Muito tem se falado que o BC pode fazer isto ou aquilo com a taxa cambial, e está evidente que neste momento a faz principal âncora de confronto com o espiral inflacionário presente, de forma canhestra já que o instrumento adequado seria a taxa de juro que, todavia, está, em tese, posicionada pró-estímulo ao investimento e ao crescimento econômico.
Numa primeira leitura não se pode atribuir sucesso nem a uma e nem a outra estratégia, já que a apreciação do real não tem sido capaz que conter as pressões inflacionárias, bastante disseminadas por toda a economia e com perspectivas de intensificação se não for contida adequadamente e, a manutenção da taxa SELIC contida em 7,25% sem ser colocada como instrumento principal, visto ser este o seu papel para conter a inflação, não tem promovido o sucesso de estimular os investimentos necessários para a expansão do PIB brasileiro.
Pouca atenção tem se dado ao fluxo de recursos estrangeiros líquidos para o país, oxigênio absolutamente necessário para o financiamento do crescente déficit em transações correntes, e que se constitui em fator relevante em oposição à estratégia do governo de apreciar o dólar para conter a inflação.
Os fluxos líquidos de recursos para o Brasil têm sido negativos desde agosto de 2012, exceto novembro, e este é um dado relevante que precisa passar a merecer observação mais detida por parte dos analistas, e sobre o qual temos chamado a atenção continuamente.
O cenário atual é bastante distinto do que o que ocorreu em 2008/2009, quando atraímos grandes volumes de recursos especulativos pela excepcionalidade da rentabilidade que o país proporcionava absolutamente incompatível com o seu nível de risco e com o “status” de “investment grade”.
Atualmente, o país já não é o oásis do ganho fácil mundial, o que levou o real a perder a atratividade por parte dos especuladores, visto que, corretamente, houve um substancial corte dos excessos da taxa SELIC. Por outro lado, o mercado de derivativos sofreu sérios corretivos por parte do governo, desfazendo aquele conceito de “cassino do ganho fácil” que tinha grande influência na formação dos preços dos ativos com grande potencial de gerar distorções.
Então, depurado dos incentivos atípicos que proporcionava aos especuladores internacionais, e, sem a capacidade de alavancagem do crescimento dada a ausência das oportunidades que existiram na época, como expressiva demanda reprimida por parte da sociedade brasileira combinado com baixo endividamento face a pouca acessibilidade ao crédito, que hoje já foram exauridas e, portanto, incapazes de fazer repetir o crescimento daquela oportunidade, passamos a ser um país normal, e a partir desta condição a percepção generalizada interna e externa passou a focar mais as nossas fragilidades do que as pretensas e até exacerbadas virtudes.
Assim, já não atraímos tanto a atenção do mundo globalizado, o país tem sido mais criticado do que elogiado, e com isto está perdendo atratividade que tem se transferido para outras economias emergentes que revelam maiores oportunidades neste momento.
Este é o contexto que precisa ser observado com maior rigor quando se analisa a efetiva capacidade do BC dar sustentabilidade à utilização do real apreciado para combater a inflação, pois há um ambiente real e efetivo do próprio mercado de câmbio em oposição a este propósito.
O Diretor do BC, Luiz Awazu Pereira, afirmou em recente seminário no Panamá:
“O Brasil não caiu na armadilha do baixo crescimento, mas que para se manter longe dessa possibilidade a palavra é produtividade. Segundo ele, alguns pontos contam a favor do país: a alta produtividade no segmento de commodities, espaço para maior inclusão social e a atenção maior aos riscos de não diversificação da economia, além dos esforços para aumentar o potencial dos fatores de produtividade da economia.
Ele lembrou o extenso programa de concessões conduzido em portos, aeroportos, ferrovias e rodovias e citou o capital humano como uma chave para absorver mudanças tecnológicas e aumentar a produtividade além do setor de commodities. Disse ainda que houve redução dos custos dos fatores de produção por meio de reduções tributárias e cortes nas tarifas de energia elétrica“.
Em suma, o que falta ao país é aumentar o nível de investimentos, hoje em torno de 18% e que precisaria passar para 25%, para podermos ter ritmo de crescimento de 4% sustentável, sem perder de vista a necessidade das reformas tributárias e trabalhistas, principalmente, e a implementação da efetiva modernização da infraestrutura do país, que dá seus primeiros passos com o tardio processo de privatizações/concessões que vem sendo conduzidas e que todos sabemos terá maturação lenta para que se torne realidade.
Como salienta Awazu, temos alta produtividade no segmento de commodities que, contudo, fica comprometida pela inadequação das vias de escoamento terrestre e da insuficiência da capacidade dos portos.
Sem crescer ou apontar para políticas bem definidas nesta direção o país será pouco atrativo aos investimentos externos e, isto passa necessariamente pelo câmbio e sua formação de preço, que naturalmente repercutirá a queda do fluxo de recursos estrangeiros.
Na falta de melhoria do fluxo cambial, o BC poderá ser levado a utilizar as reservas cambiais do país, o que não seria um bom sinal, pois o contexto globalizado daria visibilidade a isto como mais uma fragilidade, diminuindo ainda mais a atratividade do país.
O Diretor Awazu sugere que o G-20 seja o ambiente adequado para discussão da volatilidade do câmbio, mas ocorre que o contexto da economia global não coloca mais esta possibilidade, pois cada país ou região está focado nos seus próprios interesses e com isto provocam mutações diretas ou indiretas na formação do câmbio.
Não há esta possibilidade, como ficou bem claro na mais recente reunião do grupo, portanto é necessário que tenhamos foco nos nossos interesses sem esperar benesses alheias. A política cambial presente é anti-exportadora e pró-importação, e o país é o próprio autor da deformação com o uso da taxa cambial para conter a inflação, então não temos de quem ou a quem reclamar.
Reiteramos, mais uma vez, que o que se presencia no câmbio atualmente, não pode ser considerado como algo definitivo para este ano.