Análise do Mercado – 29/08/2011

Ben Bernanke, certamente, “empurrou” as expectativas para a reunião do FOMC em setembro, com a inovação de 2 dias, 20-21, sugerindo pauta longa, mas ao que tudo indica fez declarações sobre algo que não terá condições de entregar, já que a…

Ben Bernanke, certamente, “empurrou” as expectativas para a reunião do FOMC em setembro, com a inovação de 2 dias, 20-21, sugerindo pauta longa, mas ao que tudo indica fez declarações sobre algo que não terá condições de entregar, já que a reabilitação da economia americana está amplamente dependente da mudança da atitude dos bancos na concessão do crédito; das empresas no sentido de investir; e da população americana na retomada do consumo.

Causa? Perda da confiança, incertezas sobre as perspectivas, e, para este tipo de problema o FED não tem bom receituário.  A confiança do consumidor americano, segundo último dado da Universidade de Michigan, caiu a 55,7 pontos em agosto, 12,7% menor do que julho, e 19,2% em relação a agosto de 2010.

Declarações do tipo “A comissão vai continuar sua avaliação e está preparada para empregar todas as ferramentas para promover forte recuperação” ou “os fundamentos do crescimento dos Estados Unidos não parecem ter sido alterados de modo permanente pelos choques dos últimos 4 anos”, soam como sofismas, que a rigor não deveriam levar os mercados financeiros a construírem “cenários de esperança”, mas o fato é que a opção é “conviver” com os problemas e não enfrentar a realidade presente de tendência de recessão, desemprego alto e com forte resistência à reversão, consumo inibido, confiança do consumidor cadente e, ainda e principalmente, que todo o esforço governamental não logrou sucesso

Na realidade a economia americana está precisando de substantiva mudança de atitude do sistema financeiro na geração de crédito, das empresas quanto aos investimentos e da sua sociedade que precisa retomar o consumo, e, a partir deste conjunto de posturas, ocorrer a geração do emprego e da renda.

Há pouco com que o FED possa contribuir para a superação do estado atual, visto que já inundou o sistema financeiro com recursos trilionários, que acabaram revertidos pelo sistema financeiros como depósitos no próprio FED.

É possível que conceda redução de tributos ao consumidor, motivando-o a aumentar os gastos e adotar medidas desincentivando a aplicação de recursos por parte do sistema financeiro no FED, ao invés de emprestá-los, mas isto é muito pouco, é o que resta ao FED.

Hoje saiu um dado promissor, caso venha a se confirmar nas próximas aferições. O gasto do consumidor americano cresceu 0,8% em julho após queda de 0,1% em junho, acima das projeções de 0,5%. Por outro lado, a renda pessoal disponível subiu 0,3%, mas caiu 0,1% quando ajustada para inflação, o primeiro declínio desde setembro.

O dado indica retorno da dinâmica da sociedade americana de consumir mais e poupar menos, e volume de poupança caiu de US$ 638,6 Bi em junho para US$ 582,8 Bi em julho.

Olhando de lado para a realidade, e focando a “esperança” por algo improvável, o mercado financeiro americano se anima e contagia os demais globais.

As bolsas americanas operam em forte alta; o dólar cai frente ao Euro cotado a US$ 1,4540; petróleo em alta a US$ 86,84 o barril na Nymex; ouro estável com viés de baixa a US$ 1,792,40 a onça troy e os T-Bills em queda abrindo a curva de juro “yeld” para 10 anos a 2,26% aa.

No Brasil, final do mês com COPOM, e, acentuando-se a quebra do consenso de que a taxa SELIC de 12,50% será mantida a despeito da curva da taxa de juro do mercado futuro da BM&FBovespa indicar possibilidade de queda. Pode haver surpresa.

O governo deve anunciar medidas de aperto fiscal, com o orçamento de 2012 estabelecendo limites de gastos de custeio e reajustes do funcionalismo, um passo seguro e sugestivo de que o COPOM possa aproveitar os indicativos do mercado futuro de juro e sancionar um corte na SELIC indo contra os prognósticos da maioria dos economistas, demonstrando assim mais confiança sobre as medidas que vêm adotando e nos efeitos da crise externa sobre as pressões inflacionárias presentes.

No mercado de câmbio os “hedge funds” estão com uma desconfortável posição “vendida” líquida de US$ 14,6 Bi no mercado de derivativos (cupom cambial-DDI), já que a tendência do juro é de queda e o dólar apresenta resistência para ceder preço, até porque agora menos vulnerável a especulação típica de final do mês dada a nova sistemática de apuração do PTax definida pelo BC desde julho.

Ocorre o vencimento de 37.800 contratos de “swaps cambiais reversos” equivalentes a US$ 1,89 Bi, e o BC realiza sondagem para oferta para rolagem, mas deve estar firme em não aceitar as condições do mercado.

A liquidez do mercado de derivativos (cupom cambial-DDI) está com os bancos que detém posição “comprada” líquida de US$ 10,5 Bi e naturalmente tenderão a cobrar caro para proporcionar a liquidez que está faltando ao mercado de derivativos.

Acreditamos que cada vez mais está ficando evidente que não é um bom momento para especular com o real, tendo em vista que a especulação perdeu espaço e facilidade no nosso mercado de derivativos e o cenário externo coloca o real numa situação que não sugere nenhuma especulação nem para mais e nem para menos, sendo seu preço decorrente efetivamente do comportamento do fluxo cambial presente.

O Boletim FOCUS continua evidenciando que o mercado financeiro e seus analistas não estão se alinhando com as perspectivas de queda das pressões de inflação que o governo comunga, pois revisam para mais o IPCA para os próximos 12 meses de 5,43% para 5,47% e para este ano de 2011 de 6,28% para 6,31%.

Embora sinalize percepção de desaceleração do PIB de 3,84% para 3,79%, ainda alta para o cenário prospectivo, não está sensibilizando ainda a perspectiva de queda nos IED´s projetados em US$ 55,0 Bi e nem no aumento do déficit em transações correntes reduzido de US$ 57,97 Bi para US$ 57,93 Bi. O dólar e a SELIC foram mantidas inalteradas em R$ 1,60 e 12,50% aa. respectivamente.

 

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