Este cenário resulta em um fluxo cambial desfavorável em perspectiva, e, o conjunto de fatores lastreiam o fundamento que coloca a tendência do preço da moeda americana em alta no nosso mercado de câmbio.
O BOLETIM FOCUS divulgado pelo Banco Central do Brasil continua agravando a projeção do mercado financeiro para o déficit em transações correntes que agora atinge US$ 70,90 Bi ante projeções para os IED´s de US$ 60,0 Bi e para a balança comercial, com viés de queda, em US$ 9,05 Bi.
Os dados relativos ao fluxo financeiro que não IED´s não revelam potencial para que, no todo, somados com estes investimentos, demonstrem, até o momento, capacidade de suportar o volume de saídas.
É perceptível que o “boom” das “commodities” que aviltou seus preços é passado, período que praticamente nos conduziu à condição primitiva de, preponderantemente, voltarmos a ser exportadores coloniais, visto que a nossa indústria foi relegada a plano secundário, sem competitividade por falta de investimentos e elevados custos tributários e, pela política cambial que fomentou a apreciação do real para controle da inflação, o que estimulou o fortalecimento de insumos e produtos acabados importados.
Matéria do jornal “Valor” de hoje tabula dados que evidenciam o encolhimento dos superávits comerciais das grandes empresas no período de 2007/2012.
Não atribuímos grande peso impactante na formação do preço local da moeda americana ao fato da eventual redução gradual do programa de compras de ativos da ordem de US$ 85,0 Bi pelos Estados Unidos, pois, a rigor, este programa não promoveu grande fluxo de recursos para o Brasil como esperava o governo brasileiro, e assim não há por que imputá-lo importância maior no preço do dólar.
O que valoriza o preço do dólar no mundo são os sinais de recuperação gradual da economia americana, este é o fator concreto, que atrai investidores externos e tornará possível reduzir os programas de incentivos à retomada da atividade econômica, além do fato da melhora do nível de desemprego, visto que o mercado interno é o grande propulsor do PIB americano.
Então, não há esta história de que o mercado está testando o Banco Central do Brasil. O que ocorre é que há fundamentos que estão conduzindo o real à depreciação, e, se o BC não intervém, o preço responde a estes fundamentos.
Evidentemente, não é razoável admitir-se que a autoridade monetária esteja consentindo a mudança de patamar do preço da moeda americana, até porque este fato conspira adversamente aos objetivos de contenção inflacionária do governo.
Pela ênfase dada no pronunciamento do Presidente do BC, Alexandre Tombini, não haverá concessões no enfrentamento da inflação. Isto necessariamente passa pela alta da taxa SELIC e a manutenção do preço da moeda americana em parâmetros de neutralidade, que acreditamos esteja num ponto abaixo de R$ 2,00.
O que ocorre é que o mercado de câmbio dá sinais de que tende a precisar de moeda efetiva, e neste ponto há resistências por parte do BC em utilizar as nossas reservas cambiais, pois, acreditamos, daria muita transparência da queda de fluxos de recursos externos para o Brasil.
Então, alternativamente, o BC aguarda que surja solução de mercado, e a recente captação anunciada pela Petrobrás pode ser uma alternativa para suprir o mercado de câmbio com a liquidez faltante neste momento, naturalmente, dependendo da estratégia que for utilizada para o ingresso dos US$ 12,0 Bi.
Mas, o cenário em perspectiva é pouco favorável para o fluxo cambial do Brasil, visto que as exportações são cadentes e as importações estão em ascensão, e, os fluxos financeiros são sugerem otimismo.
O Boletim FOCUS, ainda que discretamente, já começa repercutir projeção em alta para o preço da moeda americana, tendo elevado esta semana de R$ 2,01 para R$ 2,02 e a perda de perspectiva para o crescimento do PIB, agora 2,98%.