Mercado convive com riscos relevantes mantendo o estado de otimismo. Temerário!

Num ambiente “sem medo de ser feliz” o mercado brasileiro preserva um estado de otimismo que, praticamente, neutraliza a percepção mais aguda dos riscos prospectivos.

Um tipo de “faz de conta” que poderá ter consequências, visto que o contexto da questão fiscal e do aquecimento das disputas em torno da sucessão presidencial, ainda muito incipiente devido a ausência de candidatos efetivamente viáveis e até pela ausência do vislumbre de quais ou qual poderá avalizar perspectiva melhor para 2019, poderá provocar intensos ruídos desestabilizadores.

Mas, continuamos com nosso ponto de vista que há um forte empenho em capitalizar, em grau acima da realidade, as pequenas melhoras que a economia vem sinalizando e que, em pontos cruciais se revelam sem sustentabilidade, o que nem sempre é detidamente observado, por abstenção da visão ou até pela conveniência.

O quesito inflação, ainda que forte em alguns itens fundamentais para a população, pelos critérios adotados pelo governo continua favorável e suscita a forte expectativa de que o COPOM possa cortar mais 0,25% na taxa SELIC na próxima semana.

É de se lamentar que os cortes da taxa SELIC não tenham tido repercussão nos custos do crédito, que por vezes, contraditoriamente até são elevados sob os velhos e contumazes argumentos.

A recuperação do emprego que se revelou favorável na última aferição ainda é extremamente discreta quando confrontada com a dimensão do problema no país.

Problemas recentes nas exportações de frango por problemas tornados públicos e a taxação americana ao aço e alumínio certamente terão impacto no desempenho da nossa balança comercial, ainda com saldos expressivos tendo em vista que as importações continuam contidas pois a dinâmica da atividade econômica ainda é fraca e o nível de formação bruta de capital não sinaliza recuperação.

Se observarmos os números teremos sempre um diagnóstico melhor do que os resultados propagados em discursos. Como costumamos dizer, números “falam” e são frios e não tem amigos.

Desta forma, é absolutamente necessário que quando se avalie os pontos positivos da lenta recuperação da nossa economia, não se perca de vista os desafios à frente que não são pequenos.

A questão fiscal do Brasil é muito séria, considerando que o país já tem rating 3 graus abaixo do conceito de investimento, e, não se vislumbra soluções fáceis para o problema já que o governo não conseguiu consolidar reformas e alterações fundamentais por falta de apoio político.

E, terá que construir o orçamento para 2019 para o próximo governo.

A questão política tende a se revelar mais complicada do que parece, já que deve assumir a cena no último semestre, embora já haja ruídos fortes no momento, mas a predominância sobre as questões econômicas deverá ocorrer, até porque nesse período deverá ganhar destaque a questão fiscal e a necessidade da quebra da regra de ouro, altamente desgastante, para a elaboração do orçamento.

Há sempre “no ar” uma preocupação com as decisões do FED americano no campo do juro e em torno dos bancos centrais, incluindo o FED, dos países desenvolvidos a respeito dos níveis de liquidez incentivados, que se retraídos afetarão fortemente os países emergentes, grandes beneficiários no momento.

É perceptível que o grau de entusiasmo em torno do desempenho da BOVESPA já foi maior, há mais sensatez neste momento, da mesma forma que, embora se projete o preço de forma comportada no ano, há sempre expectativas em torno do dólar, cujo preço reage a qualquer sinal menos favorável, embora o BC esteja sempre atento.

Tem alguns sinais que devem ser observados. O Itaú, o grande banco brasileiro, captou US$ 750,0 Bi em bônus perpétuos com custo mais elevado, pagando um “yield” de 6,5% aos tomadores, e, ao mesmo tempo, a agência de rating Fitch rebaixou o seu rating soberano de BB+ para BB-, porém mantendo a nota do banco acima da do Brasil.

Evidentemente, que o mercado internacional observa o Brasil nos seus detalhes fundamentalistas e demonstra mais sensatez dos que os investidores especulativos, com recursos oriundos de operações de “carry trade”, que se deslocam para o Brasil ávidos por rentabilidade no curto/curtíssimo prazo e que ao menor sinal de alerta podem provocar reversão de suas posições, desconstruindo rapidamente o que levou meses para ser construído e contaminando o ambiente com euforia.

Entendemos que a volatilidade está no foco do comportamento do mercado financeiro brasileiro na renda fixa e variável, é uma questão de tempo, já que razões e motivos estão nas perspectivas deste ano.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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