Por maior que seja a intensidade da propagação que se tem dado de intensidade de fluxo para o país, que em realidade não se confirma em termos líquidos quando o BC divulga o comportamento do fluxo cambial às quartas feiras, já que tem sido pouca atenção aos volumes de recursos que em concomitância deixam o país, não há razoabilidade no preço da moeda americana praticado em nosso mercado de câmbio.
O Brasil registra até o último dia 9 de maio ingressos brutos de divisas da ordem de US$ 259,5 Bi e saídas no mesmo período de US$ 256,4 Bi, restando um saldo de fluxo positivo de US$ 3,1 Bi, sendo US$ 2,5 Bi de origem comercial e tão somente US$ 0,6 Bi de origem financeira.
Se atentarmos para o fluxo financeiro que é o que conduz recursos para especulação na Bovespa e no mercado de renda fixa, o resultado líquido de US$ 0,6 Bi, exatos US$ 582,0 M, é decepcionante ante os ruídos todos que têm sido promovidos e que se presta a justificar a apreciação do real, o que não se sustenta como fundamento. Além disto, importante destacar que o fluxo financeiro líquido já se revelou negativo no mês de abril em US$ 1,015 Bi e até o último dia 9 acumulava em maio negativos US$ 1,519 Bi.
Para avaliarmos o quanto é insuficiente o resultado liquido de US$ 3,1 Bi de fluxo cambial basta atentarmos para o montante que foi transposto de fluxo insuficiente do ano passado para este e que estão sendo suportados por posições vendidas dos bancos, ancoradas em linhas de financiamentos em moeda estrangeira concedidas pelo BC e parte por banqueiros internacionais.
Viramos o ano com um saldo de fluxo cambial negativo em US$ 18,124 Bi, e com o fluxo cambial positivo deste ano de US$ 3,1 Bi, a insuficiência de fluxo está em US$ 15,0 Bi, que está sendo suportada pelos bancos com suas posições vendidas, que representam algo como 4% das reservas cambiais brasileiras, sendo ancoradas na parte substantiva (70%) por linhas do BC e em torno de (30%) por linhas de banqueiros estrangeiros.
Esta situação, desde que não ocorram grandes turbulências que escasseiem as linhas externas e impactem na formação do preço da moeda americana elevando-a a partir da demanda no mercado à vista, é confortável para os bancos, pois o BC está atuando vendendo swaps para apreciar o real focando a contenção das pressões inflacionárias e com isto induz a queda do preço do dólar provocando o aumento da taxa do cupom. Como as linhas de financiamento em moeda estrangeira são concedidas pelo próprio BC ou banqueiros estrangeiros em condições favoráveis, os bancos ficam atraídos para arbitrar com cupons cambiais e realizarem interessantes ganhos.
Só que a continuidade deste contexto com fluxo cambial adverso tem seus riscos, pois não havendo folga positiva no fluxo pode exigir do BC, num ambiente mais seletivo por parte dos bancos no exterior, para evitar uma alta maior, oferta de maior volume de swaps e ainda e principalmente mais linhas de financiamento em moeda estrangeira, pois a demanda poderá se potencializar no mercado à vista.
Contudo há limites para que as intervenções do BC não sejam objeto da percepção dos mercados internacionais que o país está carente de ingressos de recursos e relutante em utilizar diretamente suas reservas cambiais, sempre propagadas como antítese as teses que colocam o Brasil como país vulnerável, mas este quadro poderá ficar evidente aos especuladores estrangeiros que poderão detonarem movimento especulativo sobre o real, num ambiente em que a autoridade monetária já esteja com excessiva intervenção no mercado de câmbio.
O BC tem estoque de contratos de swaps cambiais, instrumentos financeiros indexados em dólar e juro liquidáveis por diferença em reais apropriados para “hedge” em montante entre US$ 85,0 Bi e tem um saldo de linhas de financiamentos concedidas aos bancos com recursos das reservas cambiais de US$ 10,4 Bi e demonstra claramente que busca reduzir este volume de intervenção.
Contudo, esta é uma tarefa delicada visto que com a intervenção consegue administrar a taxa cambial e se reduzir a oferta de swaps, em especial, o real passará a ser depreciado.
Quando ao final do ano passado o governo definiu o atual programa que reduziu a oferta diária para 4.000 contratos de swaps cambiais e também retirou o programa de oferta semanal de linhas de financiamentos em moeda estrangeira, comentamos no Câmbio News (disponível em ngo.com.br/câmbio-news) da época que acreditávamos que o controle do volume de oferta de swaps cambiais dar-se-ia através os processos de rolagens que permitiriam os ajustes da oferta.
Isto é o que parece vem ocorrendo mais recentemente, sendo que muitos técnicos e analistas passaram agora recentemente a vislumbrar esta possível estratégia.
Contudo, entendemos que a oferta de swaps cambiais ainda tem sido excessiva e é efetivamente o que provoca a distorção na taxa cambial, mantendo o real apreciado mesmo num ambiente que já sugere que estive em processo de reversão, ou seja, em discreta depreciação.
Acreditamos que a partir de 30 de junho o BC não renovará uma atuação programática, porém intervirá no mercado quando julgar necessário, mas tudo leva a crer que a demanda no mercado à vista tende a ter aumento de volume.
O risco disto tudo é que com base nos fundamentos, incertezas presentes e em perspectiva, e tendência bastante evidente de que o fluxo cambial tende ao negativo, a taxa cambial para o final do ano esta com projeção entre R$ 2,45 (FOCUS) e R$ 2,60 (pico do mercado) e há neste momento em aberto a possibilidade de uma variação entre 10% a 18% que pode ser considerado um risco já temos somente 7 meses para o final do ano.