A realidade conspira contra os objetivos mais imediatos do Banco Central do Brasil e, por que não do Ministério da Fazenda, na gestão da política cambial, colocada agora de forma heterodoxa como fator principal para a contenção inflacionária, ao mesmo tempo em que faz com que a Selic seja a protagonista do incremento ao crescimento da economia brasileira, numa evidente troca de papéis.
O fluxo cambial está negativo para o país e esta parece ser uma tendência com grande probabilidade de sustentabilidade ao longo do ano, e, agora o mês de janeiro revela preocupante e desastroso saldo da balança comercial negativo em US$ 4,035 Bi.
Os “ventos” estão ventando contra os nítidos propósitos do governo de manter o preço da moeda americana depreciado, buscando com isto conter as expressivas pressões inflacionárias presentes.
Não será tarefa fácil para o BC “administrar” o preço da moeda americana se esta perspectiva negativa de ingresso de divisas no país ganhar sustentabilidade, por isso nos parece pouco realista a projeção do Boletim Focus, divulgado hoje, sugerindo preço da moeda americana para o final do ano em R$ 2,05. Importante relembrar que no inicio do ano de 2012 o Focus apontava o preço do dólar para o final do ano em R$ 1,75 e o preço fechou em R$ 2,05 com um viés para R$ 2,10 não tivesse havido a forte intervenção do Banco Central do Brasil.
Ademais, como temos salientado, até os resultados de contração das pressões inflacionárias via preço do dólar depreciado podem não se revelar positivos, visto que temos problemas estruturais que efetivamente impulsionam a inflação, como serviços e uma equivocada continuidade de estímulo ao consumo num ambiente em que a oferta é o grande problema, e as consequências como inadimplência são reais, que são fatores que não se correlacionam com o preço do dólar.
Vemos algum eventual beneficio nos preços dos alimentos relacionados à nossa pauta de “commodities agrícolas” que exportamos.
Aliás, importante destacar que a indústria produziu 2,7% menos em 2012 ante um aumento de vendas no varejo da ordem de 9%. Parece-nos extremamente otimista a projeção do FOCUS indicando crescimento da produção industrial de 3,17% este ano, quando há sinais de que a propensão ao investimento continua baixa.
O grande entrave ao crescimento é a baixa taxa de investimentos públicos e privados, saneando os problemas de infraestrutura para aumentar a competitividade e a oferta de produtos nacionais. E este tem sido um problema crônico e o grande entrave para o deslanche do crescimento do país, aliado ao problema da desoneração tributária e a reforma trabalhista, totalmente inadequada para um país emergente com intenções de crescimento.
Os desafios são enormes para o país viabilizar uma recuperação da atividade econômica neste ano de 2013, já que inúmeros fatores tornaram amplamente complexos o contexto macroeconômico brasileiro.
O Brasil já não goza de privilégios com os investidores externos, hoje enfrenta e a concorrência de inúmeros outros emergentes que se configuram mais atraentes pelas oportunidades e menos onerosos.
Evidentemente, o primeiro canal a refletir de forma imediata um cenário menos favorável é o preço do câmbio, por isso, vemos com baixíssima possibilidade do intento do governo de manter o dólar depreciado para conter a inflação tornar-se vitorioso.
Sem investir por falta de perspectivas firmes e com dólar depreciado, não se pode colocar fora da perspectiva eventuais cortes de postos de trabalho pela indústria, e este seria um péssimo sinal e poderia impactar sobre a demanda interna.
Não conseguimos projetar o preço do dólar em R$ 2,05 no final do ano, nem mesmo ao final do 1º semestre deste ano.