Mercado de câmbio tende a reencontrar sua realidade!

O mercado de câmbio viveu um contexto pontual que o afastou das reais perspectivas para o setor externo brasileiro ao longo do 1º quadrimestre do ano.

Fluxo cambial absolutamente fortuito de recursos externos especulativos, que se valendo da oportunidade decorrente da perda de ritmo da recuperação da economia americana ao início do ano, forjado como “carry trade”, encontrou tempo e oportunidade para usufruir de ganhos na nossa BOVESPA que operava ações com preços debilitados e, em renda fixa atraente pela expressiva taxa de juro que fora retomada pelo país focando conter pressões inflacionárias presentes.

O governo até tentou resgatar suas ineficiências no campo das políticas econômicas e fiscal, buscando atribuir ao fato a redenção do país perante aos investidores estrangeiros, após o “compromisso assumido” de cortes orçamentários e política fiscal austera, logo após ter tido a nota de crédito soberano reduzida pela Standard & Poor´s e ter sofrido uma saraivada de criticas de jornais e organismos internacionais.

À bem da verdade, o fluxo especulativo foi substantivo, porém ainda incapaz de gerar um folgado saldo positivo de fluxo cambial, suficiente para cobrir as posições vendidas dos bancos, que estão sendo suportadas por financiamentos concedidos pelo BC para suprir a liquidez faltante dado o fluxo cambial negativo do ano passado.

Ocorre que, de forma pouco destacada e observada, também saiu, concomitantemente no período, expressivo volume de recursos para o exterior.

Mas como recurso especulativo é recurso de estada breve e absoluta sensível a qualquer sinal de incerteza, os que adentraram a Bovespa parecem estar em movimento reversivo, e na mesma linha deveremos ter os aplicados no mercado de juro/renda fixa, pois há incertezas crescentes nas perspectivas dos mercados brasileiros, e, há também em relação as decisões do FED envolvendo mudanças de política monetária.

As incertezas crescentes internas decorrem do clima político que já influencia os pregões, da baixa expectativa que o superávit fiscal comprometido venha a ser atingido, das perspectivas cada vez maiores de crescimento muito baixo do PIB, da inflação persistente e até mesmo do fato de que o preço da moeda americana está absolutamente fora de sua realidade.

Há também em perspectiva próxima as férias no hemisfério norte que normalmente enseja o desmonte de posições especulativas, pois os investidores evitam ficar expostos nessa fase, ao mesmo tempo em que se vislumbra atividade muito seccionada dos mercados no Brasil ao longo da realização da Copa do Mundo.

Como especulação tem amplas dificuldades de convivência com incertezas, é natural que ocorra a reversão dos recursos especulativos que ingressaram no país.

O Banco Central do Brasil, que já rolou parcialmente os lotes vincendos em março/abril e abril/maio, pré evidenciou que não deverá rolar o lote integral de US$ 9,6 Bi de contratos de swaps cambiais vincendo em maio/junho, embora mantendo a oferta diária do programa de 4.000 contratos/dia que é desenvolvido à margem do processo de rolagens.

Provavelmente o BC sinalizou a atitude com o objetivo de alavancar um pouco a taxa cambial, já que próxima a R$ 2,20 torna desinteressante as operações de derivativos envolvendo a moeda americana, por isso desestimula também o fluxo favorável de capitais especulativos.

Parece-nos uma tentativa tardia que não atrairá mais capital especulativo e nem conseguirá evitar o movimento reversivo (saída) destes recursos no país e sim agilizará esta ocorrência pois a taxa de conversão tende a ficar menos favorável.

Por outro lado, provavelmente a autoridade trabalhe com a percepção de que com a intensificação das saídas de recursos do país, a pressão sobre a formação do preço da moeda americana passará para o mercado à vista e será reduzida no mercado futuro, por isso reduzirá o volume de oferta de swaps cambiais para rolagem.

Poderá vir a realizar leilões de linhas de financiamento em moeda americana para que os bancos gerem liquidez, utilizando as reservas cambiais, salvo se os bancos conseguirem facilidades de acesso a linhas junto aos bancos estrangeiros.

Contudo, a questão central é que tudo leva a crer que teremos neste 2014 novamente fluxo cambial negativo que se somará ao já ocorrido em 2013 e ainda não coberto, e isto poderá impor que o BC tenha que realizar leilão efetivo de venda ao mercado à vista.

O cenário externo evidencia que os Estados Unidos, após o 1º trimestre fraco devido aos problemas climáticos, estão gerando indicadores bastante positivos e que podem ensejar que a mudança da sua política econômica ocorra antes do esperado e isto pode afetar o Brasil. Por outro lado, persiste mostrando um desempenho preocupante da atividade da China, o que afeta o Brasil como fornecedor de “commodities agrícolas e metálicas”.

Maio pontifica-se como o início da transição do mercado de câmbio, e não só ele, de um momento atípico para sua efetiva realidade.

Portanto, o viés de alta que se insinua logo ao início do mês é a tendência efetiva, embora eventuais intervenções do BC possam gerar volatilidade, dificilmente conseguirão reverter a tendência.

 

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