No mercado internacional o dólar evidenciou recuperação perante a uma gama de moedas, porém no nosso mercado interno ocorreu nova apreciação do real contrariando a tendência, consequência da continua intervenção do BC no mercado de câmbio, com oferta de novos contratos de swaps cambiais e rolagem de antigos vincendos no próximo dia 2 de maio, oferta que se caracteriza como excessiva.
A autoridade monetária está envidando todos os esforços para incentivar a apreciação do real com foco na contenção da espiral inflacionária, que com o item alimentos liderando a alta demonstra perspectivas negativas para o país, com grande probabilidade de que o IPCA venha a romper o teto alto da meta de inflação que é 6,5%.
A apreciação do real decorre diretamente do excesso de oferta de swaps cambiais e não dos ingressos de recursos externos.
Como temos salientado, o fluxo de recursos que ingressam no país tem sido muito destacado e tem havido relevante descuido de observação no montante de saídas de recursos. No ano ingressou no país o total de US$ 181,255 Bi e saiu o total de US$ 181,096 Bi, que resulta num pífio fluxo positivo de tão somente US$ 159,0 M e se separarmos a parcela do fluxo financeiro da do fluxo comercial, temos no financeiro um saldo positivo liquido de US$ 1,330 Bi no ano até o ultimo dia 4, nada que sugira os intensos ruídos que tem sido propagados em torno do assunto.
Ademais, há nas posições “vendidas” dos bancos ancoradas parcialmente por linhas fornecidas pelo próprio Banco Central do Brasil, que se prestaram a geração de liquidez insuficiente no mercado a vista por carência de ingressos, um montante, data base 4 de abril, da ordem de US$ 18,1 Bi que precisa ser coberta pelo fluxo cambial, somente após o que poder-se-á afirmar que os ingressos de recursos estarão impactando na apreciação do real frente ao dólar.
Afirmar-se que o fluxo é que está determinando a apreciação do real é ignorar que há um passivo em fluxo da ordem de US$ 18,1 Bi que precisa ser coberto pelos ingressos de divisas, pois caso não o seja, em algum momento o BC será levado a suprir esta deficiência com a oferta via leilões de venda de igual montante para que zerem esta exposição.
Há grandes contraditórios neste momento a respeito do Brasil. Enquanto jornais brasileiros noticiam que fundos pretendem captar recursos a serem aplicados no Brasil, respeitáveis gestores de fundos internacionais, como a PIMCO, destacam que no momento predomina um ambiente extremamente negativo ao país por parte dos investidores.
A artificialização do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio praticada pela autoridade monetária tem capacidade de auxiliar no controle da inflação, neste momento bastante aquecida e com viés de alta, mas não sem ônus para o país em seu parque industrial e na expansão das importações de forma generalizada, transferindo geração de emprego e renda para outros países, o que poderá ter influência negativa nestes itens internamente.
No momento, com uma perspectiva de inflação no pico da meta, controle fiscal sendo observado sem convicção de alcance pelos analistas, crescimento baixo, com crescimento industrial nanico, etc. o país continua despertando baixa atratividade aos investidores estrangeiros no setor produtivo, restando o investidor especulador que vem motivado pelo juro elevado e as ações com preços baixos.
No nosso entender, vem ocorrendo uma troca de divisas especulativas ingressando e divisas que estavam alocadas no setor produtivo deixando o país, o que poderá ter reflexos ruins.
Recursos especulativos são gerados a partir da montagens de “carry trade” e permanecem nos países por um breve período suficiente para ganhos de oportunidade.
Por isso, entendemos que a alta expressiva ocorrida na Bovespa pode ser determinante para que parte dos capitais especulativos que ingressaram focando ganho com ações já esteja saindo do país, até adicionalmente motivado pela oportunidade da taxa cambial bastante conveniente.
A mudança que ocorre, na nossa percepção, do investidor estrangeiro em relação ao Brasil é de que observa que o país está voltando a ser o “oásis do ganho fácil mundial”, por isso vem para o ganho rápido e sair rápido.
Este é o risco para o Brasil, pois pode dificultar a estratégia do governo de conduzir a apreciação do real, num ambiente em que o fluxo cambial tenda a se tornar negativo.
Não descartamos esta possibilidade de forma alguma, e acreditamos mesmo que se não houvesse ocorrido este movimento de ingressos especulativos, que assim mesmo não proporcionou melhora em termos líquidos do fluxo cambial, mas foi suficiente para bancar o expressivo montante de recursos que deixou o país no 1º trimestre, o preço do dólar teria atingido R$ 2,50 como prevíramos para esta época.
Como se trata de capital extremamente volátil e que pode deixar o país a qualquer momento, entendemos que não devemos descartar a ocorrência de mudança abrupta no preço da moeda americana.
O quadro prospectivo se configura bastante complexo para a autoridade monetária, sendo absolutamente enganosa a calmaria e apreciação do real que vem prevalecendo, sob forte indução. Nada do que está ocorrendo é definitivo e sustentável.
Há desafios enormes para o governo que, contudo, reage com discursos preservando otimismo acima do possível, mas tudo fica muito exposto e sujeito a criticas por ser um ano eleitoral importante.