A extensão do prazo de 90 dias para 360 dias para incidência do IOF sobre os empréstimos captados no exterior e a elevação da alíquota para 6%, a qual se agrega o 0,38%, foi uma medida pontual, porém totalmente focada na política monetária…
A extensão do prazo de 90 dias para 360 dias para incidência do IOF sobre os empréstimos captados no exterior e a elevação da alíquota para 6%, a qual se agrega o 0,38%, foi uma medida pontual, porém totalmente focada na política monetária que vem sendo desenvolvida pelo atual governo, e, não deve causar nenhum efeito na formação do preço da moeda americana no nosso mercado de câmbio.
Encarece, por isso pode reduzir fortemente a entrada de “funding” de curto prazo captados por bancos e demais empresas brasileiras, e, que denotavam foco em busca de rentabilidade no país, seja por irrigar a liquidez do sistema financeiro, seja por atuações no mercado de derivativos.
Dada à atipicidade do volume ingressado no país, desde dezembro passado, havia absoluta convicção de que os tomadores destes recursos de curto prazo no exterior, visavam a extraordinária oportunidade de “arbitrar” considerando-se o juro prevalecente no país e as taxas de juros cobradas dos clientes, versus, o custo financeiro destes recursos tomados no exterior.
Medida correta, pois o aumento de liquidez do sistema financeiro contraria a política monetária do governo, que deseja contração no crédito para arrefecer as pressões de demanda dos consumidores.
Relativamente tardia, visto que o governo sinalizou a medida, porém não a tomou de imediato, como que “dando um tempo” para que os negócios em trânsito fossem consolidados, permitindo assim que uns tantos milhões de dólares ainda ingressassem sem o tributo.
Nada tem, em termos efetivos, com a política cambial, visto que o preço da moeda deverá permanecer absolutamente inelástico ante o fato. O fluxo cambial é positivo no Brasil e o BC esteriliza todos os excedentes, então o que ocorrerá é que precisará fazer menos leilões de compra e assim comprar menos, o que permitirá que atenue a elevação das reservas cambiais brasileiras e, naturalmente, aliviará o erário dos custos de carregamento.
Objetivamente, o foco é só de política monetária, nem mesmo o “zelo” pelo risco das empresas e bancos, argumento de fundo para a medida, se sustenta, visto que em volumes expressivos, os tomadores estarão sempre com o “hedge” feito.
A medida deverá ser eficaz para ajudar a conter a expansão do crédito ao consumidor, que continua aquecido.
Nos últimos 12 meses a expansão do crédito bancário foi da ordem de 21% e o BC deseja que esta expansão seja convergente a 13%, o que corresponde a uma forte retração, fato ainda não observado já que a curva de expansão continua em alta.
Não se descarta que, observado os efeitos práticos do IOF de 6,38%, o governo ainda possa ampliar mais os prazos de seu alcance.
Neste sentido, também, seria relevante que o governo reduzisse, ainda mais e bruscamente, os limites de posição “vendida” dos bancos, sem alcance do compulsório, fechando outro canal importantíssimo de captação de recursos de curto prazo, do qual se valem os bancos para tomar linhas externas de financiamento, e que irrigam também a liquidez e viabilizam operações nos mercados derivativos.
O BC e MF devem ser incisivos no fechamento das “brechas” que ficam para o sistema financeiro adicionar liquidez no mercado, indo contra a sua posição de buscar a convergência da inflação à meta através da contenção do crédito e queda do consumo.
Importante a vigilância precisa das autoridades monetárias sobre as relações causa-efeito destes novos fatos no mercado depois só o monitoramento permitirá obter evidências sobre a eficácia maior ou menor consequentes das medidas que vêm adotando, para fazer ajustes se necessários.
Seria importante, também, que as autoridades falassem menos sobre o que farão, pois repercutem no mercado e formam expectativas, e que fossem mais contundentes nas implementações.
O “confronto” entre o ponto de vista do governo, diferentes alternativas para conter a inflação, e do sistema financeiro, que aposta no juro, tende a continuar até que se tenha resultados efetivos das medidas mais recentes.
O viés da taxa de câmbio é de forte apreciação do real devido ao final do mês e a Ptax, tendo em vista que os “hedge funds” estão substantivamente “vendidos”, enquanto os bancos estão praticamente nivelados considerando as posições no mercado à vista e futuro.
Como também haverá o vencimento de “swaps cambiais reversos, além do cenário sugerindo supremacia dos “vendidos”, tudo leva a crer que a pressão baixista forte prevalecerá hoje e amanhã.
O Relatório de Inflação Trimestral não indica necessidade de elevação da taxa SELIC, e reduz a projeção do crescimento do PIB para 4% e IPCA de 5,6%, considerando US$ a R$ 1,65 e SELIC a 11,75%. O tom do relatório é otimista, o que parece não se alinhar com os analistas do sistema financeiro.