Análise do Mercado – 20/12/2012

O Banco Central do Brasil acertou ao “calibrar” melhor o prazo das ofertas de leilões de dólares conjugados, e, com isto consegue fazer funcionar o “sedativo” pretendido na contenção da forte pressão altista do preço da moeda americana, que se fazia presente no mercado.

O Banco Central do Brasil acertou ao “calibrar” melhor o prazo das ofertas de leilões de dólares conjugados, e, com isto consegue fazer funcionar o “sedativo” pretendido na contenção da forte pressão altista do preço da moeda americana, que se fazia presente no mercado.

A sinalização é de que o BC acredita que em 30 dias o fluxo cambial deve melhorar com as reversões normativas que praticou nos Pagamentos Antecipados de Exportações e no prazo mínimo de Empréstimos Externos com agravo do IOF de 6%, o que, pela reação, não tem a mesma expectativa por parte dos bancos. Ampliando a oferta para 90 dias, houve uma melhor convergência desta expectativa.

Claramente buscando evitar realizar uma objetiva e pontual oferta de divisas ao mercado com leilão a vista, puro e descompromissado, cujas razões, no nosso entendimento, já colocamos de forma bastante detalhada, a autoridade monetária buscou todos os meios técnicos de contornar esta demanda premente dos agentes do mercado, buscando acomodá-la com estratégias alternativas, que não resolvem o problema efetivo de queda brusca do fluxo cambial para o país, mas que, contudo, atenuam estas pressões pontuais presentes e repõe a operacionalidade dos negócios em níveis de taxas menos exacerbadas.

É incontestável o fato de o Brasil estar perdendo fluxo de recursos externos e, neste dezembro é típico o aumento de demanda, o que dá origem a necessidade de atuação do BC na complementariedade da oferta que, contudo, refugou na forma adequada de fazer, o que o levou a buscar outras estratégias, algumas absolutamente ineficazes e outras nem tanto, mas parece que agora encontrou melhor o “ponto que comporta perspectivas mais alinhadas” no prazo dos leilões conjugados, que ameniza a “febre” (a alta do preço), mas não “cura a doença” (queda no fluxo), que assim, pode reacender-se, mas isto já no ano que vem, se as perspectivas vierem a ser desapontadoras.

O fluxo cambial divulgado pelo BC ontem, com data até 14, presumível 12 devido a estatística ter como base a data da liquidação, indica resultado negativo de US$ 4,215 Bi, expressivo para período tão curto, e que sugere que os bancos ficaram até então com posições “vendidas” no mercado a vista da ordem de US$ 3,3 Bi. Provavelmente, “pela movimentação” e até ampliação por reversão de normas vigentes do limite máximo de US$ 1,0 Bi para US$ 3,0 Bi, sem alcance do depósito compulsório “punitivo” sugere que após aquela data o cenário desfavorável foi se acentuando mais intensamente.

Há razões efetivas de pressão sobre a formação do preço da moeda americana no nosso mercado, e é preciso entender que a solução dada ameniza-as com a perspectiva de que haverá melhora no fluxo cambial, por isso o leilão conjugado a prazo mais amplo, 90 dias, mostrou efetividade no objetivo do que quando executou ofertas com prazos de 30 dias.

A liberação maior de uso de linhas externas, quase mais do mesmo que vem fazendo, dá mais liberdade negocial para os bancos, têm atrativos e até sugere que possam atuar buscando conter a alta, mas é fundamental que haja liquidez no mercado futuro, caso contrário não atinge o objetivo e com isto inibe os bancos a ficarem expostos. Acreditamos que em razão desta percepção, o BC resolveu fazer oferta de leilão conjugado no mercado a vista, porém com prazo mais amplo. Caso contrário, provavelmente, teria que fazer oferta de “swaps cambiais” para os bancos ancorarem o “hedge” das posições vendidas.

A síntese do quadro é que o preço esta sendo “acomodado” neste momento, mas nada está resolvido prospectivamente. Se o fluxo cambial não melhorar, o cenário voltará a pressionar a taxa cambial, afinal será a força do mercado, que não deve ser menosprezada, e a “terapia” por parte do BC precisará ser efetiva e não paliativa, portanto, vendendo dólares à vista ao mercado, sacando das reservas cambiais do país.

Na divulgação ocorrida hoje do Relatório Trimestral de Inflação a autoridade, finalmente, reduziu a previsão de crescimento do Brasil a 1%, já totalmente admitida pelo mercado financeiro a semanas e, ao mesmo tempo reformulou a previsão de inflação do IPCA neste ano para 5,7% anteriormente projetada em 5,2%.

Outro fato importante é a sinalização de que a SELIC tende a prevalecer com os 7,25% ao longo de 2013.

A autoridade monetária enumerou suas projeções para o ano de 2013, mas consideramos que o quadro global, incluindo o nosso, está tão obscuro que tais indicadores são apenas anseios e tendem a estar distante da realidade que se fará presente, embora, mais uma vez gostaríamos de destacar que, o BC tem acertado mais do que os analistas do mercado financeiro nas projeções e percepções dos impactos da crise internacional no país.

É de se destacar que o Ministro Mantega, fiel ao seu estilo, fez projeções de crescimento que entendemos inalcançável no ano de 2013, como o crescimento de 4%, mas não foi feliz em buscar ganhar manchete com a menção de que os combustíveis vão subir de preço. Todos sabem que esta é uma necessidade premente, por isso desnecessária a citação sem estipular a data, visto que é de domínio publico que a Petrobrás vem “financiando” o combustível barato para os cidadãos brasileiros lotarem e congestionarem as vias das principais cidades do Brasil, visto que o Brasil já não é autossuficiente em petróleo e esta importando mais caro para vender mais barato.

 


Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO

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