Câmbio: qual será nossa política cambial no “amanhã”?

Como era esperado o G-20 não deu importância à denominada “guerra cambial”, um sofisma criado para nominar o efeito consequente dos programas de incentivo à retomada da atividade econômica por parte dos países desenvolvidos em crise, que ao promoverem substantivo aumento da liquidez combinado com redução da taxa de juro, provocam desvalorização paritária de suas moedas, otimizando a competitividade de seus produtos no comércio internacional.

Portanto, não foi recriado o Acordo de Bretton Woods!

Este é um efeito inevitável e, “a priori”, não intencional, já que os programas visam o estímulo da atividade econômica, e com a fragilização do juro ocorre a natural desvalorização da moeda.

Este sofisma foi cunhado pelo Ministro Mantega, que habilmente, ao invés de reconhecer nossas imperfeições, especialmente a magnitude incompatível da taxa SELIC que o país proporcionava aos investidores nacionais e estrangeiros, estes até com beneficio de isenção de IR, procurou exportar para os países desenvolvidos as nossas culpas pela apreciação do real ocorrida à época, na realidade desejada pelo governo para conter as fortes pressões inflacionárias presentes.

Tanto é que promovida a adequação da taxa SELIC à realidade brasileira, despertamos pouca atratividade aos investidores estrangeiros, preponderantemente especuladores, e o nosso real perdeu o “charme”.

O Brasil na realidade nunca foi vitima de “guerra cambial”, mas sim num momento de grande liquidez mundial e queda dos níveis internacionais de taxas de juro, oferecia uma descompassada taxa de juro em relação ao seu grau de risco e com isto atraia capitais especulativos. Portanto, os recursos estrangeiros não vieram atraídos pelo Brasil grande e próspero, mas sim pela excepcional e diferenciada oportunidade de grande rentabilidade nos investimentos especulativos.

Tanto é que os programas de incentivo por parte das economias desenvolvidas continuaram, porém com a brusca redução da taxa de juro SELIC não vieram para o Brasil os alardeados “tsunamis” monetários esperados, e na realidade, convivemos hoje com uma certa “ressaca” de ingressos de recursos externos, o que vem sendo revelada pelo saldo negativo do fluxo cambial.

Porém, o fato do G-20 ter passado ao largo do tema “guerra cambial” pouca relevância terá para o Brasil. Primeiro porque efetivamente nunca fomos vitimados pela dita cuja e segundo porque atualmente o Brasil é o gestor de sua própria perda de competitividade no comércio internacional, já que administra a taxa cambial focando a apreciação do real com o objetivo de conter pressões inflacionárias.

No momento não há como prognosticar qual será a política cambial de longo prazo, e a bem da verdade, nem mesmo de curto prazo, por isso fica difícil para o setor produtivo planejar e ousar investimentos.

E, na margem, o mesmo vale para a política de juro.

Sem horizonte, os investimentos ficam travados e não há ganhos de produtividade, comprometendo seriamente as perspectivas de crescimento econômico.

A convicção prevalecente ao final do ano passado era que teríamos uma taxa SELIC estável em 7,25% ao longo de 2013 e taxa cambial mais realista incentivadora ao setor produtivo exportador.

Num brevíssimo espaço de tempo, algo como os primeiros 45 dias de 2013, já mudamos para a taxa cambial sendo administrada focando a apreciação do real para confrontar com as pressões inflacionárias e, já se questiona se o próximo passo não será elevar a taxa SELIC.

E não podemos descartar a possibilidade de que a taxa cambial possa vir a ser outra vez turbinada, caso a atividade industrial evidencie desaceleração brusca e o crescimento mínimo desejado fique comprometido.

Portanto, só existem duvidas e incertezas no que diz respeito ao câmbio, juros e inflação, o que impede a existência de ambiente de otimismo e confiança por parte do setor privado.

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress