não residentes, fortemente “vendidos”.

O Banco Central do Brasil, até de forma surpreendente, pois não é razoável esperar-se sua intervenção no exato momento em que se polariza este confronto de interesses entre comprados e vendidos, buscou conter a pressão altista, realizando oferta de “swaps cambiais” em volume de 30.000 contratos, algo como US$ 1,5 Bi, e colocou em torno de 17.000 contratos, algo como US$ 850,0 M, mas sem sucesso para conter a alta.

O grande problema da formação do preço da moeda americana no nosso mercado especificamente é a perspectiva. Os fundamentos que evidenciam deterioração crescente das nossas contas externas e o baixo grau de atratividade ao capital externo por parte do Brasil, que revela cenário inflacionário e baixo crescimento e a fragilização forte do saldo de nossa balança comercial, colocam as perspectivas de fluxos de recursos externos para o país em linha de insuficiência para dar suporte a um crescente déficit em transações correntes.

Na opinião do Presidente Tombini, “fluxos intensos e voláteis de capital têm o potencial de ameaçar a estabilidade econômica e financeira”, porém quando não havendo alternativa mais imediata para resgatar o quadro desfavorável, tem que se render à realidade.

E para alterar as perspectivas negativas atuais, somente flexionando as normas tributárias restritivas vigentes para os ingressos de capitais de curto prazo direcionados para aplicação em renda fixa, que poderiam ser atraídos com a taxa Selic de 8% e a perspectiva de novas altas.

É nesta linha que tem surgido pressões das instituições financeiras atuantes neste mercado por intermédio de seus representantes em declarações à mídia, e, que já há mais de dois meses ressaltamos ser necessária quando vislumbramos o agravamento do cenário desfavorável para as contas externas brasileiras.

E urge que o BC/MF adotem medidas no sentido de melhorar o fluxo de recursos, mesmo que seja de forma pontual, para não ver ir por terra os objetivos de contenção das pressões inflacionárias das recentes elevações da taxa Selic.

São modestas as projeções de que o dólar ao preço de R$ 2,15 causariam impactos em torno de 0,2% a 0,3% no IPCA. O passado recente, com alta menos contundente, deu evidência a impactos mais substantivos. Ademais, não podemos desconsiderar que este preço impacta sobre os preços dos alimentos exportáveis no mercado interno com reflexos na cadeia produtiva, e, ainda que o país está, segundo dados recentes da CNI, com 22% do consumo interno sendo suprido por produtos importados, que serão encarecidos e como são complementares para atender a incapacidade da indústria local, trarão mais impacto inflacionário.
Se o governo titubear poderá, com esta dualidade de busca de objetivos antagônicos, crescer e conter a inflação, construir um cenário extremamente desfavorável para ambos os vetores, não conseguindo sucesso em nenhum deles.

Os fluxos de recursos externos têm apresentado melhora pontual no segmento comercial em decorrência das exportações das safras agrícolas, mas este é um quadro absolutamente temporário.

O Boletim Focus, compilado pelo BC com base nas projeções medianas do mercado financeiro, vem revelando tendência consistente de redução das expectativas em relação ao saldo da balança comercial para este ano, agora em US$ 8,30 Bi havendo, contudo, inúmeras instituições que já o projetam em declarações à parte entre US$ 6,5 Bi a US$ 7,0 Bi, e crescente do déficit em transações correntes, agora US$ 72,15 Bi, mantendo estática a projeção para os IED´s em US$ 60,0 Bi, deixando evidente que o país precisará de um volume maior para financiamento.

No que diz respeito ao dólar vem elevando gradativamente a projeção do preço para o final do ano, atual em US$ 2,05 e para a taxa Selic, atual 8,50% e queda para o PIB, agora em 2,77%.

Urge que o governo haja de forma precisa e rápida focando os nossos efetivos problemas na área cambial, visando atenuar o contexto comprometedor dos objetivos mais imediatos, caso contrário poderá estar abrindo mão, provavelmente, da oportunidade ainda existente de recuperar fluxos externos para o país.

Arriscar “operar com palavras e declarações” problemas reais e efetivos que estão requerendo ações efetivas, poderá acarretar consequências incorrigíveis adiante.

O mercado continuará “emitindo sinais” que o governo precisa agir e influir de forma consistente nas expectativas sobre fluxo de recursos externos para o país, não sendo o quadro presente solucionável com oferta de “swaps cambiais” ou até mesmo, agora, com eventual leilão de venda de dólares.

O Brasil, no contexto atual, salvo se tiver a disposição de utilizar de forma continua as reservas cambiais, o que não parece ser o caso, não está em condições de selecionar a qualidade dos ingressos de recursos externos.

“Tsunamis” seriam desejáveis!

 

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