O Banco Central do Brasil divulgou o Relatório Trimestral de Inflação. O documento trouxe alguns ajustes relevantes nas projeções da autoridade monetária, repercutindo a percepção presente que é diferente do cenário base do Relatório…
O Banco Central do Brasil divulgou o Relatório Trimestral de Inflação. O documento trouxe alguns ajustes relevantes nas projeções da autoridade monetária, repercutindo a percepção presente que é diferente do cenário base do Relatório antecedente.
Elevou a projeção de inflação para este ano de 5,8% para 6,4%, avaliando em 45% de chance de que os preços fiquem acima do limite da meta fixada pelo governo. Nos últimos 12 meses os preços acumulam alta de 7,23%.
A substantiva alta do preço do dólar, atualmente acima de R$ 1,80 tendo dado picos até R$ 1,95, pode trazer impactos maiores na inflação tornando difícil que o governo consiga mantê-la dentro do teto máximo da meta, ou seja 6,5%.
Uma alta temporária do preço do dólar não transferiria seu efeitos para os preços da economia, mas ao que nos parece o governo e o BC, em especial, retardou um pouco e continua atrasado na ação de gerar liquidez com a oferta de “swap cambial” no mercado de derivativos, já que desde a edição das normas impondo cobrança de IOF de 1% no mercado de derivativos, houve uma absoluta retração da liquidez.
A medida foi pontual para neutralizar movimentos especulativos presentes naquele momento e contumaz no mercado de derivativos, obteve sucesso, mas caberia ao BC então agir irrigando a liquidez gradualmente, para fragilizar as pressões que perduraram em decorrência da falta de liquidez.
Está muito evidente que os “players” mal posicionados no mercado de derivativos pressionaram a taxa e ficaram à mercê dos bancos que eram os únicos geradores de liquidez, por isso a taxa foi fortemente alavancada, a ponto de atrair para o mercado empresas que não haviam realizado “hedge” para seus passivos em moeda americana.
Neste momento, o BC foi pontual e quando verificou que aquele “novo jogo” implantado no mercado iria elevar o preço da moeda americana artificialmente a parâmetros absolutamente descabidos, rapidamente realizou a oferta de liquidez na forma de “swap cambial”. O impacto no preço do dólar, a partir dos derivativos e repercutindo no mercado à vista, foi imediato, deixando clara a causa da alta do dólar, que tem muito mais a ver com razões internas do que externas.
Porém, para nossa surpresa, o BC não deu continuidade à oferta de liquidez para neutralizar de forma contundente a exacerbação do preço da moeda americana, e, não o fazendo acaba por abrir espaço para que os preços da economia comecem a “assimilar” a alta do dólar contribuindo assim para o aumento da inflação.
A realidade é que os preços que forem ajustados pela alta do dólar, após o recuo do seu preço não são reajustados para baixo, consolidando desta forma a pressão sobre a inflação.
Desta forma, nos parece absolutamente imperativo que o BC atue com a oferta de “swap cambial” para readequar o preço do dólar a efetiva realidade compatível com a situação do país, evitando, dentro do possível, que seja deflagrado um processo massificado de ajustes de preços na economia.
O parecer do relator da MP do IOF parece estar tendo a sensatez de evitar que seja atingido o “hedge” legítimo e não especulativo, porém a dispensa do recolhimento do tributo sobre os contratos entre 27 de julho e 16 de setembro não parece lógico, visto que, embora a incidência em vigor tivesse proporcionado os efeitos objetivados, há muito que deixou de ser feito e pode ser considerado prejudicado e abrir questionamentos.
Consideramos de suma importância a continuidade da oferta de “swap cambial” pelo BC para tirar as pressões presentes e promover o retorno da taxa cambial aos parâmetros do entorno de R$ 1,70.
E, entendemos isto importante, visto que temos em perspectiva , na nossa percepção, a curva do desempenho do fluxo cambial tendente a negativo, já que os estoques de dólares de exportações represados no exterior estão diminuindo rapidamente, e, o fluxo financeiro deve se tornar negativo, pois entendemos que a cena externa continuará impondo as matrizes das multinacionais estabelecidas no Brasil remessas de juros s/capital, lucros, dividendos e até transferência de “caixa”, para formação de “colchão de liquidez defensivo”. Pelo mesmo motivo de preservação de liquidez, investidores deverão também retirar investimentos alocados no Brasil.
Evidentemente, é notório que o Brasil continua atraindo investidores estrangeiros, porém uma coisa é a atração e outra coisa é a capacidade de poder consolidá-la, que neste momento, entendemos perca no confronto com a necessidade de manutenção da liquidez.
O cenário externo continua “flutuando” entre esperanças, desesperanças e novas “esperanças”, construindo otimismos com sinais positivos dentro de um ambiente absolutamente negativo.
Embora com um PIB melhor do que o esperado no 2º trimestre nos Estados Unidos e alguns dados menos ruins, ao mesmo tempo em que a Europa procura se aglutinar em torno do fortalecimento do FTT, para resgatar economias “falidas” e assegurar sobrevida ao euro, nos parece que o “risco de melhora efetiva é baixa”, não afastando as suas pujantes economias de um período de recessão.