Na medida em que Estados Unidos e Europa sinalizam melhora na atividade econômica, a tendência é de que ocorra recuo dos fluxos cambiais para os países emergentes.
Adicional a esta realidade presente no contexto global e que determina oscilações na relação paritária entre o euro e o dólar, a Presidente do FED americano, Janet Yellen, salientou, em seu pronunciamento nesta manhã, otimismo em relação à economia americana não valorizando o baixíssimo crescimento no 1º trimestre que considerou consequente das questões climáticas, destacou que o mercado de trabalho ainda está distante da condição satisfatória, ao mesmo tempo em que a inflação está em níveis tranquilos, havendo um alto grau de acomodação na economia. Importante foi a menção das preocupações em relação ao setor de habitação que tem desempenho fraco, o que não a impediu de prever um alto e sólido crescimento no 2º trimestre deste ano, e este é um sinal que entendemos que caberá ao mercado interpretar se torna mais próxima ou não uma alteração na política monetária americana, embora ela tenha salientado que não há data para as medidas em torno do juro e até num certo momento destacado que poderá ocorrer um tempo considerável até que venha ocorrer mudança no juro.
No Brasil, no nosso entendimento, este mês de maio será um divisor no comportamento do fluxo cambial para o país, que tenderá a reversão para o negativo com a intensificação da saída de parte dos recursos especulativos que ingressaram no país ao longo do 1º quadrimestre.
Há fatores indutores a esta tendência de reversão.
Primeiro porque capitais especulativos não mantém longa permanência nos países onde objetivam os ganhos e, alcançado o resultado como já ocorreu na Bovespa em especial tende a realizá-los e sair do país.
Segundo porque prematuramente as incertezas em torno do resultado das próximas eleições presidenciais passaram a exercer forte influência especulativa, deformando os preços dos ativos afastando-os até dos fundamentos e motivando volatilidade. Sabidamente recursos especulativos não convivem bem em ambientes que evidenciem incertezas crescentes, o que determina que se afastem e isto, obviamente, é fator indutor à saída do país.
A volatilidade deve estar presente, já que há posicionamentos muito fortes em moeda americana no mercado futuro e no mercado à vista, e como este é um ambiente em que para alguém ganhar alguém tem que perder, este confronto de interesses gera preços voláteis, nem sempre alinhados aos fundamentos.
Além disto, o mercado financeiro brasileiro sofrerá reflexos da realização da Copa do Mundo afetando sua dinâmica e foco no curto prazo, coincidente com o inicio das férias no hemisfério norte, fato que por sí já induz o desmonte de posições por parte dos investidores.
O Banco Central do Brasil emite sinais de que procederá a rolagem parcial da posição vincenda de contratos de “swaps cambiais” de US$ 9,6 Bi na virada do mês, diminuindo assim a liquidez no mercado de derivativos, embora mantendo à oferta diária de 4.000 contratos do programa comprometido.
Esta percepção provocou apreciação do preço da moeda americana no primeiro momento, que em seguida passou a apresentar volatilidade face ao confronto de interesses a partir das posições compradas e vendidas dos inúmeros “players”, já comentada acima.
A leitura do mercado sobre a decisão de redução de liquidez de dólares no mercado de derivativos foi a de que a autoridade focava apreciar um pouco o preço da moeda americana. Contudo, pode ter sido simplesmente decorrente do fato de que seu volume de oferta estava sendo excessivo e tenderia a ser ainda maior neste mês de maio, onde preconizamos que teremos mais saídas do que ingressos o que representaria menor demanda por “swaps cambiais”.
Por outro lado, havia indicativos que mesmo mantendo o excesso de liquidez o mercado não se sentia confortável para apreciar o real além dos R$ 2,20 por dólar, e que este parâmetro de taxa já neutralizava o volume de negócios. Então, a atitude do BC poderia ser entendida como estratégia através da apreciação discreta da moeda americana proporcionar estimulo para que recursos externos especulativos ainda permaneçam no país.
O que estamos considerando no contexto atual é que embora o FED americano possa até dar indicação de que a mudança da sua política monetária pode ser retardada, o que daria tempo maior para a permanência de recursos especulativos no Brasil, agora são fatores absolutamente pontuais a respeito do contexto puramente brasileiro que induzem a saída dos recursos do país.
A reação da BOVESPA e do preço do dólar sugerem que, face ao pronunciamento da Presidente do FED, pode perdurar por um tempo maior a permanência dos recursos especulativos, continuamos entendendo, como posto, que os fatores brasileiros é que preponderarão na decisão dos investidores especulativos estrangeiros procederem à reversão.
Embora este movimento de desmonte deva impactar como tendência na taxa cambial a partir do mercado à vista, deverá ocorrer continua volatilidade pelo confronto de interesses dos “players” que ensejará disputas, mas a perspectiva é de apreciação gradual da moeda americana e reversão do fluxo cambial líquido para negativo.
O fluxo cambial líquido divulgado hoje pelo Banco Central do Brasil já evidencia que o mês de abril fechou negativo nos ingressos financeiros no montante de US$ 1,015 Bi e que no ano acumulado até abril este mesmo fluxo está positivo líquido em tão somente US$ 2,101 Bi o que é absolutamente incompatível com os intensos ruídos que vem sendo emitidos sobre ingressos de capitais no Brasil, já que parece não vir sendo observada a grandiosidade das saídas em concomitância. Com a natureza financeira ingressou no quadrimestre o montante de US$ 164,081 Bi e saiu US$ 161,979 Bi.
Ocorreu uma considerável melhora no fluxo comercial em abril com expressivo incremento dos ingressos oriundos de exportações, em especial na forma de Pagamentos Antecipados e operações já liquidadas, enquanto a demanda por ACC´s foi mantida em parâmetros normais. O montante do mês de abril foi superior a março em US$ 6,0 Bi e proporcionou que fosse reduzido o passivo de comércio exterior de US$ 10,488 Bi em março para US$ 6,119 Bi em abril e gerou um fluxo líquido positivo no mês de US$ 3,798 Bi.
O fluxo comercial positivo em US$ 3,798 Bi deu suporte ao fluxo financeiro negativo de US$ 1,015 Bi, promovendo um fluxo cambial líquido no mês de abril de US$ 2,783 Bi, que reduziu as posições vendidas para US$ 13,578 Bi que vem sendo mantidas pelos bancos, consequentes de geração de liquidez dada a insuficiência de fluxo cambial oriunda dos anos de 2013 e 2012 não coberta pelo BC com suprimento de moeda efetiva ao mercado, mas ancorada nestas posições dos bancos através de financiamentos de linhas concedidas em grande parte pela autoridade monetária.
É importante atentar para o fato de que o fluxo cambial favorável para o Brasil e amplamente destacado como intenso, etc, resultou liquidamente em US$ 4,841 Bi, sendo US$ 2,739 Bi comercial e US$ 2,101 Bi financeiro , insuficiente para cobrir a insuficiência de fluxo registrada até o final de 2013 que era de US$ 18,124 Bi.
Tendo em vista que consideramos que o “boom” de ingressos de capitais especulativos sinaliza recrudescimento e tende a acentuar o volume de saída, tudo leva a crer que o país retomará o fluxo cambial negativo, o que por si só tenderá a pressionar a apreciação da moeda americana, podendo levar o BC à necessidade de vender dólares à vista para o mercado utilizando as reservas cambiais.
Por enquanto, volatilidade, mas em perspectiva apreciação gradual do preço da moeda americana.