Guerra comercial é álibi para mascarar reversões por razões pontuais do país!

Pontuamos ontem que há sinais de insegurança e que isto deveria conduzir o nosso mercado financeiro, em especial nos quesitos Bovespa e dólar, a uma reversão visto que os problemas “intestinos do Brasil” tornam temerárias as perspectivas tão favoráveis orquestradas pelos analistas, que, em regra, vinham fazendo “vista grossa” para os nossos problemas e persistiam em emitir análises prospectivas severamente contaminadas pelo cenário externo, onde ainda prevalece exuberante nível de liquidez impulsionada pelas economias desenvolvidas.

Também tivemos oportunidade de ressaltar que o mercado brasileiro deveria passar a apresentar volatilidade, com viés de baixa, com a Bovespa perdendo o ímpeto altista que levou os analistas a propagarem o alcance de 100 mil pontos ou mais, porém que precisava ter um motivo mais forte e que isto poderia acontecer de forma descolada em relação ao “mercado guia para o Brasil”, ou seja, Wall Street, que na realidade repercute causas e fatores que nem sempre se relacionam com o Brasil, que é um emergente beneficiário do momento, mas não protagonista.

O humor está mudando por aqui onde o Congresso Nacional, até de forma surpreendente “entrou em recesso branco” e já antecipou as discussões em torno da eleição presidencial e também no tema coligações, etc…, deixando de focar os interesses que focam a economia, que pelo menos para aquela casa vai ficando num patamar secundário.

Há inúmeros pré-candidatos que, por fim, serão confirmados até 7 de abril, mas muitos já sofrem “bombardeios” e devem ficar pelo caminho, e não surge “o novo” desejado com competência para criar ambiente favorável para uma visão prospectiva mais eficiente para o Brasil.

Há guerra comercial nos atingirá, se não revertida, em itens importantes da nossa pauta de exportações, mas nada tão dramático a ponto de afetar a dinâmica da Bovespa e do dólar como está sendo sinalizado, até porque a dita recuperação da nossa economia ainda não enseja crescimento das importações de forma substantiva, portanto com baixo reflexo no saldo final da balança comercial.

Neste momento ressalta que somos um país emergente, potencialmente produtor de insumos agrícolas e minerais com baixo valor agregado, e isto nos retira a capacidade de enfrentar esta disputa como protagonista.

Embora até então, mesmo com volatilidade o ambiente tenha sido mantido com otimismo, há sinalizações numéricas de que os “ventos” estão mudando sem que se dê destaque.

O fluxo cambial de março está negativo em US$ 3,728 bi até o dia 9, com US$ 5,759 Bi financeiros líquidos retirados do país.

E o saldo do fluxo cambial que foi US$ 8,063 Bi positivo em janeiro, já está reduzido para tão somente US$ 2,881 Bi em 9 de março.

Discretamente, sem alardes, os recursos financeiros vão se retirando do país.

Os bancos estão com as suas posições vendidas até o dia 9 em US$ 20,3 Bi, e certamente será difícil que as consigam cobrir com ingressos positivos no mercado de câmbio, embora se protejam com hedge e o BC vem rolando com anúncios prematuros os swaps vincendos.

Portanto, há uma considerável tendência a mudança de humor no nosso mercado financeiro, em especial Bovespa e dólar, por razões internas do país, e, que poderá se acentuar com mudanças impactantes advindas do exterior.

Atitudes operacionais sinalizam isto e números do fluxo cambial sinalizam tendência que deve se acentuar.

Portanto, o risco de um “sell off” por aqui não é descartável, embora não desejável, pois causaria uma desorganização momentânea nos preços e forte impacto no preço do dólar, mesmo que monitorado pelo BC.

Enfim, há motivos para precaução acentuada.


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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