Numa análise bastante objetiva do cenário econômico-financeiro global, podemos afirmar que “não há perigo algum de melhora”, e numa visão realista só se vê piora, pois mesmo as “janelas” de saída que vão sendo criadas acabam caindo em…
Numa análise bastante objetiva do cenário econômico-financeiro global, podemos afirmar que “não há perigo algum de melhora”, e numa visão realista só se vê piora, pois mesmo as “janelas” de saída que vão sendo criadas acabam caindo em descrédito com rapidez.
O esforço tem sido dantesco, mas “consertar o defeito relevante da aeronave em pleno voo” pode acabar em expressivo desastre. O problema europeu passa pela necessidade imperiosa de organizar o que foi criado sem base sustentável de organização, que exige agora, mais do que recursos, reordenamento dos princípios, responsabilidade com severo comprometimento, sem o que todos os aportes entrarão pelo “ralo do desperdício”, sem viabilizar solução.
Parece-nos inevitável que, para que a turbulência não seja maior, deverá haver a negociação de “moratórias negociadas”, com forte monitoramento das autoridades que forem condutoras das negociações. Prejuízos serão inevitáveis, mas ordenados causarão menores impactos do que o clima de incertezas e desconfianças prevalecentes. E, na ponta final, um período de recessão parece ser inevitável.
Afinal, o mundo desenvolvido sabe fazer isto bem, já submeteu o Brasil a regras severas nos nossos tempos de Grécia, etc., é que auto aplicar-se pode ser muito constrangedor. Ademais, os governos podem estar muito fragilizados perante seus nacionais, que revelam sempre forte oposição aos planos austeros.
Mas, nos parece inevitável que sem aceitar que o melhor caminho é compor do que tentar resistir ao imponderável, se fará prolongar o dilema europeu agravando a crise e as possibilidades de solução, visto que os problemas vão ganhando dimensão maior.
Neste ambiente desanimador, a eurozona revela que os preços ao consumidor subiram nas 17 nações 3% em setembro, mais rápido do que os 2,5% apurados em agosto. O cenário induz ao BCE a elevação do juro, exatamente num momento em que reduzi-lo é a necessidade maior.
O FTT que foi visto como a saída da crise ao aglutinar um volume maior de recursos, ainda não aceito por todos, já é visto como insuficiente, pois acalmaria por um brevíssimo período, mas não resolveria o problema que, como destacamos, não é unicamente de disponibilização de recursos, que na realidade podem até agravar o quadro mais do que resolvê-lo.
Nos Estados Unidos, a despeito do dado melhor do PIB do 2º trimestre, parece inevitável a consolidação do “Double Dip”, sendo a recessão inevitável para que, depois, o país tente se reorganizar para revitalizar sua economia.
Um ou outro dado não desfaz o desalento, com grande parte dos analistas americanos considerando que agora não há como voltar atrás, a recessão é iminente.
No Brasil acentua-se a percepção de que a visão da situação global e interna do Banco Central está muito à frente da do mercado, que ainda persiste em críticas revelando certa relutância na compreensão de que momentos diferentes sugerem comportamentos diferentes por parte das autoridades na gestão da política econômica e, em especial, a política monetária.
Afinal, em tempos de crise as prioridades sofrem mutações e o grau de tolerância a determinados quadros da economia devem ser flexionados, focando melhor “convivência e superação” a contextos adversos.
O Banco Central do Brasil vem reconhecendo a piora das perspectivas para o país, e, no nosso entender, vem atribuindo peso correto aos efeitos possíveis da crise global sobre os fatores que pressionam a inflação.
Não é racional admitir-se que as “commodities” não repercutam em seus preços quedas compatíveis com o quadro degradante das economias mais desenvolvidas, e, é ilusório imaginar que a China é a solução para tudo, até porque sendo uma “processadora” com mercado interno ainda pequeno face ao seu PIB, é natural que também arrefeça suas demandas.
Os sinais emitidos pela indústria brasileira, com a confiança revelando a nona queda seguida, atingindo o menor patamar desde agosto de 2009, revela que as perspectivas do setor seguem em tendência de piora.
O governo por MP autorizou hoje a União a liberar R$ 1,95 Bi às cidades, Estados e Distrito Federal, focando incentivar as exportações, e esta é uma medida positiva, embora um pouco tardia, pois os reflexos na ponta das exportações têm um tempo um pouco longo para maturar, afora os aspectos burocráticos na área de governo para que os recursos atinjam os destinatários.
As contas públicas registraram em agosto o pior resultado desde 2003, com queda mais acentuada no resultado do governo federal.
É preciso apertar o cinto, embora nos 8 primeiros meses do ano o resultado acumulado represente 75% da meta de R$ 127,9 Bi para o ano, é preciso considerar que a curva é descendente.
Não parece um despropósito ter-se expectativa de um corte de 1% na SELIC na próxima reunião do COPOM, neste momento é preciso privilegiar o setor produtivo e estimulá-lo ao investimento, da mesma forma o consumo, muito embora, notoriamente a propensão do consumo interno possa não se mostrar tão vigorosa quanto em 2008/2009.
A despeito de todo este cenário, não vemos fundamentos sustentáveis para que o preço da moeda americana se situe no patamar atual entre R$ 1,80 a R$ 1,90.
Nosso entendimento é que a retomada da alta nestes últimos dias tem a ver com a formação da PTax da virada do mês, embora esta apuração tenha sido modificada para média aritmética em 4 tomadas diárias, num mercado com baixa liquidez não é difícil para os “players” conduzirem a formação da taxa, seja pela pressão para zerar posições adversas por alguns, seja pela oportunidade de aviltar o preço por outros.
O Banco Central do Brasil não rolará a posição vincenda no início do mês de US$ 2,0 Bi, e isto terá um efeito “venda” no mercado de derivativos, mas será necessário que a autoridade monetária, realize a partir de segunda-feira novas ofertas de “swap cambial” para proporcionar liquidez a este mercado e “despressurizar” a formação do preço da moeda americana. Até porque se demorar muito a economia massifica a assimilação dos efeitos da taxa cambial em alta, e isto, certamente, não interessa ao governo.
É extremamente relevante que o Banco Central do Brasil “reponha” diretamente no mercado de derivativos a liquidez que foi retirada pela medida do governo que estabeleceu o IOF neste mercado, para que sejam eliminadas as atipicidades que ficaram remanescentes, proporcionando desta forma o retorno do preço da moeda a parâmetros mais compatíveis com a realidade.
Os “hedge funds”, por mais que tenham procurado minimizar seus prejuízos no mercado de derivativos devido as suas posições vendidas líquidas em “cupom cambial-DDI”, com o aumento de posições compradas líquidas no mercado de dólar futuro, que constitui-se em “uma perna” da operação, tem também contra si o juro em perspectiva de queda.
Quando a liquidez encurtou ficaram com uma posição ruim, pois apostavam na apreciação do real e na alta do juro.
Enquanto não saírem do todo de seus posicionamentos, vão continuar sendo a fonte da pressão de alta do dólar, muito bem aproveitada pelos bancos.
Estes, contudo, continuam apostando na retomada da apreciação do real, por isso mantêm substantiva posição vendida líquida de dólar futuro da ordem de US$ 12,1 Bi, que seguramente esperam cobrir quando o dólar tiver seu preço depreciado proximamente.
Continuamos com a projeção de que o preço do dólar retorne para R$ 1,70, no curto prazo.
Inegavelmente é um final de mês e de trimestre com um quadro extremamente preocupante em relação aos Estados Unidos e Europa, e, o pior, no nosso entender, sem risco de melhora.