Câmbio: O que deve ser foco para análise do preço do dólar e suas causas

É importante considerar que o fator que impacta na formação do preço da moeda americana é o fluxo cambial líquido, e, não perder de vista que este não tem sido tão favorável para o Brasil este ano a ponto de justificar a apreciação do real determinando um preço absolutamente desalinhado com a realidade, destacando-se que sequer foi coberta a insuficiência de fluxo cambial da ordem de US$ 18,0 Bi trazida do ano passado, mas tão somente reduzida para US$ 15,0 Bi

Observamos que há uma tendência em confundir-se o fluxo bruto de ingressos, que teve parcela relevante de recursos especulativos, que ingressaram no país e causaram impacto no mercado acionário e de juros, atribuindo-se ao mesmo o fundamento da apreciação do real, ignorando-se que, em concomitância, volumes quase equivalentes de recursos estrangeiros também tem deixado o país.

O Brasil contabilizou até o dia 9 último, segundo o BC, ingressos brutos de US$.259,5 Bi e saídas brutas de US$.256,4 Bi, restando um saldo de fluxo cambial liquido de US$.3,1 Bi, dos quais somente US$ 0,6 Bi financeiro, e este saldo tem efeito positivo de baixa magnitude na apreciação do real ou nenhuma, pois há a pré-existência de fluxo insuficiente carreado do ano passado de US$ 18,0 Bi, que na realidade corresponde à falta de liquidez no mercado de câmbio brasileiro em 2013, que assim ficou reduzida para US$ 15,0 Bi que está sendo carregada pelas posições vendidas dos bancos.

 A rigor, este déficit de fluxo no ano passado imporia ao BC a realização de vendas à vista ao mercado para equalizar a demanda. Contudo, o BC postergou esta ação objetiva que teria reduzido as reservas cambiais em torno de quase 5%, optando por levar os bancos a constituírem posições vendidas neste montante ao final do ano passado e financiá-los com linhas em moeda estrangeira com utilização das reservas cambiais.

Esta estratégia que ainda perdura se presta a ser temporária visando eventual melhora do fluxo cambial líquido e assim que com uma “solução de mercado” os bancos consigam cobrir estas posições vendidas e o BC não seja levado a dispor de parte das reservas cambiais e, como consequência, reduzindo-as.

Os bancos, data base 9 último, estão vendidos em US$ 15,0 Bi, o que corresponde à efetiva insuficiência de fluxos cambiais favoráveis até o momento e no cenário prospectivo não se vislumbra possibilidade do país vir a conquistar superávits no fluxo cambial, sendo bastante crível que, a exemplo do ano passado, venha a se tornar negativo, ampliando aquela insuficiência de US$ 18,0 Bi trazida de 2013.

Evidente que num quadro como este o BC não tem condições de aumentar as reservas cambiais, como em dado momento recente chegou a manifestar esta intenção o Presidente do BC, mas há forte probabilidade de que precisará dispor efetivamente de parte do estoque atual das mesmas.

Atualmente as posições vendidas dos bancos, carentes de fluxo favorável, representam 4 % das reservas cambiais e se a liquidez apertar face ao fluxo tornar-se negativo, precisarão ser ampliadas com linhas de financiamentos do BC ou dos banqueiros estrangeiros e poderão assumir números de desconforto para os bancos, e a solução objetiva com o BC vendendo divisas á vista das reservas cambiais não seria menos desconfortante, pois deixaria absolutamente evidente que o país não está atraindo recursos suficientes para atender a demanda.

Considerando que o fluxo de recursos especulativos ocorridos no 1º quadrimestre contribuiu sobremaneira para que o fluxo cambial líquido não tenha sido negativo desde o inicio do ano, precisamos considerar que é característica deste tipo de recurso a breve permanência no país, pois visa ganho rápido.

Assim, estamos convivendo com a perspectiva de que a reversão destes recursos possa ocorrer a qualquer tempo, acreditando mesmo que da Bovespa já esteja a algumas semanas saindo parte destes recursos, sejam por más noticias globais que determinam maior seletividade das aplicações, sejam por incertezas internas de origens diversas, ou ainda por fatores como o inicio das férias no hemisfério norte, quando normalmente os investidores mais agressivos zeram suas posições, ou mesmo de sinalizações mais concretas do FED americano sobre sua politica monetária.

Nesta fase de transição em que poderá estar presente a reversão dos recursos especulativos adentrados e déficits correntes no fluxo comercial e mesmo no financeiro não envolvendo recursos especulativos, poderá também ser reduzida a demanda e relevância na formação do preço da moeda americana dos contratos de “swaps cambiais” e acentuar a demanda por divisas efetivas no mercado à vista.

Neste ponto poderá ocorrer um corner. A pressão tendo origem no mercado à vista com liquidez insuficiente tende a elevar o preço da moeda americana e ser pouco sensível a ofertas de contratos de “swaps cambiais”, visto que o “hedge” estará sendo desfeito em consequência da liquidação efetiva com remessa de divisas para o exterior no mercado à vista.

Ocorrem sinais ainda isolados e controláveis deste movimento possível em perspectiva, repercutindo-se em volatilidade no preço do câmbio, como ocorreu ontem, mas, proximamente, poderão ganhar intensidade de forma sustentável e então teremos pressão efetiva no preço da moeda americana.

A dimensão da intervenção do BC no mercado de câmbio, próxima de US$ 100,0 Bi composta em torno de US$ 85,0 Bi em swaps cambiais e US$ 10,0 Bi em concessão de linhas de financiamento, precisaria ser reduzida e é isto que o BC vem perseguindo no momento.

Contudo, o BC ainda tem conseguido monitorar a taxa cambial através a oferta de “swaps cambiais” um pouco excessiva, mas se a reduzir poderá provocar elevação da taxa do dólar e assim anular o ganho da arbitragem entre o custo da linha para financiar as posições vendidas e a renda do cupom cambial, o que tornaria desinteressante para os bancos continuarem suportando a liquidez do mercado através a constituição de posições vendidas, ocorrendo então pressão para que o BC venda dólares das reservas cambiais para cobri-las, se o mercado a vista em si não tiver condições de fazê-lo.

Por isso, salientamos que se o movimento de recursos especulativos precipitar a reversão do fluxo ocorrido, a pressão de demanda impactará na formação do preço e isto terá uma série de efeitos colaterais na estratégia em prática atualmente e na ponta final tende a provocar a apreciação do preço da moeda americana.

Então, quando se observa com rigor os sinais que o FED emite sobre sua politica monetária ou sinais de que a economia global não tem o desempenho esperado e sugere seletividade de risco por parte dos investidores ou sinais internos fomentando incertezas, etc. é porque representam “gatilhos” que podem ser determinantes na intensificação de saídas de recursos estrangeiros do país e que poderão pressionar a taxa cambial, como sinalizam todas as projeções, afetando fortemente a estratégia que vem sendo praticada pelo BC para dar suporte à apreciação do real.

Em verdade, o que ainda provoca e sustenta a apreciação do real não é o fluxo cambial e sim a intervenção do BC com oferta de “swaps cambiais”, mas a tendência é de que este instrumento perca força.

Hoje teremos nova divulgação do fluxo cambial pelo BC e da Ata da reunião do FED. Importante observar.

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