Rápido demais, dirão uns, imprevisto e surpreendente, dirão outros, mas o fato é que as perspectivas econômicas para o Brasil se acentuam e o otimismo impulsiona movimento mutante para melhor num curto espaço de tempo, e isto impacta no ativo mais sensível do mercado, o preço do dólar.
E o efeito parecerá mais retumbante devido ao fato da taxa cambial que tem prevalecido conter notória “disfuncionalidade” ancorada pela intervenção do BC na forma “neutra”, que dá sustentabilidade ao fato, que, contudo, acabará por sucumbir ante as pressões do mercado que ajustam o preço da moeda americana, cuja queda poderia ser mais rápida e intensa fosse a intervenção somente com oferta de dólares à vista.
E é emblemático o fato de que o movimento de apreciação do real já ocorra somente com base nas expectativas, de vez que os fluxos cambiais positivos ainda não se materializaram para o país, mas a ocorrência de tantos fatos positivos pró Brasil conduzem a antecipação das reações, até porque o preço atual da moeda americana está absoluta e infundadamente “fora da curva”.
Inicialmente, é necessário enfatizar que “o Brasil nunca, nos tempos recentes, teve qualquer fato que pudesse sugerir crise cambial”, e esta realidade conviveu com o contraditório movimento de depreciação do real sem, contudo, ter evidenciado quaisquer fundamentos de sustentabilidade.
O Brasil “vive” um momento ímpar com juro baixo, inflação baixa, reforma da previdência aprovada com resultados melhores do que os prognosticados, sinalização de reformas tributária e administrativa “no forno”, crescimento modesto do PIB, mas acima das projeções e para 2020 algo como 2,5%, quando a visão geral sugere que a economia global terá dificuldade para superar crescimento de 2,0%, e ainda resta a ativação efetiva do programa de privatizações que tende a atrair volume considerável de investimentos externos.
E mais, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê que o déficit primário do governo neste ano deverá ser de R$ 67,1 bilhões, “menos da metade da meta definida pela Lei de Diretrizes orçamentárias [R$139 bilhões]”, conforme destaca a Carta de Conjuntura nº 45 publicada nesta quarta-feira-feira (11), no Rio de Janeiro, pela Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômica do instituto.
O mundo financeiro intensifica a visão positiva do país como risco, o nosso CDS quebrou o recorde que era de 111 pontos ao atingir 108,5 pontos, o que deixa evidente como está sendo avaliado o país conceitualmente como risco no mercado global, onde também agências de ratings melhoram suas avaliações.
Naturalmente que a “mudança abrupta das percepções no em torno do Brasil” para melhor impulsionam alterações de posicionamentos nos mercados e isto tende a se refletir pontualmente com contundência no mercado futuro de dólar, com desmanche de posições “compradas” que promoverão efeito “venda” e induzirão a depreciação do preço do dólar.
A Bovespa repercute na mesma linha com base nas expectativas e ganha impulso de valorização dos seus papéis e índice.
As decisões do BC/COPOM, FED americano e BCE muito aguardadas esta semana ocorreram em linha com as expectativas e, assim, não causaram efeitos maiores do que os já precificados.
No embate China-USA que tem tarifaço americano previsto para vigência a partir do dia 15, o Presidente Trump antes resoluto parece conviver com dúvidas e está ouvindo seu pares conselheiros a respeito. Temos ressaltado que o “risco” no em torno deste enfrentamento é de ocorrer fatos positivos, visto que os negativos já foram precificados.
A próxima semana será, em tese, a última completa do mês e sugere posturas defensivas até porque a sequente será muito seccionada e acarreta incertezas, entre as quais não se descarta que o ajuste no preço do dólar persista face às movimentações no mercado futuro de dólar.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO