As circunstâncias que afligem o mercado internacional neste momento tem efeito contracionista nos fluxos de capitais, principalmente especulativos, para os países emergentes dadas às incertezas quanto ao desenlace das questões que envolvem o impasse orçamentário americano e o teto do seu endividamento.
O Barclays divulgou avaliação em que constatou que na semana encerrada no dia 2 houve uma reversão nos fluxos de recursos para os países emergentes que com a retirada de US$ 2,41 Bi dos fundos focados nestes países, pondo fim a uma sequência de 4 semanas de fluxos positivos. Para a América Latina, o banco apurou que a saída foi de US$ 400,0 M de fundos de ações.
Isto corrobora com a nossa percepção já abordada em comentários antecedentes, de que na medida em que se arraste a crise política americana em torno do orçamento e do teto da dívida os reflexos serão negativos para os países emergentes, que estão trabalhando com a perspectiva de melhora de fluxos de recursos especulativos face à eventual postergação da vigência intacta do programa de incentivo monetário do FED para o ano que vem.
Mas, no Brasil, temos fatores adicionais para que o preço da moeda americana não sofra acentuada depreciação a ponto de colocá-la abaixo de R$ 2,20 ou muito próxima, sendo razoável admitir-se que, mantida a perspectiva de melhora dos fluxos de recursos ainda que especulativos, deva flutuar entre R$ 2,20 a 2,25, mas neste momento em que surge um novo problema afetando esta perspectiva favorável deveria galgar preço mais próximo de R$ 2,25.
O Brasil tem este último trimestre para alcançar recuperação de fluxo de recursos em números dantescos, visto a diferença entre o nosso déficit em transações correntes tendente a fechar o ano em US$ 80,0 Bi e as projeções dos IED´s até o final do ano não superarem US$ 60,0 Bi, tendo à margem um desempenho decepcionante da balança comercial que está projetada para obter pífios US$ 2,0 Bi de saldo ao final do ano, havendo, contudo, grande possibilidade de fechar a “zero”.
Este cenário prospectivo para o trimestre que se iniciou e que fechará o ano, trás desalento na questão cambial, e, por si só seria fator indutor à alta do preço da moeda americana, que, contudo, não é precipitada pelas perspectivas ainda acreditadas de que os fluxos de recursos poderão apresentar recuperação neste período.
Desta forma, os fundamentos como temos salientado, que preocupam são mais intensos do que os que atenuam as preocupações presentes no mercado de câmbio brasileiro.
Desta forma, uma simples melhora do fluxo cambial neste contexto ainda obscuro, onde os saldos atuais são negativos, não pode ser determinante da apreciação verificada, mesmo que discreta, no preço do real.
No nosso entendimento, o que há é um movimento especulativo discreto por parte dos “vendidos” no mercado à vista e futuro de dólar para otimizar o preço para cobri-las, valendo-se do momento em que a demanda por “hedge” de curto prazo perdeu intensidade, persistindo porém, para o longo prazo, pois houve um movimento de demanda muito concentrado no mês de agosto em especial, fomentando, naquela oportunidade, movimento especulativo por parte dos “comprados” que conduziram o preço do dólar até R$ 2,45, que foi coibido pela estratégia de oferta diária de liquidez mínima adotada pelo BC a partir de 22 de agosto.
Agora, o BC precisa observar que temos um movimento atípico que provoca apreciação excessiva do real, mitigando a ocorrência de volatilidade mais acentuada. Embora este fato seja positivo para a política de contração da inflação, fica sujeita a variações bruscas e que acabam prejudicando a dinâmica negocial das nossas exportações e até pode estimular crescimento da demanda por “hedge” de curto prazo, que está acomodado.
O Boletim Focus divulgado hoje com data de 4 de outubro pelo BC, que expõe as projeções medianas de 100 instituições financeiras mantém a quase totalidade dos indicadores inalterados em relação à semana anterior para o final do ano: IPCA mantido em 5,82%; US$ em R$ 2,30; Selic em 9,75%; déficit em transações correntes em US$ 79,0 Bi; balança comercial com saldo positivo em US$ 2,0 Bi e IED´s em US$ 60,0 Bi; promove mudanças nas projeções para o PIB de 2,40% para 2,47% e da produção industrial de 1,92% para 1,70%.
Embora o mercado financeiro já tenha firmado consenso sobre a alta de 0,50% na próxima reunião do Copom, passando a Selic para 9,50%, continuamos com o entendimento de que a alta seria oportuna no percentual de 0,75% para antecipar um choque na inflação e, também, ao mesmo tempo tornar o juro brasileiro mais atraente para os investidores estrangeiros especulativos, já que é grande a necessidade de recursos externos para o financiamento do déficit em transações correntes.