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Contas externas ruins e fluxo cambial não sancionam dólar a R$ 2,20

A necessidade de financiamento externo do país era em agosto, segundo dados do BC, de US$ 19,5 Bi, e deve permanecer neste entorno, já que as projeções para o déficit em transações correntes apontam para US$ 80,0 Bi ao final do ano se contrapondo à projeção de US$ 60,0 Bi para os IED´s.

É um montante expressivo se considerarmos já estarmos no 4º trimestre do ano e o fluxo cambial ter começado o mês de outubro mantendo a tendência negativa que já ocorre desde junho deste ano.

Os bancos estão suportando “o que está faltando”, atualmente algo em torno de US$ 8,7 Bi, em suas posições vendidas no mercado à vista, que estão ancoradas em linhas de financiamentos (venda à vista e recompra a prazo) concedidas pelo BC de US$ 6,6 Bi. 

Com isto, “substituem” a figura do BC como vendedor de dólares à vista no mercado como seria natural ocorrer, mas que não é conveniente para a autoridade monetária, pois, se assim o fizesse, iria deixar muito evidente a fragilização da atratividade do país perante os investidores estrangeiros.

Se esta estratégia persistir até o final do ano não se descarta que estas posições vendidas  dos bancos no mercado à vista venham a alcançar o dobro do montante atual.

Este cenário tem tido atenuada a pressão que naturalmente exerceria sobre o preço da moeda americana, pela perspectiva de que, ocorrendo a presumível postergação por parte do FED americano da vigência intacta do seu programa de incentivo monetário até meados do ano próximo, haja tempo para que o Brasil possa atrair capitais estrangeiros, ainda que especulativos, dado estar praticando taxa de juro elevada.

É um desafio muito grande para o Brasil já que o montante da insuficiência é grande e não se pode ter a convicção de que vamos ter “tsunamis” de recursos migrando para o país. Acreditamos mesmo que é possível que os fluxos melhorem, mas dificilmente atingirão a dimensão da nossa necessidade atual.

O fato novo envolvendo a disputa política nos Estados Unidos entre republicanos e democratas em torno do orçamento e do teto de endividamento, como já havíamos salientado semanas atrás, dá sinais de que impacta sobre as decisões dos investidores externos, face às incertezas. Este fato foi detectado em estudo realizado pelo Barclays e se confirma nos dados do fluxo cambial financeiro brasileiro que do dia 27 até o dia 4 registrou saídas líquidas de US$ 1,356 Bi, após a recuperação ensaiada em setembro quando foi positivo em US$ 2,988 Bi.

 Nos primeiros 4 dias úteis de outubro o fluxo financeiro já está negativo em US$ 887,0 m.

O fluxo cambial total somente nos primeiros 4 dias úteis de outubro já acumula saldo negativo de US$ 2,2 Bi, após saldo negativo de US$2,06 Bi no mês de setembro.

O fluxo comercial registrou nestes dias iniciais de outubro saldo negativo de US$ 1,324 Bi.

Ao observamos a posição de balança comercial – câmbio contratado e físico – últimos 12 meses, constatamos que há um saldo de exportações a ter câmbio contratado de US$ 16,9 Bi e um saldo de importações na mesma situação de US$ 15,7 Bi, o que não sugere que o fluxo comercial possa ter melhora, pois com o preço do dólar atual é mais sugestivo que os importadores incrementem suas contratações ocorrendo o oposto com os exportadores.

Por isso, é que temos salientado que a taxa de câmbio no entorno de R$ 2,20 está absolutamente fora da realidade no contexto atual. É importantíssimo que observemos que o Brasil tem causas próprias que o impedem de adotar formação de preço da moeda americana simétrica com o comportamento externo.

Taxa cambial com o real apreciado de forma incompatível deixa em aberto a possibilidade de movimentos bruscos de alta no preço face ao incremento da demanda a partir da percepção da continuidade da insuficiência de fluxo cambial positivo para o país e ocorrências deste tipo devem ser mitigadas pelo BC, com a mesma intensidade e acuidade com que foram as exacerbações da alta até final de agosto passado.

Na realidade o que nos resta de imediato para atrair capitais externos especulativos é a nossa taxa de juro, por isso defendíamos o incremento da alta da taxa Selic pelo Copom passando-a para 9,75% ao invés do 9,50% consensual, com a intenção de anteciparmos atitudes visando aumentar a atratividade para os investidores que focam rentabilidade, e que trariam as divisas que o país esta carente neste momento.

Como o BC optou pelo 0,50% indo na linha do mercado e não da ousadia, que na margem coibiria mais intensamente também a espiral inflacionária que ainda está muito distante do centro da meta, entendemos que muito provavelmente não será obtido o volume de recursos externos líquidos que precisamos para fechar o financiamento do déficit em contas correntes.

E, se o impasse político americano continuar se arrastando mantendo incertezas, é bem possível que as nossas melhores perspectivas de melhora de fluxo não se consolidem, ainda que o FED efetivamente postergue a vigência intacta do programa de incentivo monetário.

O preço do dólar neste momento, face às incertezas externas, mas ainda acreditando que o FED postergará o prazo do seu programa, deveria estar próximo de R$ 2,25 e não de R$ 2,20, que no nosso entender é um preço fora do ponto e não sustentável. 

Por enquanto, continuamos projetando o dólar para o final do ano ao preço de R$ 2,30, mas há razões para não ser otimista em relação a 2014.

 

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