Warren Buffett é um campeão no jogo de ganhar nas bolsas e nos negócios e não cansa de afirmar que não se vale de estudos técnicos, mas unicamente de seu “feeling” pessoal sobre as decisões que deve tomar. É um exemplo para o mundo global dos negócios.
Lembro-me dele quando observo uma série de considerações acerca das perspectivas para o mercado acionário e de câmbio brasileiro, já que o país é emergente, portanto não protagonista e muito vulnerável aos movimentos do mercado externo, mas tendo uma gama considerável de problemas e questões mal resolvidas internamente.
Somos na realidade um “grande oásis” para os investidores externos especuladores, e por que não também nacionais que entram no vácuo, e assim nosso mercado bursático e o preço do dólar passam a ser afetados como se estivéssemos convivendo com um “céu de brigadeiro”.
Depois de a economia brasileira ter naufragado potencialmente durante quase 3 anos, agora dá sinais ainda discretos de recuperação ou pelo menos de ter parado de piorar, e, com a ocorrência concomitante de expressiva liquidez internacional, proporcionada pelos planos deflagrados pelas economias desenvolvidas visando ativar suas dinâmicas, o que tem sido alcançado com sucesso, acaba-se por superdimensionar, pela contaminação, os discretos resultados e avanços que têm sido sinalizados pelo Brasil.
Cometemos o erro de darmos elevado peso ao cenário externo já que dependemos da manutenção dos recursos especulativos por aqui, e, em detrimento observamos sem muito rigor as questões “intestinas” do nosso país, porque afora a enorme pauta de reformas e mudanças nas sangrias do caixa do Tesouro Nacional que não prosperaram e desaguam numa severa crise fiscal, que ganha citações discretas mas não as manchetes, e que se configura sem solução em perspectiva, deixando antever que para a elaboração do orçamento de 2019 será necessária a quebra da regra de ouro, fato que será altamente desgastante e soará como uma derrota para o governo atual, quem sabe por isso não seja tema tão abordado.
Por outro lado, mesmo com a distração da Copa do Mundo à frente, há um enorme vácuo na questão eleitoral, de vez que não se vislumbram candidatos com referenciais que possam criar perspectivas otimistas em relação ao novo governo.
Até 7 de abril próximo deveremos saber quais são os pretensos candidatos, pois é a data final para desincompatibilização.
Depois deverá ocorrer o acirramento e as funestas discussões e acusações típicas dos momentos pré eleitorais, contudo, crença até o momento prevalecente, sem que se vislumbre candidatos que possam avalizar os anseios da população brasileira.
Riscos internos presentes e com agravamento em perspectiva, inclusive com eventual mudança do Ministro da Fazenda, com mais destaque para a crise fiscal e sua efetiva importância ganhando destaque na elaboração do orçamento para 2019, e, intensificação dos ruídos políticos bastante desestabilizadores e confusos, com alto grau de dúvidas e incertezas, sugere que a cautela tenha início agora.
Os riscos externos tendem a ocorrer de forma gradual com a redução da liquidez internacional, elevação de juro, elevação de custos de crédito externo para o Brasil, que já ocorre sendo a colocação do Itaú um bom exemplo, e uma ressaca com a retração dos capitais especulativos, face a retração na oportunidade de ganhos com capitais gerados a partir de operações de “carry trade”.
Entendo que “procuram-se motivos para justificar uma reversão de tendência no nosso mercado local” e este já seja um anseio latente, mas que precisa ser fundamentado, e estes fundamentos/causas vão surgir mas ao final de 2º trimestre.
Previdentemente é possível se observar que o mercado, em especial a Bovespa, perdeu o ímpeto da alta que chegou a ser prognosticada até ao nível de 100.000 pontos ou mais, e o dólar tem dado sinais de apreciação, habilmente administrado pelo BC que antecipa o anúncio e realização das rolagens de swaps, mas que em algum momento terá que realizar ofertas de swaps cambiais novos para intervir e proteger as pressões inflacionárias.
É tempo de preservar os ganhos, porque no nosso entender o ajuste à realidade ocorrerá, até de forma descolada parcialmente do comportamento do mercado externo.
As dúvidas e incertezas que prevaleciam meses atrás continuam as mesmas só que agora o tempo já está mais curto.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO