Muito mais do que as medidas que o governo tem adotado, seja de política monetária, seja mista atingindo o câmbio e a política monetária, etc., nos parece que o que mais pesou no mercado, neste momento, foi o “tom” dado pelo BC no seu…
Muito mais do que as medidas que o governo tem adotado, seja de política monetária, seja mista atingindo o câmbio e a política monetária, etc., nos parece que o que mais pesou no mercado, neste momento, foi o “tom” dado pelo BC no seu Relatório Trimestral de Inflação.
Uma sinalização de que a SELIC pode ficar onde está, em 11,75% aa., e que o preço do dólar focado pelo governo está dado em R$ 1,65, no mais serão medidas normativas prudenciais focando o crédito e o consumo, causou impactos.
O mercado de juros repercutiu nas taxas de curto prazo, mas continuou mostrando-se reticente ao manter as taxas longas elevadas, evidenciando falta de confiança na estratégia do governo para contenção das pressões inflacionárias.
Este é um ambiente que deve prevalecer “até que o dragão dê mostras de abatimento” para dar credibilidade à estratégia do governo.
Não se pode falar em ineficácia quanto às medidas adotadas até o momento, porém ficaram “janelas” abertas ainda irrigando a liquidez e o crédito, que acabam conspirando contra a estratégia de contenção do crédito estimulante do consumo, e que começaram a ser neutralizadas pelo governo.
O fluxo de investimentos em renda fixa repercutiu a imposição do IOF e recuou provavelmente de forma mais acentuada do que o governo pretendia, enquanto o fluxo para a Bovespa, mais por razões típicas de mercado, também não corresponde às expectativas estabelecidas para este ano.
O fluxo cambial positivo ocorrido até o momento decorreu diretamente dos ingressos de empréstimos externos de curto prazo, uma das “janelas” que ficaram abertas às empresas brasileiras, incluindo os bancos, para “driblar” o aperto na liquidez visando conter o consumo objetivado pelas medidas prudenciais de dezembro último.
O IOF de 6% + 0,38% estabelecido para os empréstimos até 360 dias foi pontual e busca neutralizar esta porta de entrada destes recursos. Se vai funcionar plenamente atingindo o objetivo, só a sequência vai evidenciar, mas nada impede que o governo, ávido por receitas como esta, volte a elevar a alíquota ou mesmo estender o prazo de alcance da tributação. Não nos parece correto tripudiar sobre eventual ineficácia antes de se obter evidência amostral.
O que resta ao BC/MF fazer?
Se a intenção é neutralizar os ingressos de empréstimos de curto prazo que irrigam a liquidez do sistema financeiro, urge que os limites de posições “vendidas” dos bancos no mercado de câmbio físico sejam mais drasticamente reduzidos do que os que vigorarão a partir do próximo dia 4 de abril.
As posições “vendidas” são, potencialmente, mais eficazes e mais rápidas para a captação de recursos de curto prazo no exterior por parte dos bancos, tendo os mesmos efeitos de aumentar a liquidez das instituições financeiras alavancando suas capacidades de conceder crédito, porém não causam os “ruídos” por não impactarem no fluxo cambial. Aliás, se originam com base num movimento de demanda que é atendida sem haver a disponibilidade de dólares em posição, o que viabiliza a captação externa pelos bancos para atender e, na ponta local, ficam com os reais encaixados.
E adicionalmente, as posições “vendidas” ainda estimulam a apreciação do real, desejada pelos bancos para minimizar os custos da captação externa envolvida, de vez que, obtendo uma variação cambial favorável não tem este custo e amortizam no todo ou em parte o custo da linha de financiamento que estejam utilizando.
Estimular a formação de posições “vendidas” pelos bancos foi a estratégia do BC no governo anterior, focando manter o real apreciado para conter pressões inflacionárias, enquanto os bancos, de sua parte, acabavam captando recursos a custos irrisórios no exterior.
Por isso, não concordamos que o real seja vítima de seu próprio sucesso. O real está onde a política do governo anterior o colocou para ser coadjuvante da política monetária visando contenção das pressões inflacionárias. Só que agora, não há contraponto para tirá-lo do ponto em que foi colocado, e a disparidade do juro interno em relação ao externo estimula “arbitragens” que o mantém inerte no ponto.
Portanto, está faltando agora o BC oficializar um novo corte, mais substantivo, nos limites de posições “vendidas” dos bancos autorizados a operar em câmbio, atingindo assim o objetivo de fechar um canal de liquidez para o sistema financeiro que estimula o crédito e, ainda, é indutor de apreciação do real.
Há uma semana já pontuávamos em nossas considerações que, ao final do mês, o real sofreria forte pressão de apreciação, pois os posicionamentos dos “players” proporcionava o fundamento para esta ocorrência, que vem se confirmando.
Os “hedge funds” estão fortemente “vendidos”, data base 30, no mercado futuro de dólar em US$ 7,6 Bi e no cupom cambial-DDI em US$ 8,9 Bi. Os bancos estão “vendidos” no mercado de câmbio físico em torno de US$ 8,8 Bi, data base 23 (a posição do BC 25 é D+2), inclusos US$ 820 MM de termo naquela data ainda “em ser”) e “comprados”, data base 30, no mercado futuro de dólar em US$ 3,5 Bi e no cupom cambial-DDI em US$ 6,7 Bi.
Aos “hedge funds” interessa um PTax com o real o mais apreciado possível, enquanto para os bancos no aspecto posição provavelmente estejam “nivelados”, porém há o vencimento dos estimulantes apreciadores do real “swaps cambiais reversos” da ordem de US$ 800,0 MM.
Este “derretimento” do preço do dólar, contudo, no nosso entendimento é pontual e não uma tendência, já que continuamos projetando a moeda americana flutuando com maior freqüência entre R$ 1,65 a R$ 1,67.
O fluxo cambial da semana finda em 25 (levantamento efetivo até 23) pelo critério de “câmbio liquidado” do BC evidenciou-se negativo, composto por negativos US$ 1,274 Bi no comercial e positivo US$ 63,0 MM no financeiro, resultando negativo em US$ 1,211 Bi. Porém, mesmo assim, o BC retirou do mercado US$ 516,0 MM com seus leilões. No mês, efetivo até 23, o fluxo cambial está positivo em US$ 10,517 Bi e o BC retirou US$ 7,621 Bi à vista e mais US$ 362 a termo já liquidados e ainda US$ 720,0 MM ainda “em ser”.
Portanto, ainda há o que o BC/MF fazer para conter a expansão da liquidez, fortalecendo assim a sua estratégia e dar suporte ao preço do dólar em R$ 1,65. A questão é adotar a medida faltante de forma severa, reduzindo os limites de posições “vendidas” no mercado físico de câmbio a um mínimo rigoroso.