Dólar “flertando” com a perspectiva de preço em R$ 4,00 ainda este ano!

Melhoram acentuadamente as perspectivas econômicas para o Brasil e a convicção de o fluxo de recursos externos para o país serão retomados, e isto fundamenta e estimula a derrocada do preço da moeda americana no nosso mercado.

O CDS ontem alcançou o nível mais baixo com 109 pontos, sendo o recorde anterior 111 pontos e este fato marca de forma consistente a percepção de melhora do Brasil sob o olhar externo.

A rigor, nunca houve efetivos fundamentos para a alta do preço do dólar, nem mesmo a teoria aventada pelo Ministro Guedes de “juro baixo câmbio alto”, que perde validade em mercados emergentes que não cultivam relação simétrica com a teoria prevalecente em economias desenvolvidas.

Houve, e ainda persiste, um hiato no fluxo cambial positivo devido à saída intempestiva de volumes de dólares de natureza especulativos aqui alocados e que perderam atratividade pelo país face à queda acentuada do juro, num momento ainda sem muitas evidências de que a economia entrava em linha de recuperação, o que não provocou o contra fluxo de capitais estrangeiros não especulativos e que frustrou inclusive as projeções de desempenho da Bovespa que passou grande parte do ano “patinando” no aguardo da “chegada” dos investidores estrangeiros.

Este hiato naturalmente afetou a liquidez do mercado à vista, e então, seria providencial a intervenção do BC gerando “pura e simplesmente” liquidez em moeda à vista, sem qualquer interferência no mercado futuro, o que tem feito com a oferta conjugada de swaps cambiais reversos, “confundindo” dólares efetivos com “derivativos” que não envolvem dólares por serem liquidáveis por diferença em reais e não obrigam, em nenhum momento, que o BC os honrem com a entrega efetiva da moeda.

Ocorre que o derivativo “swap cambial reverso” impacta no mercado futuro de dólar com um efeito compra e isto se contrapõe ao efeito corretivo da disfuncionalidade presente na taxa com a oferta de moeda à vista, e, então, dá sustentabilidade ao preço do dólar “fora da curva”.

Resta saber então, sem esclarecimento, se o preço da moeda americana “fora da curva” é objetivo da autoridade monetária por razões ou com intuitos não perceptíveis, ou para buscar o alinhamento que não ocorre com naturalidade nos mercados emergentes da teoria do “juro baixo câmbio alto”.

Em tese, nada impede que se cultive a prevalência da teoria no Brasil que tem reservas cambiais soberbas, o que não é comum nos emergentes, e nenhum risco de crise cambial, porém para ser efetiva é imperativo que não haja interferência que distorça o preço do câmbio, como no caso presente provoca o swap cambial reverso.

O swap cambial reverso poderia ser considerado normal na intervenção, fazendo-a neutra, se ao início de sua introdução o preço da moeda americana estivesse equalizada e alinhada com a realidade brasileira que evidencia um país absolutamente tranquilo na questão cambial.

O BC persiste na prática da intervenção neutra, se a limitasse a tão somente oferta de dólares à vista, certamente nesta altura com a mudança consistente das perspectivas econômicas para o país e de retomada de fluxo cambial positivo, a taxa do dólar já estaria em R$ 4,00 com viés de baixa.

Ocorre que, apesar da continuidade da intervenção neutra do BC e não somente com oferta de dólares à vista como parece mais indicado, o que contraditoriamente dá sustentabilidade à taxa cambial, nos parece inevitável um ajuste forte na taxa cambial porque tende a ocorrer forte desmanche de posições “compradas” no mercado futuro face à perspectiva de fortalecimento da retomada da atividade econômica e melhora de fluxos e isto provocará efeito “venda” no mercado futuro provocando a derrocada no preço.

A consistência da perspectiva será o fator indutor da tomada de decisão de desmanche.

O fluxo cambial da 1ª semana de dezembro persiste negativo no financeiro em US$ 2,664 Bi e no comercial em US$ 171,0 Mi totalizando negativo US$ 2,835 Bi e no ano até 6 negativo em US$ 29,991 Bi tendo o BC vendido ao mercado à vista com leilões US$ 30,896 Bi e as reservas até dia 6 de dezembro estavam em US$ 363,01 Bi.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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