Afinal, quem é o gestor da política cambial?

A fala de ontem do Ministro Mantega, pelos inúmeros pontos conflitantes com a recente decisão do BC de apreciar o real ante o dólar, para utilizá-lo como antídoto às pressões inflacionárias, suscitou o questionamento se o BC e o MF estão alinhados nesta decisão ou se há efetivos desencontros.

O Ministro afirmou que “a taxa de câmbio não é instrumento para baixar preços“, confrontando de forma direta com a diretriz adotada pelo Banco Central do Brasil, ao induzir fortemente a apreciação do real.

Falou que o câmbio é flutuante, só não explicou como o real pode estar se apreciando num ambiente de crescente fluxo cambial negativo. O paradoxo não encontra sentido e, deixa evidente que ocorre ação indutora por parte do BC para que esta situação esteja presente.

Falou com outras palavras, mas de forma clara, que caso haja distorções ocorrerão correções, o que fomenta volatilidade e acentua a percepção de risco por parte dos investidores externos e pode até agilizar a saída de investidores externos já posicionados no país a buscarem retornar seus recursos ao melhor preço da moeda americana, que é a presente.

Há alguns antigos princípios que vem sendo violados de forma contumaz. Autoridades devem falar o mínimo sobre questões que possam afetar o curso dos mercados, e, em câmbio, não deve se falar nada, faz-se e depois, se necessário, explica-se, já que este é um segmento que rapidamente contamina os demais segmentos da atividade econômica. Pior se houver contraditórios, ocorre volatilidade.

Se o BC é o gestor da política cambial, por que deve o MF abordar de forma imprópria o tema câmbio, afetando as expectativas, promovendo volatilidade e especulação?

O cenário já está complexo e com poucas alternativas de saída para o quadro inflacionário aquecido e a evolução das expectativas negativas e, ocorrências deste tipo pouco contribuem para a melhora, pois tumultuam o que já não está claro.

Particularmente, entendemos que as perspectivas de sucesso na contenção da inflação neste contexto atual com a apreciação do real são reduzidas. Hoje está mais difícil de consumação de apreciação do real sustentável do que nos áureos tempos de fluxo cambial intenso e mercado de derivativos especulado com a tolerância do governo que desejava o real apreciado para conter a inflação advinda dos gastos exacerbados do poder publico.

Por outro lado, entendemos que os danos à nossa economia poderão ser de tal monta a ponto de comprometer seriamente as projeções de crescimento do nosso PIB neste ano.

O impacto do dólar depreciado poderá ser contributivo sobre os preços dos alimentos, em especial os oriundos da cadeia de “commodities” agrícolas exportáveis, mas não muito além disto.

Parte expressiva da nossa inflação é estrutural e advém do item serviços, que pouca influência sofrerá do real apreciado. As causas principais estão aqui mesmo e pouco tem a ver com o preço da moeda americana.

Porém, o dólar mais barato faz com que se intensifique a demanda por produtos importados, acabados ou na forma de insumos, o que contribui para a desindustrialização do país. Até a própria indústria nacional se torna importadora e simplesmente chancela o produto como se fosse nacional na realidade.

Os benefícios para a inflação não são tão significativos, sendo os malefícios bem mais expressivos.

Perde atividade a indústria nacional e não tem motivação ao investimento, porém pode elevar o faturamento com o valor agregado importado e assim passar uma impressão enganosa de crescimento. Não gera emprego e com isto não gera renda, fazendo com que o beneficiário seja o país do qual importa, e aumenta a tendência a desempregar ao reduzir seus quadros.

Há reflexos diretos no potencial exportador que se fragiliza e cresce o potencial importador.

O país não alavanca o seu crescimento, a indústria revela sua fragilidade de forma preocupante e observaremos que os benefícios do real apreciado não se materializaram.

Então, bem então, corremos o risco de voltar ao discurso de que o dólar não pode ficar abaixo de “x” ou “y” e elevamos o seu preço e o que fica como saldo é a descrença do setor privado, que ante tantos experimentos contrai a propensão ao investimento, que é o elemento chave ao crescimento do país e o aumento de sua competitividade.

O sentimento que fica é que há muita indecisão ante o quadro complexo deste inicio do ano, com pressão inflacionária acentuada e parcos instrumentos para contê-la, pois os contumazes, seguramente, afetariam diretamente a possibilidade de crescimento do país, de imediato.
 
E o dólar como fica?  Primeiro para baixo tendo fatores limitantes do próprio mercado e posteriormente para cima com limitação imposta pelo governo!!! Mas nunca flutuante limpo!!!

 

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