Há fortes indícios de que o país vive um crescente momento de ausência de confiança, e isto, tem conduzido o discurso de proposta de diretriz econômica do governo ancorada no dogma “juro baixo dólar alto”, eivado de inúmeros bons presságios teóricos, a não promover mutações fundamentais em perspectiva para o país, mas sim, transformar-se em soberbo estímulo a intensificação do ataque especulativo sobre a moeda nacional frente ao dólar americano.
Todos os argumentos que se possam utilizar para justificar o dogma, tais como contenção da desindustrialização, substituição do produto importado por nacional, geração de empregos e renda, atração a investimentos produtivos nacionais e estrangeiros para a modernização da infraestrutura industrial, estímulo forte e compensatório as exportações em geral, com ênfase as commodities que sofreram queda de preços e demanda com a crise do coronavírus, etc…
Costumamos afirmar que “números falam” e precisamos observá-los, e a informação que nos trazem é desanimadora.
Balança comercial com desempenho decepcionante; saída de recursos investidos no mercado financeiro mantendo viés de saída do país e deixando visível o baixo volume de investimento externo; saldo negativo da conta transações correntes crescente; enfim, por qualquer ângulo não se observa melhora de perspectiva.
O que há que possamos considerar como positivo? Baixa inflação que decorre da baixa atividade econômica praticamente inerte e juro baixo num ambiente que não consegue motivar a tomada de recursos para investimento.
E agora, para piorar tudo isto chegou o vírus coronavírus, oportuno para que ao mesmo se debite todos os insucessos.
O fato tem peso, mas há e já existiam inúmeros problemas que estão travando a desejada arrancada da atividade econômica brasileira, e toda esta estratégia concebida pelo governo brasileiro, que não é nova e sabidamente já bastante vigiada por todos os pares no mundo globalizado, não cria a perspectiva de sucesso e nem motiva o setor produtivo, e, torna presente do país vir a ser interpelado por seus pares internacionais sobre sinais concretos de “dumping” nas suas exportações e práticas contestadas na atualidade no comércio exterior.
Há efetivamente uma crise de confiança, e “confiança é como café, depois que esfria não adianta esquentar novamente, porque não terá o mesmo sabor”, e este é o nó efetivo que aflige o país juntamente com o impacto do vírus coronavírus, que veio assumir as culpas antes atribuídas ao embate comercial USA-CHINA.
Os especuladores gostaram de tudo isto, principalmente a longa ausência do BC desde 26 de dezembro até semana passada de monitoramento do comportamento atípico do mercado futuro de dólar, que repercutia na ação efetiva o que o governo propagava nos seus pronunciamentos sugerindo “cambio alto juro baixo”.
Como mencionamos em nosso post de 5ª feira passada, “Câmbio: ausência de fundamento do conceito “câmbio alto” permite qualquer preço?”, parece que a resposta do mercado é sim, visto que “atropelou todas as intervenções do BC com oferta de swaps cambiais e oferta de linhas, e estas não foram capazes de sensibilizar a especulação, com o dólar transpondo os R$ 4,51” e não denotando que possa parar por ai.
E, não há convicção de que o movimento especulativo seja contido com facilidade, já que é sempre possível que o que está ruim possa tornar-se pior, porque há enorme possibilidade de intensificação da demanda no mercado à vista, já que a Bovespa vem registrando nos últimos dias forte saída dos investidores estrangeiro.
Sidnei Moura Nehme
Economista e Diretor Executivo da NGO