Temos como hábito destacar sempre que “os números falam e precisamos ouvi-los”!
Ao procedermos a leitura dos números relativos ao fluxo cambial fechado no mês de abril constatamos um resultado positivo de US$ 2,783 Bi, consequentes de fluxo comercial positivo de US$ 3,798 Bi do qual foi deduzido o fluxo financeiro negativo de US$ 1,015 Bi.
Houve uma melhora considerável do fluxo comercial líquido consequente das exportações agrícolas pontuais nesta fase do ano, algo como US$ 6,0 Bi a mais do que no mês de março, que não foi acompanhado pelas importações que se elevaram em tão somente quase US$ 1,8 Bi. Merece destaque o crescimento de pagamentos antecipados, típicos para exportações agrícolas, e exportações liquidadas no exterior, sendo que a demanda por ACC´s foi mantida dentro do seu padrão normal mensal.
Evidentemente, esta melhora, como destacamos pontual, não sugere que se projete melhora deste fluxo ao longo do ano, visto ser típica desta fase do ano, e, além disto, os dados da balança comercial neste ano estão negativos não suscitando expectativas otimistas em torno de recuperação.
Todavia, ao observarmos o fluxo financeiro líquido constatamos que já se tornou negativo no mês de abril em US$ 1,015 Bi, o que denota intensificação das saídas de recursos do país, que pode estar sinalizando mudança da tendência do comportamento dos capitais especulativos que podem já estar em processo de reversão e assim inflando o montante de saídas.
É relevante observar que ao longo do 1º quadrimestre foi obtido um fluxo cambial positivo de US$ 4,840 Bi, sendo de origem comercial US$ 2,739 Bi e de origem financeira US$ 2,101 Bi, absolutamente insuficiente para sequer cobrir o montante de posições vendidas (insuficiência de fluxo cambial efetivo) que os bancos já trouxeram do ano de 2013, incluindo parte de 2012, no montante de US$ 18,124 Bi que foram constituídas para manter a liquidez no mercado à vista, numa estratégia que envolve concessão de linhas de financiamentos em moeda estrangeira das reservas cambiais brasileiras pelo BC para lastreá-las, evitando assim que a autoridade tenha que realizar efetivo leilão de venda ao mercado para suprir a liquidez. Resta ainda um montante de posições vendidas com os bancos no montante de US$ 13,578 Bi, dos quais US$ 11,701 Bi com financiamentos do BC.
Desta forma, a rigor, parece inconsistente quando se afirma que a taxa cambial está com o real apreciado em consequência do fluxo cambial intenso. Afinal, na realidade ainda temos uma insuficiência de fluxo cambial da ordem de US$ 13,578 Bi que não conseguimos zerar nem mesmo da fase aguda do fluxo de recursos especulativos para o Brasil ocorrida no 1º quadrimestre deste ano.
No nosso entendimento, como já expusemos anteriormente, maio poderá ser um divisor e o fluxo cambial para o Brasil retomar o seu perfil negativo.
O governo, que utiliza a moeda americana depreciada como coadjuvante ao controle da inflação, seguramente percebeu que a taxa em R$ 2,20 travava totalmente os negócios e assim sinalizou a redução do excesso de oferta de “swaps cambiais” que vinha realizando para permitir que o preço da moeda flutue na faixa de R$ 2,20-2,25 e assim consiga induzir os capitais especulativos a permanecer um pouco mais de tempo no país. Pelo comportamento do preço da moeda americana neste mês de maio vem conseguindo que a flutuação ocorra nesta faixa, mas acreditamos que não conseguirá evitar a reversão gradual já neste mês dos recursos especulativos presentes nos nossos mercados.
Importante destacar alguns pontos relevantes.
O que influencia a formação do preço da moeda americana, ainda que parcialmente, pois há a ação do BC com os “swaps cambiais”, é o fluxo cambial líquido e este não é tão expressivo, e, a realidade aponta que ainda há US$ 13,5 de fluxo insuficiente para ser coberto com fluxo cambial líquido positivo, data base abril, este ano e isto se configura bastante improvável.
Evidentemente que os recursos especulativos que ingressaram para a Bovespa e para o mercado de juros impactaram elevando volumes, valorizando ações e usufruindo do elevado juro que é proporcionado pelo país.
Contudo, há um movimento também intenso de saídas de recursos de compromissos comerciais e financeiros, em especial do setor privado, que quase não foi observado e que reduziu sensivelmente o montante líquido restante dos fluxos.
Assim, a formação do preço da moeda americana não tem rigorosamente correlação com o comportamento dos mercados de Bolsa e renda fixa, mas sim em relação ao fluxo líquido e aos derivativos no mercado futuro, onde além do rito normal ocorre também a intervenção do BC.
Como o fluxo líquido não é expressivo e ainda há posições vendidas a serem cobertas, é evidente que a influência ocorre com maior intensidade da intervenção do BC.
Todavia, se o volume de saídas de recursos se intensificar no mercado à vista, a intervenção via mercado futuro perderá força e isto poderá exigir venda direta do BC ao mercado ou ampliação das posições vendidas dos bancos, ancoradas preferencialmente por linhas do BC.
O discurso da Presidente do FED, Janet Yellen, ocorrido ontem, a despeito de todo otimismo que demonstrou em relação à economia americana, trouxe um alento aos países emergentes ao destacar pontos que precisam ainda ser recuperados e que devem postergar a decisão de política monetária envolvendo o juro. A rigor, cria a perspectiva que os capitais especulativos forjados em “carry trade” possam permanecer por mais tempo nos países emergentes.
Contudo, há fatores internos que vem tornando crescentes as incertezas que normalmente acarretam desconforto aos especuladores, que desta forma podem se sentir motivados à promover a saída dos seus recursos, independente dos posicionamentos do FED sobre política monetária.
Já ocorre influência acima do esperado das pesquisas eleitorais, que acabam por afastar preços de ativos de sua realidade com base em fundamentos.
Temos proximidade da Copa do Mundo no Brasil que interferirá na dinâmica dos mercados; também proximidade das férias no hemisfério norte que poderá levar os especuladores ao desmonte de suas posições, entre outros, e, além de tudo, o fato de já terem obtido excepcional ganho na Bovespa e ganhos com juro, portanto terem atingido seus objetivos sempre de curto prazo.
Por isso, consideramos relevante estar atento aos números do fluxo cambial, e abril já emitiu um sinal importante ao demonstrar fluxo cambial financeiro líquido negativo, e fluxo cambial comercial líquido positivo decorrente de fatores absolutamente pontuais.
A rigor, todas as projeções sugerem o preço da moeda americana no entorno de R$ 2,45 a R$ 2,60, algo bastante distante do preço atual. O risco maior é o de mudanças abrupta dado o represamento atual da taxa cambial.