O ambiente em torno dos fluxos de recursos para o Brasil está aquecido havendo ruídos intensos e trata-se do assunto como se estivesse havendo uma enorme folga nos montantes líquidos ingressados no país, o que não corresponde à realidade.
Tombini, Presidente do BC, afirmou durante seminário em Washington, USA, que com a normalização das condições monetárias globais, o Brasil poderá voltar à estratégia original de isolar a política monetária, com a acumulação de reservas e que, desse modo, poderá controlar a liquidez doméstica.
É mais um anseio de “volta ao passado”, já iniciado com a apreciação forçada do preço da moeda americana, colocando-a à serviço da contenção inflacionária, que agora acrescenta a pretensão de voltar aos áureos tempos em que os fluxos de recursos externos eram grandiosos para o país e assim permitiu que com o aumento da Dívida Pública em reais se aumentasse expressivamente as reservas cambiais do país.
A impressão que fica dos fatos recentes é que o falta ou é ignorada intencionalmente a percepção de que o Brasil de hoje desperta menor atratividade perante os investidores estrangeiros, mesmo os especuladores com capitais forjados a partir de montagens de “carry trade”, a despeito de ter retomado a oferta de elevados juros.
Como temos destacado o contexto atual do país é diferente!
Discursos enfáticos procurando reverter a visão pouco favorável a respeito da governança do país e seus resultados pouco alentadores dificilmente convencerão o mercado internacional a mudar de pronto a reversão conceitual havida em relação ao Brasil.
O fato de a Presidenta Dilma afirmar e reafirmar que a inflação está sobre controle e também a política fiscal, todos sabem que não estão, bastando verificar os números a respeito, não precisando debater a respeito, os próprios números evidenciam isto por si sós.
O Boletim FOCUS de 11 divulgado hoje pelo BC contendo as medianas das projeções aponta elevação de 6,35% para 6,47%, e provavelmente ocorrerá o estouro do teto da meta, pois a pressão advinda do item alimentos tende a ser mais duradoura do que o previsto.
Muito provavelmente, contrariando grande parte da expectativa dos analistas do mercado de primeiro momento, a SELIC precisará ser elevada e, provavelmente, não somente uma vez mais.
A inflação é algo intensamente incomodo para o governo, em especial em ano eleitoral e na medida que vem atingindo as classes C e D, por isso acreditamos que não haverá trégua.
Da mesma forma, o Presidente Tombini quando evidencia o anseio de voltar a elevar as reservas cambiais e controlar a liquidez doméstica, certamente não ignora, mas de toda forma, atropela os próprios números divulgados pelo Banco Central do Brasil, ao qual preside.
O fluxo cambial líquido total de recursos externos até o último dia 4 era de tão somente US$ 159,0 M e o fluxo financeiro no mesmo período em torno do qual tem se feito enorme barulho é de tão somente US$ 1,3 Bi.
Há ingressos pontuais de capital especulativo direcionado ao mercado de juro e Bovespa, mas há, sem dúvida, intenso movimento de saída de recursos que não vem sendo bem observado e considerado nas abordagens em torno do tema.
O Brasil tem expressivo montante de dívidas vincendas do setor privado este ano, e, dado o contexto atual uma grande parcela poderá deixar de ser rolada e, então, liquidada.
E quando observamos que ainda há nas posições “vendidas” dos bancos o montante de US$ 18,1 Bi de insuficiência de ingressos de recursos que precisa ser coberto por fluxo líquido favorável, caso contrário o BC poderá ser levado a realizar leilão de venda para cobrir os bancos.
Este já é um desafio que precisa ser superado antes que o país vislumbre a possibilidade, remota no nosso modo de entender, de ter fluxo de recursos externos tão favoráveis a ponto de permitir a elevação das reservas cambiais.
A nossa balança comercial está com um desempenho frágil e tende ao negativo este ano, nossos produtos manufaturados despertam pouca atratividade no mercado externo e somos atualmente exportadores de “commodities” e muito à mercê da China.
O Boletim FOCUS reduz a projeção de superávit de US$ 4,0 Bi para US$ 3,0 Bi, mas provavelmente a tendência é a reversão ao negativo. Com o real apreciado é bastante provável que, em detrimento da indústria nacional, sejam incrementados os volumes de importações.
Temos um saldo líquido a quitar de comércio exterior em torno de US$ 10,0 Bi que pode ser precipitada em sua liquidação pela atração da taxa cambial com o real excessivamente apreciado.
A Bovespa tem perspectiva incerta, pois por razões conhecidas e pontuais teve expressiva alta descolada dos fundamentos da economia brasileira, o que motivou realização e quedas e agora pode intensificar as operações de “day trade”, mas é muito provável que o capital especulativo que já alcançou em curtíssimo prazo lucro expressivo deixe o país, até pela oportunidade de ter uma taxa cambial favorável à conversão para a saída.
O “status quo” sugere que o BC continue atuando focando a apreciação do real para que, juntamente com a taxa SELIC, busque conter a pressão inflacionária.
A apreciação do real será perseguida com a colocação dos lotes programados e rolagens acima da efetiva necessidade do mercado de contratos de “swaps cambiais”, visto que, a despeito de todo alarido e até “orquestração” em torno do fluxo de recursos para o país estes não tem volume líquido capaz de promover a derrocada do preço do dólar.
Nas descartamos que, em perspectiva, esteja fora do contexto a possibilidade do fluxo cambial vir a se tornar negativo, algo totalmente contrário ao anseio do Presidente do BC, Alexandre Tombini, manifestado no seminário de Washington.
O preço da moeda americana está sendo comprimido para contribuir com a contenção da inflação, mas o viés efetivo é de alta, o que deixa sempre no horizonte a possibilidade de correção abrupta.