Pode estar provocando interpretação enganosa ao tirar o foco sobre o peso local da fragilização do fluxo cambial para o país, consequência da queda das nossas exportações e aumento firme da importação de produtos e insumos, e, da perda incontestável da atratividade do país perante os investidores estrangeiros, que se constitui no fundamento efetivo da pressão altista presente na formação da taxa cambial, porém até agora discretamente contida por confrontar com os propósitos e intenções do governo de evitar a depreciação do real, face às repercussões inflacionárias.
O contexto atual do nosso mercado de câmbio é altamente complexo, convivendo com baixa liquidez que induz a alta, e, o propósito do governo de não ter efeitos inflacionários a partir do câmbio, e este é um fator que provoca insegurança nas projeções, mesmo de curto prazo, para o preço do dólar.
A elevação da participação dos produtos importados ocorre em concomitância com a queda das exportações de produtos industriais, e já ocupa 22% do consumo doméstico brasileiro. Isto coloca a perspectiva de saldo de balança comercial para este ano abaixo de US$ 10,0 Bi.
No 1º trimestre deste ano a participação externa no setor da produção industrial, foi de 20,4%, percentual 0,2% abaixo do último trimestre de 2012, conforme apurou e divulgou a CNI em sua pesquisa Coeficientes de Abertura Comercial, interrompendo a recuperação do indicador iniciada no 3º trimestre de 2010. No relatório da CNI/Funcex, as causas apontadas foram a fraca demanda no mercado externo, o real apreciado e a queda dos preços dos produtos exportados, e, por fim salienta que as medidas adotadas pelo governo foram insuficientes.
Por outro lado, na enquete feita entre 800 empresários presentes à Conferência Global de Private Equity, organizado pelo Banco Mundial, em Washington, conforme artigo de Raul Juste Lores publicado na FSP de hoje, cujo questionamento era: “Onde estão as maiores oportunidades da América Latina? A grande maioria votou nos países andinos, e, tão somente 7 (sete) no Brasil. Investidores salientaram que dá para dividir a América Latina pelos Andes, à esquerda (oeste) vai bem, à direita vai mal.
Foi destacado durante o evento que o “boom das commodities ficou para trás e o Brasil vai desacelerar, a Índia desperdiça todas as oportunidades, e a China que tinha o crescimento de 8% como piso, agora o terá como teto”. A conclusão das opiniões emitidas é que os BRICS perdem prestígio entre os investidores estrangeiros e na opinião do palestrante Ruchir Sharma, indiano, que dirige o departamento de “equities” em mercados emergentes do Morgan Stanley, os BRICS estão fracassando na liderança e que serão a grande decepção da década, destacando que as estrelas emergentes da próxima década serão Polônia, Turquia, Colômbia, Peru, Chile, Filipinas e Indonésia.
Enfim, esta não é uma percepção que nos fuja de foco e observação, só que pouco destacada, mas os números do fluxo cambial falam por si, e temos este ano projeções já presentes colocando o déficit em transações correntes em patamar superior à somatória dos IED´s e o saldo da balança comercial.
Os números divulgados pelo BC ontem, relativos ao fluxo cambial até o dia 10, continuam evidenciando a fragilização. Temos de janeiro a maio um saldo positivo de US$ 2,2 Bi, composto por positivo de US$ 4,7 Bi no comercial, graças a um ingresso pontual de US$ 4,3 Bi ocorrido em 15 de abril, e que em maio está positivo em tão somente US$ 155,0 M, e, negativo de US$ 2,5 Bi no financeiro, que em maio está positivo em US$ 704,0 Bi.
Para se ter uma ideia, no ano de 2012 no mesmo período, o país tinha um fluxo cambial líquido positivo de US$ 24,7 Bi contra os US$ 2,2 Bi este ano, uma perda de US$ 22,5 Bi, sendo US$ 14,4 Bi no comercial e US$ 8,1 Bi no financeiro.
Os bancos passaram de 2012 para 2013 com posições vendidas no mercado à vista de US$ 6,0 Bi e o país ainda não alcançou fluxo positivo suficiente sequer para cobrir este montante, pois só obteve até agora US$ 2,2 Bi.
Há a operação da Petrobrás de captação da ordem de US$ 12,0 Bi, empréstimo pontual, que poderá contribuir para a melhora estatística do fluxo cambial, mas é fruto de dívida contraída por uma empresa nacional no exterior e não de investimentos ou saldos de comércio. Naturalmente, dependendo de como seja procedido o ingresso, poderá atenuar as pressões de baixa liquidez presentes no nosso mercado de câmbio, mas o mercado está cético, após uma reação inicial positiva, pois não sabe se isto efetivamente ocorrerá com articulação prevendo irrigar a liquidez.
Enfim, ocorre a percepção de que o país perdeu “glamour” perante os investidores no mercado internacional, que, aliás, diga-se, apresenta excepcional nível de liquidez em decorrência dos programas americanos, japonês e a queda do juro na Europa, por isso não temos participado desta “fartura” presente e não corremos os riscos de “tsunamis monetários”, como o governo chegou a imaginar que pudesse ocorrer.
O governo ainda mantém restrições com a imposição de tributos ao capital estrangeiro de curto prazo, que poderiam ser flexionadas para melhorar o fluxo até um ponto de conforto, principalmente no que diz respeito aos empréstimos, já que a nossa Bovespa tem pouco apelo para os estrangeiros, sendo que os que aqui estão presentes, ao que se tem notícias, estão com posições vendidas apostando na baixa.
A economia do país, segundo o BC e a partir do seu indicador IBC-Br, apontou que a atividade econômica brasileira acelerou no 1º trimestre deste ano, com expansão de 1,05% em relação ao 4º trimestre de 2012.
Na comparação com o indicador de março de 2012 o avanço foi de 3,61% e nos 12 meses acumula alta de 1,2%, ainda segundo o BC.
A economia brasileira ainda não conseguiu deslanchar neste início do ano, mostrando fragilidade e dificuldade de imprimir recuperação mais sólida, a partir da observação do comportamento da produção industrial, do varejo e do consumo das famílias, que vem sendo afetado pela inflação elevada.
Na Europa é razoável esperar-se até uma redução maior do juro pelo BCE tendo em vista que a zona do euro está em recessão, envolvendo as principais economias.
Nos Estados Unidos, a despeito dos sinais de melhora da atividade econômica, a queda da produção industrial e o aumento do numero de pedidos de seguro desemprego podem ser sinalizações de que ainda é cedo para reduzir o programa de incentivo à retomada da atividade econômica. Poderá ocorrer, mas não tão de imediato.
Por isso, entendemos que o que ocorre com o dólar no nosso mercado de câmbio tem suas causas oriundas das circunstâncias que envolvem o nosso mercado de câmbio e o nosso país, embora possa, supostamente, haver uma coincidência de movimentos que enganosamente sugira que exista correlação e sinergia com o exterior.