Análise do Mercado – 19/12/2012

Os comentários em torno da decisão do BC de reverter a medida restritiva de posições “vendidas” dos bancos no mercado a vista, repondo o limite em US$ 3,0 Bi, após o que ocorrerá o alcance do depósito compulsório punitivo, que havia sido a US$ 1,0 Bi, tem sido muito objetivos

Os comentários em torno da decisão do BC de reverter a medida restritiva de posições “vendidas” dos bancos no mercado a vista, repondo o limite em US$ 3,0 Bi, após o que ocorrerá o alcance do depósito compulsório punitivo, que havia sido a US$ 1,0 Bi, tem sido muito objetivos no sentido de que é uma medida para efetivamente baixar o preço do dólar.

Tecnicamente é notório, que o BC está utilizando todos as estratégias possíveis para evitar a oferta direta de leilão à vista no mercado, que é o “recado” que vem recebendo já a algumas semanas dos agentes, mas para tanto precisaria abrir mão de valores da reserva cambial, que este ano já não evoluiu tanto mas é suficiente, e isto poderia ser um sinal explicito de reconhecimento de que o Brasil está perdendo fluxo cambial de recursos externos, num ambiente em que houve expressiva redução do juro brasileiro, que assim fica evidente que era o grande apelo a estes capitais; crescimento econômico fragilizado muito aquém da pior expectativa; e, também pelos fatos antecedentes onde o país, por seu governo, alegou globalmente que estava sendo vitima da “guerra cambial” e de “tsunamis” de dólares, que na realidade não se consolidou, e que não passaria desapercebido.

A liberação das posições vendidas dos bancos até US$ 3,0 Bi cada, o que lhes permite que captem dólares diretamente das suas linhas de crédito junto aos bancos estrangeiros, tem uma similaridade de ser um pouco “mais do mesmo” do que vinha tentando com as ofertas de leilão de venda conjugado com compra. Ampliou o alcance de linha externa por outro mecanismo que não seja o BC e os coloca, em tese, em defesa da apreciação do real. Em tese, frisamos!

 A diferença na pratica é que, teórica e tecnicamente, os bancos utilizando as linhas, que tem um custo financeiro, sem travar no momento a taxa do dólar de retorno da linha que pode ter prazos mais flexíveis, tenderiam a operar no mercado futuro pressionando a taxa do dólar para baixo, visto que se conseguirem, em perspectiva, adquirir no mercado o dólar a preço mais baixo na variação cambial favorável conseguem compensar o custo financeiro da captação no exterior.

Na margem esta operação permite a captação de recursos localmente em reais para os bancos, que é interessante pelo baixo custo, o que não ocorre na operação conjugada com o BC.

Mas isto é possível e factível se houver melhora efetiva no fluxo em perspectiva, caso contrário a pressão da falta de liquidez tem força para impor a alta do dólar. E esta parece ser a dúvida que conflita as intenções do BC. Podem estar acontecendo projeções prospectivas, sobre o fluxo cambial para o país, divergentes entre o BC e o mercado de câmbio.

Então, a nova solução dada pelo BC estaria atacando somente a consequência e não a causa que pode ser mais duradoura, sendo um “sedativo” para baixar a pressão, mas que poderá voltar requisitando a liquidez a vista do BC, caso não haja convicção pelo mercado de que há espaço para operacionalizar a taxa futuro do dólar de forma favorável.

Se isto ocorrer, então para evitar que o mercado retorne imediatamente pressionando a taxa, o BC deverá ofertar “swaps cambiais” para irrigar a oferta de venda, onde os bancos farão “hedge” de suas posições vendidas, mas será necessário verificar se as condições destes instrumentos financeiros serão interessantes.

Se não for, retorna a pressão sobre o preço do dólar e voltamos à mesma, o mercado continuará pedindo leilão de dólares à vista.

O que beneficia o BC na sua resistente postura de não realizar leilão a vista no mercado de câmbio, é o fato de termos poucos dias úteis para o final do ano e a crença de que a última semana será morna no mercado de câmbio.

Mas o problema não se encerra neste ponto estatístico, podemos ter uma “taxa administrada” no limite no final do ano para não onerar muito as empresas com exposição nos seus balanços, e, na contrapartida beneficiar os ajustes de balanços das instituições financeiras, inclusive do BC sobre suas reservas cambiais, mas continuará em 2013.

Ressaca é ressaca quando ocorre perda de atratividade, o governo precisará agilizar a otimização dos marcos regulatórios para incrementar a janela do IED´s que podem representar a alternativa melhor e intensa.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

 

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