Buscando Justificar o Injustificável!

Evidentemente não faz o menor sentido buscar fundamento na divulgação do PIB negativo dos Estados Unidos no 4º trimestre, para justificar a volatilidade ocorrida no preço da moeda americana no mercado de câmbio no ultimo dia 30 de janeiro, quando o Ministro Mantega confrontou diretamente com sua fala as diretrizes estratégicas claramente adotadas pelo Banco Central do Brasil.

Não há como negar que houve um conflito de pontos de vista sobre as estratégias no câmbio entre o Banco Central do Brasil e o Ministério da Fazenda, e isto posto fora da mesa de reunião interna do governo e tornada publica claramente afeta as expectativas e gera volatilidade.

Negar o fato e atribuir a volatilidade a uma razão externa é tentar justificar o injustificável.

Estes atropelos na área cambial tem sido contumazes por parte do Ministro Mantega, e demonstram que a sintonia fina entre BC e MF que deveria existir nestes temas de grande sensibilidade pelo mercado é falha e pouco construtiva para o entendimento das ações estratégicas do governo.

Por isso, a questão continua aberta: Quem é o gestor da política cambial? BC ou MF?

Mas quem sabe Maquiavel possa esclarecer! É plausível admitir que a utilização do preço do dólar depreciado seja uma efetiva necessidade por parte do governo para tentar conter as fortes pressões inflacionárias presentes, provavelmente a única opção praticável neste momento, e, então, torna-se necessário que BC e MF “demonstrem” posições antagônicas para mitigar as reações criticas do setor produtivo nacional.

O BC faz o que é necessário fazer no entendimento do governo, fica sujeito às criticas dos setores industriais, em especial. Na outra ponta, o MF demonstra insatisfação sem grande ênfase e não mais dizendo que o dólar precisa estar acima de R$ 2,00, para dar uma “demonstração publica” aos setores afetados negativamente de que “alguém” os defende.

Isto é feito com as ações do BC em silencio para não assumir a realidade dos seus objetivos e com declarações, até estapafúrdias, do Ministro Mantega ocorrendo em concomitância.

Quem nos vê de fora pode concluir que estamos sem norte neste inicio de ano em que surgem desafios absolutamente imprevistos para o governo poder levar avante a sua ambição de recuperação da atividade econômica.

O real está apreciado a R$ 1,99, mas tem fatores limitantes à queda, visto que a tendência do fluxo cambial é negativa e este é um fator forte de contenção da queda.

Nada indica que poderá haver uma melhora neste quadro em torno do fluxo cambial. O país perdeu atratividade e tem poucas opções de ganho a estimular investidores externos a deslocarem recursos, visto que inúmeros outros países emergentes se mostram mais atraentes neste momento.

A retirada do IOF das aplicações em fundos imobiliários por parte de estrangeiros se constitui num esforço a mais, abertura de nova janela, para atrair investidores externos pouco interessados na renda fixa e no mercado acionário.

São baixas as perspectivas de melhora acentuada das pressões inflacionárias a partir do real apreciado. Benefícios poderão advir da pressão sobre os preços dos alimentos oriundos das “commodities” agrícolas que sejamos exportadores.

É muito provável que os efeitos negativos na dinâmica da nossa atividade econômica, por conseguinte no crescimento do nosso PIB, sejam maiores do que obteremos de positivo. A sobrevivência da nossa indústria será colocada à prova, face à nova rodada de desindustrialização.

O risco de desemprego vir a se aquecer deve ser considerado. O governo precisa moderar o entusiasmo sobre o emprego, como salienta matéria do jornal Valor Econômico, visto que em dezembro as demissões superaram as admissões, o que em principio ocorre sempre em razão da entressafra agrícola; término do período escolar e dispensa dos temporários contratados nos meses anteriores, mas desta vez, com base nos dados do CAGED, a perda de emprego foi maior do que a sazonalidade poderia sugerir, surpreendendo os especialistas. Foram fechadas 496.944 vagas em setores que vinham puxando o PIB ou estavam sendo incentivados pelo governo.

Em 2012 houve uma queda de geração de vagas de 33% em relação a 2011, ou seja, 1,944 M em 2011 e 1,301 M em 2012.

O governo projeta a criação entre 1,7 M a 1,8 M de vagas em 2013, o que é meta bastante pretensiosa, e que fica prejudicada pela estratégia recente que desincentiva a indústria nacional.

O modelo de crescimento ancorado no consumo impulsionado pelo crédito continua revelando preocupações crescentes com os calores, facilmente detectável nos balanços dos bancos. Um quadro novamente retirando apoio a indústria nacional poderá gerar focos de demissões, e este fato em si seria um elemento de repercussão imediata sobre a propensão a consumir da população.

Ontem, para conter a resistência à apreciação do preço do real, consequência natural do fluxo cambial desfavorável, o BC rolou US$ 1,2 Bi das operações conjugadas realizadas em dezembro vincendas neste mês, resolvendo o problema de pressão sobre a liquidez, mas evidentemente não resolvendo o problema de falta de ingresso de divisas no país.

Os bancos estão “vendidos” em torno de US$ 9,0 Bi no mercado de câmbio à vista e este montante para ser coberto precisa de oferta de dólares efetivos a vista, disponíveis.

As operações conjugadas do BC vão “empurrando para frente” o problema de liquidez que enfrenta o nosso mercado de câmbio a vista, porém, momento ocorrerá em que com a continuidade do fluxo cambial negativo, a pressão altista se acentuará e, então, o BC terá que efetivamente ofertar dólares a vista para continuar monitorando o preço ou terá que deixar subir.

O cenário prospectivo do mercado de câmbio e a formação do preço estão bastante conturbados, sugerindo que deveremos ter muitas intervenções do BC e um viés de alta contido pelas mesmas, o que poderá determinar volatilidade e evidência clara de que a taxa nestes parâmetros não será sustentável.

O câmbio é um item de muita sensibilidade por parte dos investidores estrangeiros, que veem nas intervenções do BC um risco, e isto certamente retrairá fluxos para o Brasil e poderá determinar saídas de investidores para realizarem o ganho da variação cambial favorável.

Enfim, “há perigos na esquina” do mercado de câmbio este ano!

 

Compartilhar :
plugins premium WordPress