Ben Bernanke falou em Jackson Hole, Wyoming, e como salientamos ontem nada de novo foi anunciado, ocorrendo a repetição do que tem sido dito e para decepção dos que esperavam nova rodada de benesses, não sinalizou medidas, limitando-se a…
Ben Bernanke falou em Jackson Hole, Wyoming, e como salientamos ontem nada de novo foi anunciado, ocorrendo a repetição do que tem sido dito e para decepção dos que esperavam nova rodada de benesses, não sinalizou medidas, limitando-se a afirmar que tem instrumentos para buscar reanimar a economia, e, de forma oportuna “jogou” parte do problema para que as soluções sejam elaboradas pelos políticos.
A falta de confiança inibe o fomento do crédito por parte dos bancos e a demanda fraca inibe os investimentos por parte das empresas, que acaba afetando a geração de empregos e renda.
Continuamos entendendo que o FED pode reduzir ao extremo de “zero” o juro, o que seria negativo por existir inflação, e promover, numa nova tentativa, redução de impostos para os consumidores visando motivá-los ao consumo, mas com o risco de que estes aumentem a poupança em detrimento do consumo, anulando a estratégia.
A decepção, se assim podemos nominar, com a ausência de novidades no discurso de Ben Bernanke, coincidindo com a divulgação do dado revisado para menor do crescimento do PIB americano no 2º trimestre, de 1,3% para 1,0% ante projeção de 1,1%, provocou outra rodada de “sell off” rápida nas bolsas americanas com contágio às demais, para em seguida retomar o perfil volátil, como que dando “um tempo para reflexão” evitando assim precipitações.
Contudo, o comportamento das bolsas de forma geral está bastante distante de fundamentos consistentes, havendo muitos movimentos com motivações puramente especulativas, que geram altas e baixas inexplicáveis.
O novo “mote” para manter “acessa a chama” é de que as medidas do FED poderão vir na reunião de setembro próximo, agora em 2 dias. O FED protela e os mercados “acreditam” que algo que não veio virá. Assim, segue o faz de conta…
Como reação natural, o petróleo deve confirmar a tendência de baixa, enquanto o ouro deve retomar o movimento de alta. O esperado é que os T-Bills voltem a valorizar-se, com alguma volatilidade mas na ponta com viés de valorização, e, com isto fechando as curvas de juros “yeld”.
Os gastos dos consumidores cresceram tão somente 0,4% no 2º trimestre, ficou melhor do que as projeções de 0,1%, mas de toda forma marca uma desaceleração após a alta de 2,1% no 1º trimestre deste ano. Afinal, estatisticamente o consumo interno americano responde por 70% do PIB do país.
Cresce a convicção de que a desaceleração da economia americana vai perdurar por um tempo maior, não afastando a passagem por um novo período de recessão, algo bastante factível também na economia Europeia e japonesa.
Como o mundo global não permite que nenhum país seja uma ilha, a recessão pode ser global, com os países emergentes crescendo, porém crescendo menos do que as projeções, que devem ter revisões declinantes com bastante frequência.
Por outro lado, é importante considerar também que a inflação está aquecida, em especial nos países emergentes, mas de certa forma em todas as economias.
No Brasil, o governo, a despeito da fala recente do Ministro Mantega, já admite crescimento do PIB abaixo de 4%, algo como 3,7%, mas mesmo assim entendemos que precisará ser objeto de novas revisões, pois já trabalhávamos com a projeção de 3,5%, e pode ser que com os reflexos mais incisivos da paralisia externa, tenda a ficar entre 3% a 3,5%.
Portanto, é totalmente recomendável que o governo central que acumula superávit de R$ 66,9 Bi neste ano até julho, que corresponde a 81,8% da meta fiscal para este ano, tenha a sensatez na condução dos gastos, apertando bem a política fiscal para formar um “colchão” adicional à meta. Se observarmos os números é possível verificar que não houve nenhum grande esforço para o resultado, pois as receitas no período cresceram 22%, muitíssimo acima do ritmo de crescimento da economia, e as despesas cresceram 11%.
O país precisa apertar bem a política fiscal, para que possa de forma segura reduzir o juro, colocando em parâmetros compatíveis com o conceito de risco que desfruta no mercado global, e mais, possa poupar recursos para investir na carente infraestrutura do país viabilizando o crescimento sustentável.
E na ponta, provocar a contração da espiral inflacionária.
Com juro mais baixo, tudo melhorará para o governo, para o consumidor e teremos menos pressão sobre o câmbio, principalmente especulativa.
É preciso que o governo, a exemplo do que está fazendo com a projeção de crescimento do PIB, tenha uma visão mais cética quanto ao otimismo das projeções de IED´s que poderão ser afetados pelo cenário externo, e, da mesma forma poderá ser agravado o déficit em transações correntes.
No câmbio não identificamos preocupações, como temos salientado o preço está sendo formado a partir do fluxo cambial, e, não tende em perspectiva a afastar-se muito e de forma sustentável do eixo de R$ 1,60, pois há um excelente “colchão de liquidez” representado pelo estoque de dólares oriundos de exportações liquidadas represados no exterior, muito superior ao volume de importações vincendas.
Contudo, é inegável que podemos ter uma pressão pontual sobre o preço da moeda americana como contágio do mercado de derivativos onde os “hedge funds” permanecem de forma quase inalterada pela falta de liquidez com uma exposição líquida vendida de US$ 14,6 Bi em cupom cambial, que cada vez tende a ficar mais desconfortável com o dólar com viés de alta e o juro com viés de baixa, e, ainda, a liquidez esta em poder dos bancos, que estão comprados.
Devemos ter um final do mês muito interessante para ser observado na BM&FBovespa.